Jul 23, 2014 02:15
Eu olhei pro vento. Ele passou sussurrando alguma coisa no meu ouvido. Sussurrando um som, uma voz. Não sei. Era conhecido, uma sucessão de coisas familiares que entraram ventando pelo meu ouvido, se enrolaram pelo meu cérebro dando voltas cortantes, fazendo ele se contrair de dor. As lágrimas não puderam ser seguradas, cairam rápidas pelo rosto que gelava, varrido pelo vento, que não dava conta de secar todas elas. Não consegui entender porque algumas coisas vão e voltam, porque lembranças gostam de te atormentar nessas horas mais desprevinidas. Sentia meus olhos se tornando opacos, secos, cobertos de vento frio soprando minhas pálpebras com violência. Deixei-me cair sobre um mato alto, deixei minha cabeça pender, deixei meu corpo se comportar como quisesse. O sol era fraco, banhava meu rosto sem cor ou mesmo temperatura, tão impotente, tão sem sentido. Tinha uma música tocando bem longe, agora sabia qual era. O vento trazia, de longe, fraquinha mas poderosa, baixinha mas pontuda, perfurante, enfiando-se as pontadas na cabeça que já latejava, mas não mexia. Podia lembrar de rostos, de diálogos, de situações coloridas, tão desconectadas de todo aquele cinza, de todo aquele frio. Fechei os olhos. Apertei a grama sob minhas mãos com força, senti os pedacinhos de folha enfiando-se embaixo das minhas unhas, o cheiro da terra arrancada da raiz, o barulho baixinho de estalar. Senti meu corpo tremer, minha respiração falhar, minha garganta fechar. Tudo era pânico, tudo era imensamente doloroso.
Respirei. O vento nos pulmões gelava minha alma, congelava meus sentidos. As lágrimas não paravam. Queria gritar, mas não podia, não devia, sei lá. Sentei. Esfreguei a cara, tirei as folhas dos cabelos. Eles caiam úmidos na minha testa, colados, gelados. Afastei eles pra trás e vi que estava sozinho. Que todo o som tinha ido embora, acabado. Que o vento tinha acabado, que o dia tinha acabado. Que as coisas e as pessoas acabam, e esse era o fim de tudo.
Deitei de novo e tornei a pensar em tudo aquilo e sorri da minha dor. Ela era só minha, vinha com o vento pra me atormentar, a me ensinar, a me querer. A me lembrar que nós dois precisávamos um do outro, as vezes. E isso sempre ajuda.