Sep 22, 2007 21:41
Assim Termina Uma História de Amor & Paixão (Um Romance em 69 Atos) e Começa uma História de Sexo, Luxúria e Poder
-Publicados anteriormente os Capítulos I e II
CONTINUAÇÃO
Capítulo III
Era o ano de 1989. O salão do Palácio de Karnak, em cantos arredondados, ovalados com aquelas pedras de mármore, dispersas de forma exaustiva na decoração...
" - Formação de Sentido!" Diz em voz alta o Sr. Secretário de Segurança Pública...
Ivan não pode se conter... Ao cumprir a ordem, os seus pensamentos retroagem um ano e meio antes daquela cerimônia...
O treinamento para se formar um Policial de Elite fora duro... Um suplício... Choques, frio, dor... Até mesmo humilhação, para pular logo outros predicativos indesejáveis na própria lembrança...
Seus pensamentos são cortados, ríspidos, pela indagação provocadora do Sr. Secretário de Segurança:
" - Então, Soldado: Cê tá pronto para MATAR!"
"- Sim, Senhor! Pronto para Matar!"
Era a senha para a entrada naquele outro mundo... Polícia de Elite... Salário triplicado...
Deixaria para o passado aquele salário miserável que perseguia os agentes policiais sem formação especial, e ao qual pertencera Ivan nos últimos 8 anos, desde que entrara para a Polícia Civil.
Mas agora era diferente. "Um Policial de Elite", pensava insistente o raciocínio de Ivan.
Treinamento, coragem, poder de fogo... Fruto de um duro treinamento militar. Eram as incongruências do Estado (O criador e a criatura): Treinamento Militar para um servidor civil... Afinal era Ivan, não um policial militar, mas um agente policial de Polícia Civil.
Mas estas 'incongruências" sequer passavam pelos pensamentos de Ivan. Sequer sabia ele o significado ou a qualidade do termo 'incongruência'. Nem mesmo hoje o sabe. Oito anos e meio naquele presídio, recolhido e humilhado em cela dita especial... mas com humilhações e desesperanças que emprestam ao predicativo 'fétido' um melhor significado de vida para aqueles aposentos e aqueles últimos oito anos e meio.
De fato. Ainda hoje Ivan imagina que estava apenas cumprindo ordem.
Afinal, no treinamento não lhe fora ensinado nem exigido que pensasse ou questionasse ordem superior. Pelo contrário. Estava naquele palácio recebendo uma condecoração especial pelo mesmo motivo que agora estava numa cela de um presídio de segurança máxima. Obediência cega às ordens de oficiais superiores.
E ela era um policial de elite. Um 'Rambo' na rapidez e efici~encia com que obedece a uma ordem superior.
Aquela era a sua qualidade... A sua arte. O objeto-fim de um policial de elite: AGIR ao menor comando. Um mero gesto: Uma ordem.
Vários gritos, então: "- Parado... Polícia... Alto!"
Um dos meliantes, com uma espingarda na mão, desata a correr...
" - Atira! Atira!!! São os bandidos... Estão armados.
Naquela escuridão, no meio da mata`, por volta da meia-noite... Tiros.
Ivan reagiu à altura de seu treinamento especial: Obedeceu cegamente: Atirou também.
Afinal, bandido bom é bandido morto!
O pensamento de Ivan retorna novamente à cerimônia de sua formatura, no Comando Especial da Polícia, no Palácio do Governador, autoridades e 'excelências' por todos os lados.
A pergunta do Sr. Secretário ainda ecoa nos seus pensamentos, mesmo após tomar alguns drinques naquela festa palaciana, os pensamentos ecoavam a resposta, em uníssono, que ele e seus companheiros bradaram às Autoridades ali presentes.
Eram os Cadetes em número de quinze. Cadetes civis especiais. Ivan era um deles. Seus familiares exultavam os ventos. Ivan também sentia o peito não caber na camisa.
Enfim seria uma autoridade do alto escalão.
Seus pensamentos resvalam de novo. Os tiros na mata... Naquele dia fatítico...
Se embaralham de novo: Os tiros na praça do palácio... Na condecoração de formatura...
E voltam... de novo: Os tiros, no pátio do Pavilhão... Agentes Penitenciários e a Polícia Militar, adentrando o recinto dos custodiados para uma vistoria de rotina... Tiros, gritos, humilhações...
Os joelhos de Ivan, assim como o de diversos outros custodiados deixam perceber calos (de tantas preces ajoelhadas, em rezas e orações... Ouvidas... Ou não... Ah! Os céus... Meu Deus... Os céus!)
Ivan... Ora uma Autoridade... Agora um mero animal acuado... Ainda rude e forte... Porém dominado pelo medo... O temor... Uma vida perdida naquelas quatro paredes daquele pequeno pátio que não media mais de cinquenta ou cem metros de área de lazer.
Piores muitos outros. A grande maioria, na verdade. Cerca de mil prisioneiros sofriam as agrúrias de um tratamento degradante, de fome e de humilhações e torturas físicas e psíquicas. Ivan e cerca de alguns outros trinta presidiários, porem, recebiam um tratamento diferenciado. Apartamentos duplos ao invés de celas e chão de cimento. Humilhados diariamente... Mas diferenciado. Apenas um ou dois com curso superior. Os demais, como Ivan, por terem sido agentes policiais anteriormente... Outros por questões de segurança interna, para não 'comandarem' os demais presos em rebeliões ou outros atos.
Ivan não percebe, mas aqueles oito anos e meio retiraram de sua mente os últimos resquícios lógico-temporais. Às vezes troca, nas lembranças, os dias que se vão passando. Quatro dias ou quatro semanas passam com a mesma lamuriante lentidão. Não se sabe o que é um ou o outro. É um mal contagiante que se espalha em todos aqueles que estão confinados por longo período. A perdição da esperança.
Outro dia lhe mandei uma mensagem. Dizia: "Tenha Fé e Esperança. Tua cruz começa a ficar mais leve."
Foi 'censurada' pois enviada por portador sem qualificações. Fui entregar, depois, pessoalmente. As prerrogativas de uma profissão exemplar garantiram a entrada do mesmo texto, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
FIM DO CAÍTULO IV
CAPÍTULO V - TO BE CONTINUED