Pois bem, pra quem não sabe, ano passado eu bati o carro. Assim, meio que bateram no meu carro. Meio que atropelaram o meu carro... com uma moto! Prestamos o socorro, acionamos o seguro, que pagou os dois consertos e vinte dias depois tudo deveria estar resolvido.
... ledo engano. O motoboy começou a nos ligar enchendo o saco por que ele teve que alugar moto (e pq não usou a moto reserva oferecida pela seguradora?!), por que o capacete quebrou e não foi consertado (f*da-se o seu, ô) e pq a seguradora não pagou o conserto das rodas da moto. Mas quando eu digo encher o saco, eu quero dizer REALMENTE encher o saco. O cara ligava umas quinze vezes ao dia, começou muito educado (apesar de que eu só soube que ele nem tinha se machucado e ficou só 1 hora no hospital para observação pq eu mesma liguei pro hospital na manhã seguinte) e foi sendo grosseiro conosco.
Detalhe que ele só tentava o golpe de ficar cobrando e se lamuriando comigo. Deve ser pq ele achou que eu, por ser mulher, seria mais sensível, ficaria com dózinha ou seria bozinha ou otária mesmo. Mal ele sabe que a mente criminosa e maquiavélica desse casamento sou eu. Se fosse pelo Beto, a gente tinha pagado tudo mesmo.
Ele só sumiu da nossa vida (por um tempo) quando eu atendí o telefone do Beto com uma voz mais grossa e ví ele ameaçando o Beto por minha causa. "Não temos filho desse tamanho pra criar, se vc tem algum problema, liga pra nossa seguradora, ela é que vai tratar tudo contigo. O que for devido ao acidente ela vai resolver". Mais uma ameaça... e tudo tranquilo.
Passou o casamento, passou o Natal, passou o Ano Novo, passou meu aniversário, passou Carnaval... e lá pro começo de março a minha avó recebe uma correspondência de um oficial de justiça e abre. Foi um Deus nos Acuda. Até explicar que focinho de porco não é tomada... Pois então. O motoqueiro estava nos processando, pedindo um valor de + ou - 2.500 reais, por aluguel da moto reserva (20 dias, 1000 reais), conserto das peças (mais 1000 reais), reboque, taxas (uns 250) e manutenção (uns 250 tb). Bom, como eu disse no começo, isso era assunto da seguradora. Vestí a carapuça de coitadinha e liguei lá. Claro que eles iam assumir o caso e resolver.
E lá fomos o entreposto da seguradora, eu, Betão, a Advogada de nós três e o fulano pra uma Audiência de Conciliação (ousejalácomoforchamadaouescrita). Grosseiro, o cara não aceitou o valor de mil e pouco que a seguradora ofereceu, referente ao aluguel e a uma das taxas.
Ah, eu contei que no meio daquela papelada que minha avó recebeu tinha uma parte falando que o Beto tratou ele mal?!
Bom, continuando... aí como não entramos em consenso (e ele queria matar a gente) foi marcado uma Audiência com a Dra. Juíza pra mto tempo depois, que foi hoje, quase três meses depois. E lá fomos nós dois de novo, exercitar nosso zen-budismo e entoar mantras de concentração no mais puro silêncio.
Só que a audiência foi... no mínimo emocionante.
Não entrando em muitos detalhes, mais para não estender demais e nem dar na cara a nossa empolgação com tudo o que aconteceu... bom, chegamos lá, não vimos o dito-cujo, os dois advogados chegaram, a juíza chamou, o dito-cujo brotou do chão e pams. Não, ele não levou advogado como eles tinham instruido, e por isso chamaram um da Defensoria Pública. Não, ele não apresentou os nomes das testemunhas há 10 dias e uma delas era menor de idade e irmã, ou seja, nao podia nem estar lá. Blz. Enquanto a advogada não chegava, a juiza deu o "Toco nº1".
Que a moto não estava com os tributos pagos, que se estava sem licenciamento ela não podia rodar, e se não deveria estar na rua, e logo, o acidente não ia ter acontecido. [minha cara: @_@] Que ele era irresponsável, que e se um dos dois tivesse machucado?! E que no fim do ano estava chovendo muito e não deveria ter pessoas dirigindo inconsequentemente, correndo e com o carro (a moto, no caso) em péssimas condições de estado. [minha cara: @_@²]
Aí chegou a advogada. A Juiza explico o acidente, o caso e a proposta da seguradora. Ela ficou brava (na verdade, ela era desesperada, não sei quando ela ficava brava ou quando era ela calma) e os advogados contaram o pequeno detalhe que ele recusou a moto reserva e que a moto dele tinha sido consertada já. *momento de pausa constrangedor, dava pra ouvir as engrenagens do cérebro dela trabalhando* "Ok, entendí, Excellentíssima, posso conversar com ele lá fora?"
Bom, se a intenção era ser discreta, que a gente não ouvisse e tals, foi em vão. Escutamos tudo. Ela conversou com ele aos berros, quase. Só faltou ela chamar ele de burro. Que a juíza não vai dar o caso ao seu favor, que e se ela colocar contra você depois de ouvir o casal (nós), que vc vai ter que pagar, que cala a boca pq vc não é exatamente a vítima do mundo, que a moto estava sem documentação, que se eles prestaram socorro e ele não ficou inválido, não tinha mto do que reclamar, que ele não era ninguém pra ser 'desacatado' como ele disse que eles (nós) fizemos, que não tinha sentido um processo por danos morais (ORO?!), que um monte. Nussa... foi o "Toco nº2".
Aí ele entrou e disse que ia aceitar a proposta da seguradora. A juíza falou umas coisas (e nós lá, uma coisa linda de Deus, tão em choque que nem respiravamos) e no fim: "vc tem algo a acrescentar, Dito-Cujo?" Ele deu aquela respirada pra começar e a advogada cortou a frase no meio e foi falando: "PSS. Não, ele não tem nada a acrescentar, Doutora.". Aí a juíza repetiu o que ela disse no começo com a advogada dele balançando a cabeça e completando com alguma linhas. "Toco nº3".
Agora sim, acabou. Saímos estupefatos, rindo, mais do que realizados, depois de tanta dor de cabeça, só de ter ouvido metade da confusão já teria valido a pena.
Resumo da história: se vc estiver 100% de certeza que vc estava correto, vai em frente. Se vc não tem tanta certeza e nem estava tão certo assim na história toda, não seja tão arrogante, blz?