Até que a tempestade passe

Oct 30, 2012 17:49





Sandy, a tempestade perfeita que paralisa a América, é já descrita como o pior furacão de sempre. A janela mediática abre para o olho do furacão e vemos ou escutamos a descrição de milhões de casas sem luz, vários estados paralisados, a campanha eleitoral mais importante do mundo varrida do mapa, a desolação de cidades fantasma, Wall Street encerrada pela primeira vez desde o 11 de setembro .
O Liberation encontrou entretanto no site norte-americano Buzzfeed uma recolha daquilo a que chama "os pequenos anúncios amorosos para a passagem do furacão".
Milhares de norte-americanos abandonam as zonas costeiras ou trancam-se em casa barricando o medo. E isso explica que o Liberation dê atenção aos que se mostram mais preocupados em acender uma fogueira do que em procurar abrigo. São aqueles para quem, explica o jornal, "a tempestade tropical é um bom pretexto para seduzir". Outros terão, porventura, aproveitado estes dias tormentosos para ler, finalmente, o Tufão ou Lord Jim. De algum modo, também os pequenos anunciantes de um desejo de espuma e vento, tentam responder à pergunta de Conrad: "Como podemos saber de que é feita uma tempestade antes de a termos sobre a nossa própria cabeça?".
Leio do Liberation o texto de alguns pequenos anúncios dos semeadores de vento. Este: "Sou um homem branco celibatário de 34 anos. Procuro alguém com quem passar a tempestade. Tenho vinho e cerveja suficientes em minha casa". Ou este: "Até que ponto seria excitante beijarmo-nos durante a tempestade? Eu penso que poderia ser enormemente excitante. Se estás de acordo, envia-me um mail e veremos o que se pode fazer".
O Liberation ilustra a notícia com um quadro e uma canção. O quadro é "O viajante sobre o mar de névoa", do grande paisagista romântico Caspar David Friedrich. Em rodapé, podemos aceder a um video-clip de Stephanie do Mónaco que canta, em francês: "Como um furacão que passava por mim, o amor tudo levou".
Fico a pensar o que seria uma página de pequenos anúncios amorosos para enfrentar a crise, essa grande borrasca. Como uma tempestade lenta, ela não aparenta os sinais tão empolgantes de devastação, embora deixe muitos corações desabrigados. Afinal, como lembram os versos de John Donne, o pastor anglicano que ficou célebre pela poesia, tantas vezes de uma vibrante sensualidade, " o mar é tão profundo na calmaria como na tempestade".
sinais.

cores dos dias, cores de escrita

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