public love

Oct 27, 2004 20:47

O meu prédio é um sistema interessante. Algumas pessoas vejo com grande frequência, outras só anos mais tarde soube que partilhávamos o mesmo andar. Muitas pessoas passam pela zona onde moro mas a maioria nunca volto a ver. De onde vêm todas estas pessoas? Porque será que a maioria raramente reencontro?

Vou nos transportes e observo cada cara. Caras de oblívio, caras de peso de alma, caras sem cara... Em cada uma milhentos pensamentos inacessíveis.

"Terei deixado o gás ligado?"

Minúncias de gestos traem esboços de personalidade. Caricaturo os mais belos semblante, procuro neles histórias futuras.

Observo um sorriso e pergunto-me, alguma vez o voltarei a ver? Dois anos depois, meia vida esquecida, heis que ele reaparece, e eu indiferente.

Quantos momentos terei eu partilhado com estes estranhos? Talvez sigamos vidas paralelas sem saber. Observo uma jovem bonita e a dúvida impõe-se -- irá ela fazer parte do meu futuro?

Estando longe de ser inverosímil, sei que um dia hei de encontrar uma rapariga especial. Mas... onde estará ela neste momento? Quem sabe entre estes passageiros. Ou talvez num país distante.

Quantas vezes me terei cruzado com ela sem saber? Deitado na minha cama, um dia, talvez tenha sonhado em dar face a essa personagem, enquanto ela, no exacto momento, pensava em tornar a sua vida mais completa.

Que tenhamos trocado vinte encontrões, metade sem pedir desculpa, sem nunca o vir a saber. Onde estiveste tu todo este tempo, meu amor? - pergunto ingenuamente.

Ainda sem cara, despejo em ti todos os meus sonhos, sem saber se os desejas partilhar. Quem és tu? Por que motivos te irei um dia amar?
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