cigarro de pano

Aug 09, 2006 19:45

Ele vinha andando a pé pela cidade deserta, a vida deserta que se anunciava no espaço, tinha um som inconfundível. Ele se aproximava caubói acendendo seu cigarro de palha com o galho queimado que jazia no chão.
Os olhos não tinham nenhuma expressão, eram retratos satíricos de uma história que não existia mais. A fumaça negra já não se expressava com tanta força. Ainda doía aos olhos do poeta com a permanência de um retrato em branco e preto cravado em sua pele.
Avistou de longe um corpo pequeno sentado na paisagem escura, o vestido era branco, e então o coração. Ele caminhava em sua direção fixamente, enquanto os vestígios de uma vida alegre de outrora anunciavam em uma primeira chama o grito e o ultimo suspiro. mulheres chorosas não ensaiavam mais a vida escondida atras da cortina, poetas não mais resmungavam o enjôo burguês, bêbados pairavam como histórias engraçadas no lugar de um choro que sufocou. cartas de amor, lagrimas e serenatas de uma nota o sobrevoavam. Ele seguia apático pela paisagem negra, via a frente um vestido branco, um corpo pequeno, um resíduo de amor que na rua negra, permanecia vivo.
O corpo sujo do cowboy se aproximava predador do longo vestido, os olhos se desencontravam no instante escuro. Ela via a sombra, ele via o tecido branco que formava um desenho sujo na rua delicada de outrora. O sentimento sujo. O corpo limpo, nenhuma lagrima, a vida sem saudosismo. As cartas cheias de sentimentos que a pouco fugiam, cortavam o ar e os sonhos suspensos no desespero da tempestade, agora se despedaçavam em tempestade e em tempestade dançavam.
Na rua ainda mais escura e ofuscada no seu sujo vestido a menina e o cowboy branco e sua sombra, flutuaram no ar e se buscaram. Procuravam os olhos mas se amaram antes de encontra-los. por que um dia encontrariam os rostos perdidos na poeira. Se amaram, só por saber que em algum lugar a íris se anunciava sem significados herdados.

O vestido branco desenhava o ar, mas o caubói não via. as mãos se tocaram...
elas não podiam se identificar, se tatearam mas não davam sons aos toques. mesmo assim os dedos se encolheram na poeira. e se afastaram

esse toque mínimo, expressão mínima de existência

deixou

na nuvem de poeira, e todos os seus anos de desenlace

um desejo desprendido do tempo
de ficar procurando sensações
(sem nunca ter a ambição de espreita-las)

histórias que voam

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