Barcelos não é Barcelona

Apr 03, 2010 01:19



Aqui não há galos. Ainda não os vi. No tecto do meu quarto há pegadas descalças, vestígios de Alta-mira, de sexo antigo, ponho-me a pensar nas posições dos autores, e espalho um sorriso. Barcelona deixou de ter emissão de TV analógica. As parabólicas começam a proliferar nos telhados. Os pombos, acompanham o meu caminho. Estou sentado no parque e os pombos vêm beber água à fonte. Chegam duas velhotas a rastejar que se sentam a 6 passos. Os pombos fogem. No parque brincam duas crianças e oiço as histórias que contam uma à outra. Uma é francesa, a outra não consigo perceber. Fingem ser cavalos e relincham. Há um cuco, que canta aqui perto, desta fonte antiga, com relevos de homens gastos a lutar pela água. As velhotas levantam-se no seu passo arrastado e caminham mais um pouco. Decido provar a água, o gelado deixou-me a boca seca. Os pombos voltam, não têm medo dos cães que se aproximam. Um tem um circulo negro à volta do olho, parece tirado de uma banda desenhada. Os cães na Catalunha são muito bem educados.

Estar ao pé de uma fonte, é uma fonte de acontecimentos. Estes pombos parecem gostar do narrador. Estão parados a observar-me. Barcelona de dia é magnifica vista aqui do parque em semana santa. Já há borboletas, das castanhas. Reparo agora, que não é para mim que os pombos olham mas para duas pombas pousadas numa árvore, por cima de mim. Tal como os pombos, de noite esta cidade torna-se um pombal gigante.
Previous post Next post
Up