Apr 22, 2008 17:21
Dizem que os segredos do corpo de uma mulher são tantos, que se leva uma vida toda para desvendá-los. Eu acredito nessa teoria e, como quem desliza sobre a pele suave da noite, eu caminho pelas ruas, cigarro aceso, no centro de São Paulo. Rumo a um pequeno bar, onde combinamos nos encontrar.
Entro no ambiente e te avisto em meio a fumaça dos cigarros. Taça de bourbon na mão, o vestido preto te cobrindo o corpo, um par de pequenos sapatos vemelhos nos pés. Parecendo cena de filme europeu, trocamos o primeiro olhar. Um sorriso delicado nos seus lábios e um gole na taça.
A sociedade força-nos a reprimir o instinto libertário em nossos corações, nos dão um senso destrutivo de propriedade que surge em todos os momentos da vida, inclusive e, principalmente, nos relacionamentos. Mas contigo sou diferente, sinto a liberdade pulsar ao te ver caminhar em minha direção. Nos beijamos e provo seu hálito doce, provo sua pele e seu perfume. Chet Baker canta. Eu peço um uísque.
O bar é decorado com objetos antigos tendo, nos fundo, uma lojinha de discos raros. A iluminação baixa garante o toque final no ambiente intimista. bebemos nossos drinks envoltos em conversas e tragos longos de cigarro. O jazz continua tocando, eu levanto e te convido para dançar. Corpos unidos e a noite nos conduzindo.
Danças, drinks, horas e beijos, tudo passa muito rápido e a manhã se avizinha. Pago nossas contas no bar e você se zange, como de costume. Te acompanho até o táxi, onde nos despedimos entre beijos e olhares carregados em si de significado. Os cristãos nos chamariam de pecadores. Eu não sei o que somos, apenas anseio por liberdade e para que sejamos espíritos livres.
O carro parte, e minha última visão tua é falando ao celular, antes de desaparecer na curva. Atravesso a Consolação, sentido Anhangabaú, acendo um cigarro. Uma viatura policial cruza à minha frente, acelerando entre as primeiras luzes do dia.
Dizem que os segredos e pecados da cidade são tantos, que nem deus sabe todos. Eu sou um deles.