Medo é uma questão que tem me tomado o interesse. Por acaso, esses dias vi uma reportagem sobre um novo filme bastante comentado, polêmico e dúbio chamado Filmefobia.
Filmefobia é um documentário sobre fobias e a reação das pessoas quando submetidas às mesmas. Na verdade é making of feito pelo diretor Kiko Goifman do que seria a tentativa de um documentário inicialmente pensado pelo diretor Jean-Claude Bernardet. O documentário em si nunca foi concluído. O filme, por causa disso, foi bem falho no conceito de informações teóricas, mas em minha opinião foi bastante impactante para pessoas que não possuem real noção do quanto um medo pode realmente abranger. E mesmo para aquelas que, como eu, sabiam da gravidade que isso pode levar, vê-lo assim nu e cru é bastante perturbador. Ele mostra situações extremas de pessoas fóbicas tendo que enfrentar esses medos sem poderem fugir dos mesmos, e suas reações. Como o diretor do filme explica, o filme é uma busca incessantemente a única e verdadeira imagem, “a de um fóbico diante de sua fobia”.
Uma das questões mais interessantes é a divisão de medos, agonias e fobias de fato. Medo, por si, é o pavor, a aversão, a repulsa sobre um objeto de intensidade considerada normal. Normal, vide, algo que não lhe tire o controle pessoal. Fobia, por outro lado, seria um medo numa intensidade muito maior, que proporciona a pessoa um total descontrole físico, mental e impulsivo. Agonia é o medo sem o objeto. O medo puro, como um sentimento sem foco. Achei essa divisão bastante coerente e interessante. Também achei interessantíssima a discussão do que leva uma pessoa a ser fóbica. Se é um trauma, ou se é um funil de medos e incertezas da vida, calhados em um único objeto de fobia como um modo de escape da pessoa em questão para 'canalizar' esse medo de alguma maneira.
Outra questão interessantíssima foram as duas perguntas:
a) O que leva o diretor a querer ver tais cenas?
b) O que leva os participantes a aceitarem tal proposta e deixarem-se ser submetidos ao extremo de suas próprias fobias?
Sobre a questão A, deixarei algumas opiniões pessoais.
Não gostaria de adentrar no campo da discussão sobre arte ou não arte que teima em sempre voltar na atualidade, então devo acrescentar que essa é nada somente do que a opinião de uma pessoa não completamente informada sobre o campo artístico, mas que acredita que uma das vertentes da arte é impactar. E não somente isso, a de também mostrar. Mostrar o que quer que seja sem objetivos. Mostrar algo, situações, ou verdades que muitos não gostariam de ver, seja na música, no teatro, na pintura, na fotografia ou no cinema. Seja de um modo direto ou indireto. Mostrar algo sem esperar alguma reação específica, mas que tenha alguma reação seja ela qual for: repulsa, vergonha, tristeza, dó ou até mesmo um prazer sádico. Creio que o diretor, apesar de ter realizado um filme por um objetivo pessoal (ele só queria ver o filme pronto, queria ver essas imagens...tanto que quando o viu, ele não queria mais colocar o filme para ser reproduzido para as outras pessoas - isso também é dito no documentário); a idéia foi boa. A idéia de mostrar cenas que muitas pessoas não imaginam acontecer, ou até mesmo não tem noção que aconteça. De qualquer maneira, novamente, não gostaria de adentrar na discussão do arte e não arte, somente exponho minha visão sobre o assunto.
Pessoalmente acredito que nem tudo precisa ser necessariamente bonito, perfeito e certo para ser, de fato, belo. A beleza pode estar no improvável, no impacto, na repulsa, na feiúra ou na miséria. Entenda, esse conceito de beleza não é o mesmo do que o imposto pela sociedade no quesito estético, mas sim um pouco mais a fundo. Às vezes uma coisa é bela, sem ser necessariamente uma deusa romana. Na minha visão, o filme conseguiu ser belo a seu modo.
Sobre a questão B, serei breve. Algumas considerações:
- EXIBICIONISMO SEM VAIDADE = uma vontade de representar seu medo, de mostrar uma parte de si que nunca antes foi mostrada a ninguém, uma vontade de aceitar e compartilhar seu medo, a tentativa de aceitação pelos outros, uma vontade de fazer parte dessa fobia de uma vez por todas.
- MASOQUISMO = quem sabe?
- LOUCURA = como uma última tentativa, uma última saída, uma aceitação em um momento ilógico, irracional e inconseqüente.
Foi no que consegui pensar. Gostaria que pudessem perguntar aos fóbicos o motivo de sua aceitação, mas isso não é mostrado no documentário.
Gostaria também de adentrar no assunto de fobias um pouco mais fundo...e mostrar algumas cenas do filme. Ele também foi documentado inteiro por uma fotógrafa, que fez um ótimo trabalho. São imagens fortes, por isso clique com consciência. Também deixarei o trailer do filme, bem como uma lista de fobias interessantes...para se pensar.
As fotos:
A lista de algumas fobias, as que eu achei mais interessantes:
Abissofobia - medo de abismos, precipícios
Ablepsifobia - medo de ficar cego
Acluofobia - medo ou horror exagerado à escuridão
Acrofobia - medo de altura
Afobia - medo da falta de fobias
Afefobia - medo de ser tocado
Aicmofobia - medo de agulhas de injeção ou objetos pontudos
Amaxofobia - medo mórbido de se encontrar ou viajar dentro de qualquer veículo de transporte
Anemofobia - medo de ventos
Antropofobia - medo de pessoas ou da sociedade
Apifobia - medo de abelhas
Aracnefobia ou Aracnofobia - medo de aranhas
Astrofobia ou astrapofobia - medo de trovões e relâmpagos
Ataxofobia - medo de desordem
Autofobia - medo de si mesmo ou de ficar sozinho (Monofobia, Isolofobia)
Automatonofobia - medo de bonecos de ventríloquo, criaturas animatrônicas, estátuas de cera (qualquer coisa que represente falsamente um ser sensível)
Botanofobia - medo de plantas
Batracnofobia - medo de anfíbios
Biofobia - medo da vida
Caetofobia - medo de pêlos
Catoptrofobia - medo de espelhos
Cromofobia ou cromatofobia - medo de cores
Cronomentrofobia - medo de relógios
Cnidofobia - medo de cordas
Coprofobia - medo de fezes
Coulrofobia - medo de palhaços
Dendrofobia - medo de árvores
Dismorfofobia - medo de deformidade
Dorafobia - medo de pele de animais
Eleuterofobia - medo da liberdade
Eritrofobia, eritofobia ou ereutofobia - medo de luz vermelha ou do vermelho
Estigiofobia - medo do inferno
Estruminofobia - medo de morrer defecando
Filemafobia ou filematofobia - medo de beijar
Fonofobia - medo de barulhos ou vozes ou da própria voz; de telefone
Gerontofobia - medo de pessoas idosas
Gimnofobia - medo de nudez
Literofobia - medo de letras
Mirmecofobia - medo de formigas
Motefobia - medo de borboleta e mariposa
Ometafobia ou omatofobia - medo de olhos
Oneirofobia - medo de sonhos
Octofobia - medo do numero 8
Pedofobia - medo das crianças.
Pirofobia - medo do fogo.
Parasquavedequatriafobia - medo de sexta-feira 13
Quenofobia - medo de espaços vazios
Sexoafobia - medo de fazer sexo
Telefonofobia - medo de telefone
Uranofobia - medo do céu
Uiofobia - medo dos próprios filhos; medo da prole
Xilofobia - medo de objetos de madeira ou de floresta
Para mais fobias,
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O trailer:
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O site oficial E o interessantíssimo diário de filmagem original Medo é um sentimento comum ao homem. Comum a mim. Apesar de seguir por intensidades diferentes, não sou uma pedra de gelo completamente, mesmo que por vezes tento o ser. De qualquer forma, um medo saudável deve ser controlado. Não com coisas a afastarem o mesmo, mas encarando-o de frente e compreendendo que ele faz parte de você, e como ser humano, ele sempre fará parte de você. Desde que ele não te controle...desde que não seja uma fobia...está bom. Está bom de escrever por hoje, sim? Tenho muito o que preparar para a noite.
"Mas o que há de fazer uma borboleta entre touros e ursos?"
S.