Kuchibiru (Lábios)
_ Então Aiba-shi me disse para tomar cuidado porque estava realmente apimentado…
Ele tem os lábios lindos. Tão bonitos como tudo nele.
_ E é claro que eu sabia disso, ele não precisava me avisar!
Delicados e desenhados com esmero. Simplesmente perfeitos.
_ Mas o primeiro a cuspir tudo pra fora foi o próprio Aiba!
Será que se eu tentar tocá-los ele vai achar que enlouqueci?
_ Nunca mais vou me convidar pra comer lá. Não mais!
Talvez se eu fingir esbarrar nele por acidente, eu possa beijá-lo ao menos uma vez.
_ Nee Riida, em que planeta você está?
Não preciso ser nenhum vidente para prever que olhos castanhos manchados com tons de cobre me encaram ofendidos nesse exato momento.
_ Estou aqui com você Nino. - tento tranquilizá-lo com a expressão mais interessada de que sou capaz.
_ Tenho certeza que não ouviu nenhuma palavra do que te disse! - agora ele lamenta realmente magoado.
_ Você dizia que nunca mais ia comer na casa de Aiba-chan, não é?
Sua expressão muda, ele está surpreso, não esperava uma resposta correta vinda de mim.
_ Eeh… Por isso gosto que conversar com você Riida!
Antes que pudesse responder Ninomiya voltava a falar, trocando de assunto para uma partida incrível de beisebol que vira na televisão, a melhor de toda a temporada ele afirmava em meio a um sorriso. Não o sorriso exibido nos programas em que aparecíamos, ou quando respondia as perguntas entediantes das revistas. Seu sorriso verdadeiro era sincero, aberto, e talvez eu estivesse entre os poucos privilegiados dele.
Sempre me considerei um cara de sorte, afinal podia ver Nino sendo ele mesmo, melhor ainda, podia vê-lo todos os dias. Chegava com a cara de sono mais adorável do universo, cumprimentava a todos de uma só vez para depois dedicar-se ao seu Nintendo como sempre, e quando se cansava de jogar - o que era muito raro, mas acontecia. - Era para mim que ele vinha.
_ Rii-da o que está fazendo, hein? - cantarolava em meu ouvido.
Gosto de acreditar que eu seja seu preferido, mas talvez não passe de mera ilusão de um coração apaixonado.
Vejam, Ninomiya fala, e quando se empolga fala o tempo todo. Você não o encontrará em altas conversas enquanto estamos em reunião para discutir um novo projeto, mas ele costuma a usar sua potência máxima quando se sente disposto a dialogar, talvez o termo melhor fosse monologar.
Agora passem pela mente os outros três membros do nosso Arashi.
Sho-kun sempre é muito atencioso, nunca deixou Nino falando sozinho assim como está sempre sorrindo enquanto conversam. Bem, ele é bom com todos. Mas Nino não gosta de abusar do nosso Keio boy, ainda mais com assuntos tão aleatórios, é claro que Sho jamais reclamaria se ele o fizesse.
Aiba-chan é o melhor amigo de Nino, sem dúvidas conversam o tempo todo, e de todos os assuntos possíveis. Mas percebo que muitas vezes Ninomiya se ocupa muito mais em infernizá-lo com sua implicância do que propriamente conversar com ele. Quando precisa reabastecer sua quota de ânimo ele o faz com Aiba.
Matsujun é diferente. Quando Nino está com o caçula ele escuta, mas não escuta por obrigação, escuta porque realmente gosta. Matsujun fala muito também, e Ninomiya prefere ouvi-lo, e apoiá-lo em suas ideias enquanto desfere aquele olhar admirado de que tanto tenho inveja. Perto do mais novo o vejo mudar de personalidade, se torna mais doce, mais submisso, menos Nino.
Agora quem lhe resta quando só quer jogar conversa fora? Quando seu único desejo é relaxar e falar das bobeiras do seu dia?
_ Ontem eu escondi minhas chaves dentro de um sapato que não usava há anos! - escuto sua voz empolgada rompendo meus pensamentos e sorrio.
_ E você achou?
_ Achei! Não sou incrível Riida?
É Nino, tão incrível a ponto de eu te querer só pra mim. Seria possível?
_ É sim… - admito. - Você é.
Tocado com o elogio Nino estende a mão para meu rosto num carinho, seus dedos sobem e descem pela minha pele e eu desejo que aquele momento nunca se acabe.
_ Eu amo você Oh-chan.
Brincar com meus sentimentos sempre foi seu maior passatempo.
_ Eu também Kazu…
O brilho nos olhos dele se intensificou tanto após as minhas palavras, que não pude resistir. Eu até tentaria arriscar um beijo, mas fui modesto e toquei as pontas dos meus dedos no lábio inferior desenhando formas em sua boca.
Ah, ele tinha o lábio tão macio quanto suas mãos de hambúrguer! No que Deus estava pensando quando fez você Kazunari?
Como se não bastasse ele não se moveu, não negou meu contato, ao contrário, quando meus dedos subiram para tentar alcançar um pouco mais da maciez de sua boca Nino os beijou sem tirar os olhos de mim.
_ Está carente Oh-chan? - ouço a voz baixa me perguntar.
Respostas rápidas nunca foram meu forte, então deixo que ele tire suas próprias conclusões.
_ Quer passar um tempo comigo? Eu posso cancelar meus compromissos de hoje.
É tudo que quero na vida Nino, eu amo você. Era o que eu deveria ter dito, mas simplesmente ri, sem graça. Como sempre não conseguia falar nada pra ele, mesmo estando tão apaixonado.
_ Nós podemos pedir algo pra comer, ou até mesmo sair um pouco. - ele insiste, suas mãos brincando com as minhas.
Nino é uma pessoa boa, posso ver a preocupação em seus olhos. Porém não é esse sentimento que desejo dele, mesmo que talvez por hoje seja o suficiente.
Até porque o que quero de Ninomiya… Ele não pode me dar.
Um solo melodioso de guitarra soa entre nós. Nino pisca os olhos e me solta, erguendo o aparelho celular do bolso ele não percebe, mas consigo visualizar o nome brilhando na tela, e torço o nariz para o que vejo.
_ Boa noite meu amor… - tenho certeza de que isso só pode ser provocação. - Sim, falta pouco, só mais alguns minutos e saio daqui.
Por um momento nossos olhares se cruzam, eu aceno. Está livre Ninomiya, não precisa me fazer companhia. Ele sorri concordando como se me agradecesse por tê-lo livrado da minha presença.
_ Certo, então vamos jantar juntos! Uhn, é claro que te amo também.
Ah… Ele disse.
As mesmas palavras que guardei com tanto carinho de minutos atrás. Ele as falou pelo celular como se fosse algo tão normal quanto seu nome! Nino não deve ter coração!
Vejo seus gestos calmos quando desliga o aparelho e o guarda novamente, tenho vontade de perfurá-lo com mil agulhas, o mais próximo da dor que sinto cada vez que o escuto dizendo “eu te amo” para outra pessoa.
_ Está tudo bem, certo Riida?
E como poderia estar? Não percebe que estou sofrendo seu idiota?
_ Pode ir Nino, tem alguém te esperando…
Devo ser um ótimo ator por enganá-lo tão facilmente, ou quem sabe Ninomiya esteja fingindo não perceber as lágrimas queimando escondidas no canto dos meus olhos. Ele sorri radiante, aproxima os lábios de mim e seu beijo estala no meu rosto.
_ Te vejo amanhã!
_ Certo… - talvez ele nem tenha escutado meu sussurro.
Ás vezes desejo que o amanhã não chegue, que eu não sofra, que não volte a me machucar por ele… Mas passar um dia sem vê-lo poderia me enlouquecer num instante.
Entre perder a sanidade aos poucos por ter Nino tão perto, e perdê-la completamente por abrir a mão de sua presença, prefiro me contentar em escutá-lo todos os dias, seguir ao seu lado enquanto ele divaga entre suas próprios pensamentos… E o mais importante, poder admirar-lhe seus lábios desenhados por Deus.
Ainda posso vê-lo acenando antes de a porta fechar, seu sorriso desaparecendo das minhas vistas, porém fresco na mente.
Um sorriso de lábios lindos. Tão bonitos como tudo nele.
Ah, é claro!
Aqueles lábios perfeitos.
Como em todas as outras vezes…
Nunca para mim.
Nessa mesma noite, ele vai oferecê-los a outra pessoa.