Mar 01, 2007 23:38
Texto escrito pelo meu querido amigo Júlio Rangel
_'O Patinho do Neckar
"Não viva somente a vida dela, se ocupe em crescer individualmente. Assim verá que se você estiver bem, vocês estarão igualmente. Não coloque sua felicidade na mão dela, é peso demais para uma pessoa só. Seja feliz independentemente dela. O relacionamento assim dará mais certo. Sua felicidade vai se refletir nela."
Acho que os conselhos que tenho ouvido durante todo este tempo sugerem basicamente isto. Sugerem também que eu mude minha forma de gostar e agir. Que eu trate com menos afeto, para receber menos desafeto. Particularmente, nunca consegui ser assim. As pessoas que amo estão estampadas em minha face. Mais, fazem parte da minha vida diariamente. Acho que meu sonho é viver para as coisas e pessoas que amo. Mas isso é uma realidade difícil para um ser humano... Talvez apenas os animais compreendam isso perfeitamente.
Não por menos eu me identifique tanto com os patinhos do Neckar. Eles me prendem num destino que eu gostaria de ter, mas que a vida me leva para outro um pouco diferente. Viveria ali, como criador, vendo-os nadar sorrateiramente, ou na luta de sobrevivência diária, astuciosos disputando o pão que lhes jogam n`água. Porque, tenho certeza, eles me reconheceriam como deles, mesmo que eu fosse um pouco diferente. Reconheceriam-me todos os dias, e me amariam.
Mas a vida em cima da ponte me diz que não devo amar muito, que é perigoso, que pode estragar. E eu luto para que isto não seja verdade, eu realmente luto. Distribuo os melhores sentimentos que posso, por onde passo. Mas a vida vai me dando seus conselhos, de bom jeito ou de outro. Olho os patinhos todos os dias... Afinal, porque é tão difícil ser assim? Então começo a me sentir um patinho feio...
Sou talvez um patinho despreparado para a vida. Como se não bastasse não saber se auto-qualificar, ainda consigo fazer com que todos vejam este vácuo claramente. É verdade, devo ter lá minhas qualidades... Quais mesmo? Enfim... Ademais o mundo é grande para patos que tropeçam no próprio bico. É preciso aprender a nadar direitinho. Mas... De repente me sinto animado. Sinto que talvez eu aprenda a nadar rapidamente, que talvez haja mais coisas que vácuo, nesta cabeça de pato! Mas... Então vem o amor...
O meu amor não quer se tornar humano. Eu vejo bastante o amor dos humanos, todos os dias.. É estranho. Depende de coisas que a mãe natureza não saberia explicar. Depende de gestos e maneiras, depende de flores mortas e papeis delicados. E eu sou apenas um patinho nu. Com minhas penas encaracoladas, atraentes ou não. Um patinho que não tem muita confiança no inflar de seu peitoril. Um pato que tenta ser feliz dando suas penas a tudo aquilo que ama, mesmo recebendo patadas, às vezes. Um pato que tem de aprender a lidar como um humano, e que é obrigado a usar seus bicos e patas da maneira que não gostaria, por vezes. De repente, até, um pato que já deixa as unhas crescerem, automaticamente, para que o golpe seja mais eficaz.
Mas nenhum animal de verdade conseguiria sentir-se bem assim, tão distante de sua natureza. Como então viver e ter um amor de patinho, sem precisar me tornar humano? '