FRANKENSTEIN - Mary Shelley

Aug 10, 2009 10:19

Sinopse:
Frankenstein, um dos maiores clássicos da literatura de terror de todos os tempos, é uma autêntica obra-prima. Foi imortalizado no teatro e no cinema, em várias adaptações. A princípio, tratava-se de um pequeno conto sobre um jovem estudante suíço que ambicionava criar um ser ideal, injetando vida a um corpo morto. Mais tarde, transformado em romance, tornou-se um marco na literatura do gênero.

Minha resenha:
Frankenstein é uma genuína obra-prima da literatura universal, e uma das três grandes obras-primas da literatura de horror - as outras são O Médico e O Monstro e Drácula. E, na minha opinião, indubitavelmente é o melhor livro dos três. Há dois aspectos intrigantes e extremamente atuais na obra: o caráter tecnocientífico - e como que profético - e o social. Ambos incutem inúmeros questionamentos.

No aspecto tecnocientífico, Frankenstein nos previne do perigo não tão sutil da utilização irresponsável e amoral da ciência. Tendo em mente a época em que a obra foi escrita, num período de grande efervescência científica, com novos experimentos sendo realizados (a ênfase racional na empiria o empirismo na Inglaterra, que serviu de base posteriormente ao cientificismo, em contraposição ao racionalismo francês), teses formuladas e o surgimento de novas tecnologias, Mary Shelley atenta para os lapsos relacionados à ciência e à tecnologia, capazes de trazer consequências desastrosas. É uma trama de perenidade extraordinária, visto que vivemos na era da globalização e da agilidade dos avanços científicos de natureza medicinal, bélica, energética e tecnológica, em suma num âmbito geral. Frankenstein retrata a aberração criada pelo cientista amoral e ambicioso, que aspira vencer a morte e as leis da natureza (embora há um certo cunho moralista/religioso na abordagem de Mary Shelley, visto que o homem é exibido como um ser que, ao se opor à natureza e ao "divino", é intensamente castigado). Nos remete principalmente aos perigos de natureza ética e biológica da clonagem e da cultura de células-tronco, além das armas biológicas propriamente ditas.

No âmbito social, o monstro do dr. Frankenstein é a personificação - e possivelmente crença por parte de Shelley - de uma famosa e amplamente debatida tese do filosófo Rousseau, a do "bom selvagem". Ele pregava a idéia de que o homem nasce "puro", mas é corrompido pela sociedade viciosa, violenta e materialista. Se não fosse criado no seio dessa sociedade, como na selva por animais, continuaria impoluto. O monstro, realmente, ao receber a primeira centelha de vida, é um ser puro e "bom", além de ignorante em relação ao convívio social. Conhece o mundo através dos livros e da observação, é-lhe imputado maus tratos e rejeição, mesmo beneficiando pessoas (a rejeição é uma reação devido à aparência horrenda do monstro; a visão verdadeira de que o homem geralmente julga os indivíduos apenas pelo seu exterior e segrega pelas diferenças); dessa forma, revolta-se e corrompe-se, transmuta-se num ser violento e mesquinho. A atualidade está na discussão eterna sobre a essência da natureza humana, além das causas e motivações da violência.

Resenha escrita em 06/03/2009.

Debate sobre a obra.

mary shelley, crítica literária

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