Jun 19, 2009 17:18
E sem olhar pra trás, ela correu. E correu e correu e só parou quando não reconheceu mais nada naquele lugar sombrio. As árvores balançavam suavemente, quase como se dançassem, como se valsassem ao som do vento. Ela parou ali, no meio da estranha clareira, e olhou para cima. As pequenas luzes das estrelas faiscando no imenso céu. Que bela visão! Um céu estrelado, poucas nuvens cobriam-no, mais enfeitando do que atrapalhando a beleza daquela pintura divina. Ela sorriu, uma calma estranha apoderou-se dela, seu corpo tremia de frio, algumas lágrimas escorriam por seu rosto. Ela precisava descansar, precisava dormir, precisava comer; não que ela quisesse fazer algo além de observar as estrelas, tão calmas, tão certas de que nada vai lhes acontecer...
“CRACK” Um galho quebrou na floresta. Ela olhou ao redor, tudo estava escuro, ainda mais agora que uma das pequenas nuvens passava em frente à lua. “Quem está aí?” ela disse, tentando manter o controle sobre o medo que volta a atormentar sua mente. Silêncio. “Tem alguém aí?” ela perguntou de novo, quase num sussurro, mas nada retornou suas perguntas.
Ela deu um passo pra trás, estava totalmente perdida naquela floresta tenebrosa. Tudo o que ela queria agora era ter asas, era poder abri-las e ir de encontro às estrelas, ao céu tão concreto sobre si, voar por sobre as copas dançantes das árvores. Um piado a fez voltar a olhar para as árvores. Ela olhou atentamente por toda a clareira, mas não havia o menor sinal de bichos vindo em sua direção, nem mesmo uma mosca, nem mesmo um verme, nada vinha em sua direção, aliás, ela podia jurar que nem mesmo o vento vinha pra ela.
Ela começou a chorar, a noite estava ficando mais gelada, mais sombria, e ela estava naquela clareira, sozinha. Ajoelhou-se na grama fofa sem nem notar que o fizera, suas pernas já não conseguiam mantê-la de pé. A luz do luar voltou a iluminar aquele pequeno buraco entre a grande floresta. Era estranho, pensou ela, que a luz da lua incidia naquela clareira, exatamente naquela clareira... e em nenhum outro lugar.
Foi quando ela começou a sentir algo estranho, algo como uma presença estranha ao seu redor, aquecendo-a, protegendo-a, olhando por ela. Ela se abraçou e se encolheu, aproveitando aquele provável último momento de sanidade. Já não chorava mais, já não tremia... mas ainda pensava... e no que pensava ela não sabia. O calor que a aquecia era estranho, um fulgor que venha de dentro pra fora, e que cuja temperatura não parava de se elevar. Já começara a suar, o delírio irrigava seus pensamentos, o céu, tão belo e cheio de pontos, era apenas um borrão giratório. Ela sentiu náuseas, mas não se sentia enjoada, sua pele ardia e ela podia jurar que estava em brasa, que estava em combustão.
E então ela realmente pegou fogo, as chamas azuladas - e ela não sabia dizer o porquê de serem azuladas - incendiaram seu corpo inteiro em apenas um milésimo de segundo, mas ela não sentia dor. Ela estava deslumbrada com a bela cor das chamas que saiam de seu corpo, afinal azul era a cor do céu que ela tanto amava. Ela olhou pra cima, o céu não era mais um borrão, a lua brilhava ainda mais intensa do que ela podia se lembrar. Sorriu. Era o fim e ela sabia disso. Em breve ela faria parte das incontáveis estrelas acima dela. Ela notou que o fogo azul tinha um formato, um formato de asas. Ela desejou voar, desejou que não queria morrer naquele lugar medonho, sozinha, longe da lua e das estrelas.
Ela fechou os olhos, imaginou-se dando uma volta no ar, e quando abriu os olhos ela estava a metros do chão da pequena clareira. Ela conseguia ver as árvores dançarinas abaixo de si, e o vento era tão confortável, embora ela soubesse que uma quantidade tão excessiva de oxigênio apenas diminuiria seu tempo de vida. Ela começou a voar sobre a floresta e constatou que ela voava bem, apesar de nunca tê-lo feito antes. Seu maravilhoso momento de glória e paz durou apenas alguns minutos, uma eternidade pra ela, e ela notou algo estranho: Ela já não voava mais. Apenas flutuava inerte no ar. Suas chamas antes azuladas agora estavam rubis, um belo tom de rubi. Ela fechou os olhos e esperou que seu fim chegasse. E por mais que não pudesse ver ela sentiu as asas de fogo se fecharem em torno de si, como se tentassem protegê-la, e então toda a dor se foi, todo o sofrimento que ela vinha sentindo enquanto estivera perdida na imensa floresta, enquanto vivera... e então ela se sentiu renovada.
“Como uma fênix que renasce das cinzas” foi assim que ela se sentiu. Nova. Diferente. Ela olhou a seu redor e constatou que as asas de fogo na verdade sempre estiveram ali. Foram elas que quebraram um pequeno galho de árvore, elas impediram o vento gelado de recobrir seu corpo. E então ela se sentiu segura. Fechou os olhos, as chamas ainda sobre seu corpo, quentes, calmas, “minhas”. E então...
“Aaahhh” ela abriu os olhos mais rápido do que pretendia. Olhou a seu redor, assustada e tremendo, mas não de frio. Ela estava em seu quarto. Tudo não passara de um sonho.
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I hope you all like it.
I'm leaving then.
Ja~ne.
story,
random