125 azul

Jul 20, 2005 01:00



Foi sem mais nem menos
Que um dia selei a 125 Azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para arrancar sem destino nenhum

Foi sem graça, nem pensando na desgrança
Que entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
Para insistir na companhia

O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta, nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta
Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar

Talvez, um dia me encontre
Assim, talvez me encontre

Curiosamente, dou por mim pensando onde isto tudo me vai levar
De uma forma ou de outra há-de haver uma hora para a vontade de parar
Só que à frente, o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio
E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu

Talvez, um dia me encontre
Assim, talvez me encontre

Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão no olhar.
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver, é mesmo fúria de acabar.

Foi sem mais nem menos
Que selou a 125 Azul
Foi sem mais nem menos que partiu sem destino nenhum
Foi com esperança, sem ligar muita importância áquilo que a vida quer
Foi com força, acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer.

Mas Deus leva os que quer
Só Deus tem os que ama.

Texto ©Luís Represas | Digital Art ©Carlos Alves
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