Apr 05, 2007 19:34
Não sei como dizer-te que foste diferente. Serás para sempre, eternamente, diferença neste marasmo de existência incolor. Ouço a música, sempre a mesma música, e o meu corpo é um barco sem leme, amálgama de um tudo nada que te espera sem saber. Fecho os olhos porque já não quero estar dentro da escuridão cansada de ser de mais uma noite. Mais uma noite. Fecho os olhos porque me canso de estar entre estranhos. Quase te vejo à minha frente. Os olhos castanhos e doces, também tu perdido e sem saber o que fazes, mais uma vez, neste lugar. O teu sorriso. O nosso sorriso e os passos que nos levam daqui para fora mais uma vez, só mais uma vez. Já quase conheço de cor o caminho que só faço contigo. Reconheço as ruas, a pedra da calçada, a porta da tua casa, a do teu quarto, a tua cama. Tens sempre a cama feita e dou por mim a dizer sempre a mesma coisa. Fico muda ao teu lado. Afinal sempre cá deixei o cachecol que dizes ter o meu cheiro, ainda. Foi há tanto tempo. Deixo-me ficar em ti e procuro não pensar em mais nada. Não pensar que daqui a nada é outra vez amanhã. Deixo-te dormir e apanho as peças de roupa que fomos espalhando pela casa. Apanho o que resta de nós e viro-te as costas mais uma vez. Pela última vez.
this mortal coil