Em julho de 2012 li o segundo volume dos diários de Christopher Isherwood, relativo aos anos 60, e transcrevi para aqui (
link) uma passagem de uma entrada de dezembro de 1963, escrita quando Isherwood acompanha o seu Swami numa viagem à Índia. Fazem escala em Tóquio e Isherwood aproveita para espreitar o Hotel Imperial, onde, em junho de 1938, juntamente com o poeta W.H. Auden, tinha passado uma noite. O trecho que então transcrevi é o seguinte:
"We (…) then peeked into the Imperial Hotel. I felt a wave of sentiment for the old place. Wystan and I first saw it in 1938, and my memory clings to an improbably symbolic tableau: under a chandelier (which certainly isn’t there nowadays though that in itself proves nothing) stand two figures in uniform, a Japanese officer and a Nazi gauleiter; in fact, The Axis. As I regard them, the chandelier begins to sway - and this is my first earthquake!"
Estou agora a ler (e a adorar, mas falarei mais do livro depois) as páginas finais de Christopher And His Kind, o livro que Isherwood escreveu em 1976 (treze anos depois do texto dos diários), sobre o período que vai de 1929, quando decide ir viver para a Alemanha ("Berlin meant Boys", diz ele), a 1939, quando se fixa na América. Naturalmente, é referida a viagem à China que faz na companhia de Auden, para cobrir a guerra sino-japonesa. No regresso da China, fazem escala no Japão e viajam até Tóquio, onde passam uma noite, a de 17 para 18 de junho, no Hotel Imperial. E escreve o seguinte:
"While Christopher is sitting waiting for Wystan in the lobby of the hotel, next morning, he witnesses a ceremonious meeting between two officers in uniform, a Nazi and a Japanese - the Berlin-Tokyo Axis personified.They exchange Nazi salutes, then bow Japanese-style, then shake hands. They are standing beneath a big chandelier; and, as they greet each other, the chandelier begins to sway. It is Christopher’s first, very slight, earthquake."
Reconheci de imediato a passagem e achei curioso o Isherwood ter-se referido a este episódio duas vezes, com tantos anos de intervalo, e quase nos mesmos termos, pelo menos as expressões mais enfáticas e impressivas são quase idênticas.
Quando transcrevi o trecho de cima, não me ocorreu que a única vez que presenciei um terramoto,também ligeiro, estava num restaurante na cidade de Antigua Guatemala, e o que me chamou a atenção foi precisamente o facto de os candeeiros do restaurante estarem a oscilar.
Ainda a propósito da viagem à China, ela começou quando Isherwood e Auden embarcaram, em janeiro de 1938, em Marselha e atravessaram o canal do Suez, tendo aproveitado para sair do barco em Port Said e para visitar o Cairo. Retornaram ao barco em Port Tewfik e Isherwood escreve:
"They steamed southward, heading for Djibouti, Colombo, Singapore, Saigon, and, ultimately, Hong Kong."
Perdoe-se-me um pequeno momento de auto-comprazimento, mas estava eu a ler este colar de pérolas exóticas e de súbito tomo a deslumbrada consciência de que já estive em Colombo, em Singapura e em Saigão.