leituras de férias

Jul 06, 2008 17:11



Vinha já com Califórnia, de Eduardo Mendicutti (edição da Bico de Pena), praticamente lido, faltavam-me vinte ou trinta páginas para terminar. Um romance total e assumidamente gay, com uma primeira parte passada em Los Angeles, em meados dos anos 70, em que um jovem espanhol mergulha na vida de hedonismo no coração de Hollywood enquanto em Espanha se espera que Franco morra. Na segunda, trinta anos depois, esse jovem é um executivo no escritório madrileno de uma multinacional. Apesar dos envios permanentes da narrativa actual para a passada nos anos 70, a verdade é que entre as duas partes não há grande relação, servindo ambas sobretudo para traçar dois tipos bem diferentes de vivência da homossexualidade e dos seus problemas e de uma certa cultura gay. Digamos que do confronto das duas agendas, a dos anos 70 e a actual, que toma como referência o bairro da Chueca, esta parece mais consistente e interessante, mas a dos anos 70 soa bem mais divertida e transgressora.
É o segundo livro de Mendicutti que a Bico de Pena edita na sua colecção dedicada à temática homossexual; antes já tinha publicado Não Tenho Culpa de Ter Nascido Tão Sexy, que eu não li.



Depois li O Fim das Miragens, Um Crime no Jet-Set, da autoria do jornalista Paulo Moura, grande repórter do jornal Público. O livro relata, em estilo de reportagem alargada, um crime praticado, ou melhor mandado praticar, por uma mulher do jet-set lisboeta que decide que o assassinato do marido de quem está na eminência de se divorciar, é a melhor maneira de resolver uma crise de liquidez financeira. Gostei muito do tom do livro, que nunca resvala para o estilo sensacionalista que o tema podia puxar, mas que também nunca adopta um tom moralista, embora acabando por fazer um retrato impiedoso de um certo Portugal, arrivista, de celebridade fácil, de dinheiros obscuros, alimentado pelas revistas do coração e pelos sonhos levianos de classe média. Portugal que, evidentemente, somos nós, apesar de nos poder parecer que o tipo de pessoas e de meio em questão está muito distante.



Li também um clássico da banda desenhada, A Marca Amarela, de E.P. Jacobs. Não sou grande leitor de BD, not that there’s anything wrong with it, como diria o Seinfeld, mas apenas porque não me puxa muito. Mas sou fã das aventuras de Blake & Mortimer, e como tinha lido há pouco tempo a mais recente (e pós-Jacobs) aventura da dupla, O Santuário de Gondwana, lembrei-me de reler este que é um dos clássicos da série.



Ainda li o meu segundo P.G. Wodehouse, O Código dos Wooster, depois de ter lido Época de Acasalamento aqui há uns meses. Sempre com os mesmos protagonistas, Bertram Wooster e o seu valet Jeeves, os livros são, em termos de trama narrativa, um pouco irrelevantes, variantes do mesmo, mas as peripécias, e sobretudo o humor e o estilo de escrita podem se tornar viciantes. Espero que os livros Cotovia, através da chancela Raposa Matreira, continue a editar as obras deste autor.



Finalmente comecei a ler um livro da Patricia Highsmith, The Tremor of Forgery, uma história de mistério e inquietude, como é habitual na autora. Estou a ler em inglês, o que é uma oportunidade de apreciar o estilo eficiente e insinuante de Highsmith, e o modo como ela nos consegue transmitir sobretudo através da própria escrita, da linguagem, a sensação de desconforto, de que as coisas nunca são o que aparentam, e mesmo assim nunca temos a certeza do que é que elas aparentam.

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