época de acasalamento

Mar 13, 2008 08:27



Não sei se se recordam, mas aqui há uns anitos havia um browser que se chamava AskJeeves (agora só se chama Ask.com), e que se caracterizava por fazermos as nossas buscas através da formulação de perguntas. Esse browser foi buscar o seu nome a uma personagem de romance, o Jeeves, uma das personagens criadas pelo romancista de humor inglês P. G. Wodehouse.
Li agora o meu primeiro livro de Wodehouse, Época de Acasalamento, que tem como protagonistas precisamente a dupla formada por Jeeves e por Wooster. Bertram (Bertie) Wooster é um jovem aristocrata inglês, meio tolo como (quase) todos os jovens aristocratas, e que se está sempre a meter em alhadas, sempre involuntariamente, e que quase sempre resultam das potencialidades catastróficas do estrito sistema de relações sociais, nomeadamente românticas, da 'upper class' inglesa. Jeeves é o seu valet (que se distingue do mordomo porque este serve a casa, enquanto o valet serve o cavalheiro, é um gentleman's gentleman), dotado de infinito bom senso e de ainda mais recursos, sempre capazes de livrar o Wooster das alhadas em que se mete, leitor de Espinoza e dos poetas românticos.
O plot não é complicado, à volta dos encontros e sobretudo dos desencontros amorosos, e da presença omnipotente das tias, e das figuras típicas como o padre e o polícia. O tom da sátira é geralmente suave, só aqui e ali um bocadinho mais insidioso, nomeadamente quando o autor aproveita a embalagem para ajustar contas.
Mas o que é verdadeiramente notável no livro de Wodehouse é a escrita em si, a capacidade de criar comédia através da própria linguagem, o recurso às figuras de estilo, os trocadilhos, etc. Não há quase parágrafo nenhum, ou pelo menos são raras as páginas em que não há pelo menos uma passagem que nos delicie pela comicidade da sua construção, pela criatividade do humor.

P. G. Wodehouse, que conta com uma imensa legião de fãs e admiradores, viveu quase 100 anos, escreveu até morrer, e em vários géneros e modalidades. Teve uma vida calma até aos 60 anos quando, vivendo em França, foi preso pelos alemães quando invadiram a França, em 1940. Wodehouse foi deslocado para um campo de prisioneiros na Bélgica e depois transferido para outro na actual Polónia, na Alta Silésia (diz-se que Wodehouse terá comentado: se a Alta Silésia é assim, como será a Baixa!). Em 1941, e devido à sua idade, os nazis recolocaram-no em Berlim, onde se reuniu com a mulher. Wodehouse gravou então, e a pedido dos alemães, uma série de crónicas radiofónicas relatando, em tom ligeiro, a sua vida de prisioneiro de guerra. Por causa destas crónicas, os ingleses consideraram que Wodehouse colaborou com os nazis e nunca mais lhe perdoaram, tendo sido, até final da sua vida, objecto de críticas e até de um processo de traição. Wodehouse negou sempre as acusações, e nunca foi julgado traidor, mas nunca mais regressou a Inglaterra, tendo-se estabelecido nos Estados Unidos e inclusivamente adoptado a nacionalidade americana. Poucas semanas antes de morrer foi-lhe atribuído uma OBE, que acabou por consagrá-lo como um dos maiores e mais populares escritores cómicos ingleses.

wodehouse, livros

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