Foram as seguintes as leituras durante o mês de fevereiro.
Gostei muito deste romance musical, como lhe chama o autor. Nascido da vontade de contar a história do kuduro, Também Os Brancos Sabem Dançar, num registo em que a ficção e as memórias reais se cruzam, traça um mapa, e mesmo uma árvore genealógica, da música pop que se ouve hoje em dia, em especial a que resulta do cruzamento entre as músicas africana, sobretudo angolana e cabo-verdiana, electrónica e de dança.
Noutro plano, o livro de Kalaf Epalanga, de uma forma sempre positiva e bem humorada, reflete sobre o racismo,sobre o convivio, nomeadamente cultural e artístico, entre as raças,sobretudo a negra e a branca, e, de uma forma que podemos dizer mais política, sobre a forma como a Europa olha os contingentes de emigrantes e refugiados que todos os dias tentam passar as suas fronteiras.
Finalmente, Também Os Brancos Sabem Dançar é ainda uma generosa homenagem a Lisboa, e por extensão a Portugal, como o lugar perfeito onde as diferentes culturas africanas e europeias se podem encontrar de forma criativa.
Um livro 5 estrelas, escrito de forma simples e escorreita, com sentido de humor. Num tempo em que o racismo e os conflitos raciais voltaram às agendas noticiosas, são libertadores e esperançosos o olhar e as reflexões de Kalaf Epalanga.
Que fantochada. Li este livro porque me veio parar às mãos, passei os olhos por curiosidade, e percebi que o conseguia ler numa tarde. O único vago interesse que o livro possa ter é clínico, e resulta de tentar perceber a personalidade do seu autor.
Demorei muito tempo até chegar a este livro, mas ainda bem que cheguei. É difícil dizer o que é mais impressivo, se a qualidade gráfica da narrativa, se a força da história de quem viveu a revolução iraniana por dentro e enquanto adolescente, se a franqueza implacável com que é contada na primeira pessoa do singular uma história coming-of-age.
A elegância e a perfeição da escrita, a subtileza, a erudição e o humor de Jan Morris, criam um travelogue muito sui generis.
Como o título indica, a ideia é, mais do que descrever, talvez recriar o que era a vida em Manhattan no ano em que terminou a Segunda Grande Guerra. Vários aspectos são abordados, da política às artes, da economia aos transportes, das comunidades aos bairros, entre outros.
O resultado é o que deve ser o de um livro de viagens: falar-nos dos lugares e das pessoas, mas sobretudo captar a energia de um momento único. Mais do que incitar-nos à viagem, ser ele próprio uma viagem vívida e inesquecível.