a shadow of the man I used to be

Jul 22, 2018 08:12

Nos últimos quatro ou cinco meses devo ter passado, por junto e de maneira fragmentada, um mês em casa. O resto do tempo passei-o em hospitais, a fazer tratamentos prolongados com antibióticos muito potentes, culminando com uma intervenção cirúrgica tecnicamente complicada, nas últimas duas semanas. E o percurso não vai ficar por aqui.

Esta semana, apanhou-me na cama do hospital a notícia da morte do meu irmão, a milhares e milhares de quilómetros de distância, e que me deixou vazio, mas também perturbado com os efeitos cruelmente complexos que uma notícia devastadora tem quando nos debatemos, num esforço de gestão de recursos escassíssimos, com a nossa própria auto sobrevivência.

Tenho a impressão de que sou, eu próprio e também esse outro que aqui se vai escrevendo, apenas a memória, a sombra, de quem fui até há sete ou doze meses atrás. E sinto, além disso, uma estranha distância de todos aqueles que nem suspeitam de que há de facto um inferno pessoal. Um inferno mesmo, a sério, longe daquela estreita nesga através da qual espreitamos angustiados o espelho do mundo.

E no entanto confio ainda, quem sabe de maneira inconsciente ou alienada, na expectante alegria dos recomeços.

um irmão, caro diario

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