flor da rosa, crato, avis

Jul 05, 2017 15:57








Quatro dias a passear por uma zona do alto Alentejo que não conhecia: pouso no Crato, mais propriamente na Flor da Rosa, e um passeio a Avis e a Alter do Chão. Confirmei mais uma vez que gosto muito do Alentejo: das pessoas, da arquitectura, da paisagem, da gastronomia. Gosto da aridez, da secura.

Também gosto do calor, apesar da sua inclemência. Sempre gostei muito do calor, mas, ao contrário do que sempre aconteceu, agora não lhe resisto. No domingo apanhei tanto calor que na segunda-feira acordei com febre. Entristece-me um pouco essa falta de resistência que eu agora tenho, qualquer coisa me deita abaixo.

Fascinou-me a importância histórica que têm estas pequenas cidades do interior, ou mesmo uma pequena povoação como é a Flor da Rosa. O Crato ou Avis, por exemplo, foram palco de acontecimentos relevantes na história de Portugal, nomeadamente durante a idade média ou na transição para a idade moderna. Passaram por estas terras alguns do principais protagonistas de acontecimentos determinantes da formação e da consolidação da nossa identidade enquanto nação, quer do ponto de vista da independência nacional, quer do próprio fortalecimento do poder político, do Estado e da sua autoridade.

Na pequeníssima Flor da Rosa, nasceu Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, e Avis está inexoravelmente ligada a D. João I, um dos mais aclamados reis portugueses. Ou seja, são desta região, ou por aqui passaram períodos determinantes das suas vidas, pelo menos dois dos protagonistas da revolução de 1383-85, o chamado ‘interregno’, que não só salvaguardou e fortaleceu a independência de Portugal face a Castela, como foi o pilar fundador da modernidade em Portugal.

Mas o mais interessante, é que essa importância histórica está presente, é visível, percebe-se bem, quer pela profusão de monumentos e outros lugares históricos, como até pela própria paisagem urbana, pela geometria das cidades, pela sua arquitectura. A Flor da Rosa é encantadora, tem um charme irresistível, e não há como evitar a sensação de estarmos num lugar especial, muito denso de história e de histórias.

Fiquei instalado na Pousada da Flor da Rosa, que foi, aliás, o pretexto para escolher esta região para as mini-férias. Há muito que tinha vontade de conhecer esta pousada, que é de facto magnífica. Impressiona, desde logo, a imponência do edifício, a monumentalidade do gótico, a forma como o seu aspecto fortificado se impõe à pequena povoação em redor.

Mas impressiona igualmente o trabalho de recuperação do edifício e a adaptação arquitectónica às funções de pousada, da autoria do arquitecto Carrilho da Graça. Por opção própria, fiquei instalado num dos quartos da ala nova, mas mesmo assim a experiência de desfrutar de um edifício histórico, tão acentuadamente medieval, mas ao mesmo tempo tão apelativamente moderno, é incomparável. Tenho apenas dois reparos ao nível da funcionalidade: para quem tem algumas limitações de mobilidade, como é o meu caso, os acessos à piscina, bem como à banheira da suíte, podem ser complicados. O serviço da pousada é o que se pode esperar de um estabelecimento com estas características, e a simpatia e a juventude do pessoal são um verdadeiro plus.

Fiz duas refeições no restaurante da pousada, uma por opção, um jantar no restaurante, e outra por força das circunstâncias, um almoço mais leve, no bar de apoio à piscina. Foram carotas, mas cumprem, como se espera de um restaurante deste género, embora seja bem mais interessante, e incomparavelmente mais barato, comer nos restaurantes da região.

Assim, tive oportunidade de experimentar os restaurantes que se seguem. Ainda na viagem de ida, já perto do destino, almoço no Lagarteiro, em Gáfete. Comi uma sopa de tomate (com pão e ovo) fabulosa, e carne de porco à alentejana. Nesse dia, ao jantar, comi um arroz de bacalhau com grelos delicioso, no restaurante Adega, no Crato. No passeio a Avis, almocei na Taberna da Muralha e fui garganeiro: comi um bacalhau à Brás, e provei umas migas de espinafres, que foram servidas com carne frita. Foram, acho eu, as melhores migas que comi na vida. Jantei ainda no restaurante O Recanto, na Flor da Rosa, onde comi um bacalhau cozido com grão (tanto bacalhau, porque na maior parte dos restaurantes era a única alternativa às carnes de vitela e porco, cujo consumo tenho de moderar). Na viagem de regresso, almocei na Sertã, no restaurante Ponte Velha, e comi pataniscas de polvo com migas de espargos. À sobremesa foi quase sempre fruta, mas provei o famoso Teculameco, um doce conventual que, além dos costumeiros ovos, açúcar e amêndoas, leva ainda banha de porco.

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