Mar 01, 2017 08:17
É tão bom podermos sair das nossas vidas, esquecermo-nos dos problemas e das angústias, ainda que seja pelo breve intervalo de dois ou três dias, e, após a interrupção momentânea, a emissão prossiga como habitualmente (agora que falo nisso, provavelmente o anúncio de que “pedimos desculpa por esta interrupção, a emissão segue dentro de momento” não faz sentido para quem tem menos de 40 ou 50 anos…)
Não passava por Alcácer do Sal desde que a estrada para o Algarve deixou de atravessar a cidade, lá pelos idos dos anos 80, e sempre que passo pela auto-estrada, sobretudo no regresso, fico encantado e curioso a ver de longe o lindo e claro perfil da cidade junto ao rio Sado. Por isso esta pausa do carnaval foi uma oportunidade para visitar a cidade, ficar instalado na magnífica pousada, conhecer, em passeio, a Comporta e Tróia, mas também para passar três dias a comer muito bem, muito arroz e coentros, quase sempre com sabor a mar.
Gostei muito do traçado da cidade, para além do aprumo, da limpeza, da claridade. Gostei da presença da história e da memória, na arquitectura, na toponímia, nas histórias que se adivinham nas ruas e nos edifícios, nas casas e nas pequenas praças que se escondem no casco da cidade. Gostei muito dos pontos de fuga do olhar: para onde quer que olhemos, há sempre um recanto, um pormenor, uma perspectiva da cidade ou dos campos em volta, uma curva do rio. O tempo esteve sempre melhor do que razoável, e a cidade dá mais luz e claridade à própria luz solar. Adorei a igreja de Santiago, o azul dos azulejos é quase epifânico, as torres sineiras com os ninhos das cegonhas.
E é tão bom passear numa cidade onde as pessoas nos cumprimentam quando nos cruzamos.
E a tranquilidade, foi, acho eu, o que mais gostei. A tranquilidade da cidade, ali a raiar a pasmaceira, mas no melhor sentido do termo, uma calma sossegada, demorada. Não sei se essa tranquilidade será uma coisa boa em termos de desenvolvimento da cidade, da sua economia, até porque é muito fácil perceber que Alcácer já foi uma cidade muito maior e mais dinâmica do que é na actualidade. Mas que me soube muito bem, isso é verdade, que delícia. E a tranquilidade dos campos, a estrada tranquila até ao litoral, a beleza agrária do caminho até à aldeia de Santa Susana, uma lindeza que nos conquista os olhos e o coração.
caro diario,
viagem,
alcácer do sal