e quando fui beber um gole de água soube que estava na presença do espírito santo. no canto mais prosaico da casa, empoleirado no armário verde, olhava para mim com ar de quem quer perguntar mas não se decide. não podia ser outra coisa. quando me aproximei do garrafão esvoaçou por cima da minha cabeça, mas não teve a presença de espírito, perdoem-me o trocadilho, de me bafejar com o que quer que trouxesse no bico. pensei poder conter até ao dia seguinte a expectativa cristã em que fui tão bem treinada. fechei a porta, apaguei a luz e fui à procura de um sono santo. ao acordar do meu próprio restolho, amachucada como nos outros dias, soube que a cozinha estava vazia e que é tolo confiar numa pomba.