Sep 27, 2009 20:25
A sala encontrava-se à meia luz. O lugar parecia úmido e alguém corria no que parecia ser um círculo, ofegando, soltando alguns gritos involuntários enquanto fugia de seu perseguidor invisível. Sua franja caía molhada em sua testa devido ao suor e ele olhava para trás vez ou outra tentando enxergar quem ou o quê o perseguia. Era sua vida que estava em jogo e seu coração martelava fortemente contra seu peito. A fraca luz entrava no lugar por entre as grossas barras de ferro de alguns buracos que surgiam esparsos pelo corredor em que ele corria e que parecia sem fim. Era um círculo com algumas entradas ao centro, mas que ele nem sequer pensara em entrar. Pensara que, desse modo, apenas se perderia no labirinto onde ele imaginava estar. Sua sombra se projetava no salão oval central fazendo com que as figuras que surgiam se assombreassem e assumissem um tom mais sombrio.
O som arrastado dos pés da cadeira batendo contra o solo se faz ouvir, mas não alto o bastante para fazer com que o fugitivo se sobressalte e mude seu curso. Um homem de sobretudo se senta batendo as mãos nos joelhos como se para tirar uma sujeira inexistente - só um gesto inconsciente.
- Não se preocupem. Ele vai continuar correndo em círculos. Nem vai perceber que estamos ou estivemos aqui.
- Ótimo. Ter que apagar nosso rastro me dá muita dor de cabeça. - O rapaz mais moço se aproxima mais do centro arrastando sua própria cadeira e finalmente se senta cruzando os braços contra o peito e esticando as pernas.
- Tem certeza? Talvez seja melhor garantir, por segurança, e apagar qualquer traço de que estivemos aqui. - Um homem mais velho que já mostrava alguns fios brancos luminosos por entre os fios negros parecia nervoso, levando a mão a boca enquanto falava prestes a arrancar um filete do dedo de tanto roer. Ele olhava para os lados, para o rapaz correndo em círculos como se houvesse mais alguém ali.
Apertando os olhos, o primeiro homem analisava as ações do mais velho estranhando tamanho nervosismo. Ele sabia que o mais velho sempre fora o mais desconfiado, o mais afobado, mas aquilo já estava beirando a loucura.
- Vai nos dizer o motivo de estarmos aqui hoje? Foi difícil achar um sonho propício em um prazo tão curto. É bom que seja por uma boa causa.
Encostado em uma das paredes, tomado pela completa escuridão, o quarto homem baforava a fumaça de seu cigarro imaginário. O terceiro, parecendo começar a se irritar com tanta calma lançou-lhe um olhar furioso e foi para o centro da sala.
- Eles estão se aproximando, estão chegando cada vez mais perto de nós. Se não tomarmos cuidado, nós--
- Se acha que estamos correndo perigo nos sonhos, então por que convocou essa reunião? - O quarto homem joga o silêncio e o cigarro no chão esmagando-o com a sola de seu sapato. Com as mãos no bolso do casaco, ele sai das sombras e se aproxima do trio o bastante apenas para que a luz ilumine seu torso apenas. - Está aprontando alguma coisa, velho?
- Deus, não! - Suas mãos gesticulam com mais vontade para cima, como se estivesse se justificando ou apenas indignado por confundirem sua vontade de ajudar com traição. - Só acho que temos que tomar mais cuidado por que... - Ele olha para os lados devagar, como se algo fosse saltar de uma das entradas para arrastá-lo para o inferno. - ...acho que vi algo na noite passada.
- Tem certeza que não foi só o álcool do qual anda abusando ultimamente? - O segundo ergue a cabeça com um riso de escárnio estampado no rosto.
Desolado, o velho deixa-se cair em uma cadeira que surge segundos antes para aparar sua queda. Sua mão acaba de encontro com a testa, massageando o rosto de um modo desconsolado. Ele estaria suando se tudo aquilo não fosse um sonho.
- Eu sei que tenho bebido um pouco demais ultimamente... sei disso. Mas também sei que tem algo atrás de nós. Se nós existimos, os Dreamwalker, por que não eles? Isso não está certo...
- Nós sempre buscamos o sonho perfeito para nos encontrar, sempre apagamos nosso rastro quando achamos necessário, não há como...
O primeiro é interrompido por um rugido que começa leve mas que logo aumenta e ecoa pela sala assustando até mesmo o pobre sonhador fugitivo que tropeça em seus próprios pés e cai no chão gelado e úmido deixando um grito de horror escapar. Os três homens sentados erguem-se de sobressalto deixando as cadeiras caírem e sumirem no ar. Seus olhares percorrem por todos os lados sem nada encontrar e depois se entreolham.
- Acabou. Nosso encontro chegou ao fim. Você vai ter que apagar nosso rastro. Agora! - O primeiro dá a ordem ao segundo, enquanto o velho volta a roer as unhas e o quarto desaparece nas sombras.
- Merda. Essa porcaria vai me dar uma dor de cabeça monstruosa amanhã. - Cerrando os punhos, ele balbucia palavras inteligíveis que surgem em sua cabeça enquanto o primeiro fecha o círculo erguendo as mãos como se estivesse abraçando o grupo. Em pouco tempo, os quatro homens começam a tremeluzir no espaço até granularem e virarem apenas poeira em um sonho que começava a se transformar em pesadelo...