Começou como um conto de fadas. A brisa leve entrava pela janela, movia o cata-vento em cima da escrivaninha e acabou trazendo consigo um barulho de asas. A princípio achei ser a minha imaginação, mas repetiu-se e repetiu-se... Foi assim. Ela entrou pela janela numa noite em que eu não estava muito bem. Lá estava eu com minha fé machucada enquanto ela pulava agitadamente pelos espaços do meu quarto. Talvez quisesse chamar minha atenção. A minha descrença e a solidão já eram tamanhas que resolvi dar a atenção que pedia.
Sorri por alguns segundos. Dizem que a esperança traz consigo soluções. Acreditei por alguns segundos até perceber o quanto ela era pequena, frágil e, de tão inquieta, deduzi que não estava bem. Lamentei comigo mesma. Era isso... Tudo estava tão errado que até a esperança que me havia sido enviada estava machucada.
Podia ter tido qualquer reação. Ignorá-la, espantá-la, tentar incorporá-la completamente. E tudo que consegui fazer foi ficar olhando, olhando, até começarmos a conversar. Não que ela fosse de muitas palavras, pra ser sincera, não disse nada. Mas entendi que seu silêncio era diferente de muitos outros silêncios aos quais me habituei. Ela me ouviu atentamente até que eu entendi o que devia ser feito. Eu tinha que ajudá-la, tinha que fazer com que ao menos aquela esperança conseguisse sobreviver. Tarefa grande demais pra mim, talvez.
Estudei um pouco sua espécie, sua raça, seu credo. Fui tão longe que até retirei da minha própria lembrança alguns nomes estranhos pra uma esperança tão fraca. Ofereci alimento, ela precisava ficar forte. Não aceitou. Continuamos a conversar até que ela, para o meu espanto, começou a deliciar-se com o banquete de forças. Chorei. Foi bonito, meio sublime. As lágrimas simplesmente despencaram. Não sei se chorava por mim ou pela mágica. Não faz muita diferença.
Tive uma companheira pela noite. E no dia seguinte tiramos fotos, nos divertimos, rimos, compartilhamos alguns medos.
Certo é que durante a noite tive uma força que não tinha há muito tempo. Depois de fitar o céu por horas a fio, escrevi tudo que vinha a minha cabeça, esvaziei muitos e muitos pensamentos. Deixei alguns guardados, mas sei que, quando fui dormir, lá estava ela do lado da minha cama... Lá estava minha esperança... Adormeci.
Sonhei muitas coisas das quais não me lembro e acordei com um som diferente de tudo que eu já ouvi. Era baixo, triste, melancólico. Por alguns segundos eu pensei comigo que aquele era o som que definia exatamente todo o meu ânimo nos últimos dias. Se existissem Fênix acredito que seu canto seria como aquele. Mas só me dei conta de que tudo aquilo era real alguns segundos depois e, no choque de realidade, levantei-me assustada pensando se minha esperança estava bem, se era ela que estava cantando, se eu não estava machucando-a. Mas o som cessou exatamente na hora em que levantei. Sumiu.
Minha esperança havia desaparecido.
O quarto estava fechado, sem nenhum espaço pelo qual alguém daquele tamanho poderia fugir. E ela não estava em lugar algum. Não adiantou procurar, não adiantou chamá-la. Ela simplesmente sumiu. Sumiu como seu canto.
Seu nome era Elyan.