Jul 18, 2005 22:00
ninguém percebe, mas certos momentos na nossa vida são incrivelmente irônicos e eles começam mais cedo do que imaginamos. apaixonar-se pela primeira vez faz a ironia perdurar por anos a fio, sem contar que é extremamente patético quando esta passa praticamente desapercebida aos olhos dos destreinados. e dos treinados também. mas voltando à vaca fria, porque um primeiro amor é mais irônico do que aparenta? porque você se apaixona pelo colega de classe mais bonitinho que tem no auge da sua infância, e aquela apaixonite platônica segue até o início de uma perturbada adolescência. acontece alguma coisa que faz você perceber que o menino mais bonitinho não é assim tão bonitinho, que ele não é tão tudo como você fantasiou na sua cabecinha de girino e aí a coisa aperta.
não, não é bem aí. quando a confiança é depositada na pessoa errada, é quase igual à uma bexiga cheia aguentando o dobro do limite de cerveja combinado com um zíper que não abre. sem contar o ataque de riso por causa do maldito faichecler que resolve não descer quando deve. isso é quase uma lei de murphy disfarçada, confiar nas pessoas erradas e estas falam seu segredos justamente para a pessoa que não deveria ter conhecimento dos mesmos. aí fede tudo, só não fode porque a coisa não pode ser tão explícita assim. e então você nota que o cara - porque até você se dar conta da burrada que fez em confiar em quem não merecia, deu tempo de ele crescer e os hormônios começarem a mostrar seus poderes externamente - não é aquele tudo que você voltou a achar que ele era, e começa a dar razão para sua mãe quando ela dizia que ele era parecido com um bicho da goiaba. então o tempo passa, como sempre.
as primaveras passam e o número nas velinhas do bolo só tende a aumentar. e apesar dos acontecidos no passado, as lembranças do bicho da goiaba são carinhosas e você começa a notar bem devagarinho que era feliz e não sabia. o tal bicho apodrece e a vida continua. e continua... num determinado dia, você se depara com a tecnologia andando a seu favor quando não precisa mais disso. e todo aquele rebaixamento que sentiu quando ele descobriu da sua paixãozinha secreta por ele vem à tona, fazendo uma mistura de adrenalina e pânico verterem nas veias. o rumo que a conversa toma é diferente, vocês falam sobre como anda a vida e o que andam fazendo. quase que uma filosofia e ele aparenta ser incrivelmente esperto para a idade que tem.
ele parece ser o menino de cinco anos legal que você fantasiou quando tinha a mesma idade e que mesmo com espinhas no rosto e cabelo seco, continua sendo o cara dos seus sonhos. e bate aquele nervoso gostoso também, de finalmente ser forte o suficiente para quebrar a barreira do medo e trocar algumas palavras depois de quase nove anos. e quando ele diz que lembra de você? nossa, quase dá pra gozar!... e é aí que entra a ironia: a falta de personalidade, de bom senso e de maturidade (já que na sua cabeça ele ainda tem cinco anos) começa a pesar, e então você lê a desculpa mais esfarrapada da sua vida quando pergunta porque ele não gosta de rock 'n roll: "eu jogo futebol, então sou pagodeiro".
isso foi a gota d'água. o zíper finalmente abre e você sente um alívio por não ter perdido dez anos da sua vida gostando de um cara de 20 anos que acredita em estereótipos e que tem uma mentalidade inferior ao seu primo seis anos mais novo que ele. isso é bombasticamente irônico pois você gastou oito anos gostando desse jumento e ele realmente é bem nenos esperto que seu primo de doze anos: ao invés de pegar o dinheiro do trabalho pra pagar a faculdade, faz o pai pagar. este não aguenta e o animal resolve trancar a matrícula e vai fazer cursinho pra ver se passa em outra porcaria qualquer de faculdade federal. e aí o jogo vira: as melhores cartas estão na sua mão e você tem o poder de fazer exatamente o que ele fez um dia: ignorar completamente sua existência. então você abre o MSN, clica no apelido dele com o botão direito do mouse, vai em "excluir contato" e pra finalizar, marca a caixinha para bloqueá-lo. pra deixar a situação um tanto quanto sarcástica, você sente pena quando relembra que ele disse que lembrou de você, sinal que nunca foi esquecida. ironias da vida, ainda bem que foi meio e não inteiro.