Sep 27, 2006 21:47
(oh captain, my captain.)
era uma vez um piano. um piano que tocava incessantemente as músicas mais tristes já compostas por seres humanos, desenrolando tramas complicadíssimas com suas precisas e cianóticas notas choronas enquanto eddie, o peixe dourado, dançava no aquário como uma mesa socialista. o peixe dourado espiralando no aquário e lydia com o nariz no vidro da janela enquanto chove. há dias que só chove. há dias que só existem lydia, a chuva, o peixe e o piano.
oh, sim. há também todo o planeta do lado de fora, e há marte e saturno e plutão, mas nada muito além disso. o universo pode ser um lugar incrivelmente limitado, raso como as poças de água que lydia olhava fixamente. era como se, em cada uma delas, seus velhos sonhos se acumulassem, pulando convulsivamente como remédio efervescente para estômago ruim (mas, de alguma forma, ela sentia inigualável azia ao ver aquilo). aquilo era patético como peixes sufocando fora da água, patético como estrelas caindo, patético quanto o fato de a morte ter apenas 1,67m de altura. patético assim além do nível suportável.
então lydia cortou todo seu cabelo cor de flamingo,
fez uma bandeira com um vestido preto antigo, pegou o aquário de eddie e
saiu navegando os sete mares de água pluvial.
o piano, morrendo de inveja mas pesado demais para vingar-se, tocou a quinta de beethoven.