May 03, 2007 12:30
-...Não se pode esperar de um prisioneiro que sirva de boa vontade na casa do carcereiro da mesma forma, pai, de quem amputamos os membros, seria absurdo exigir um abraço de afeto; maior despropósito que isso só mesmo a vileza do aleijão que, na falta das mãos, recorre aos pés para aplaudir o seu algoz; age quem sabe com a paciência proverbial do boi: além do peso da canga, pede que lhe apertem o pescoço entre os canzis.
Fica mais feio o feio que consente o belo. ..
- Continue.
- E fica também mais pobre o pobre que aplaude o rico, menor o pequeno que aplaude o grande, mais baixo o baixo que aplaude o alto, e assim por diante.
Imaturo ou não, não reconheço mais os valores que me esmagam, acho um triste faz-de-conta viver na pele de terceiros, e nem entendo como se vê nobreza no arremedo dos desprovidos; a vítima ruidosa que aprova seu opressor se faz duas vezes prisioneira, a menos que faça essa pantomima atirada por seu cinismo.
- É muito estranho o que estou ouvindo.
[b]- Estranho é o mundo, pai, que só se une se desunindo; erguida sobre acidentes,
não há ordem que se sustente; não há nada mais espúrio do que o mérito, e não fui eu que semeei esta semente.[/b]
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Recomendadissímo.
Tanto o livro quando o filme.