Ultimate Cap 5
Abriu a porta e jogou uma dezena de sacolas no sofá da sala. Benji estava entrando na sala animado, parou ao ver aquilo:
-Kathy...
-Não! -respondeu ela levantando uma mão. -Não pergunta.
-Ela que comprou? -perguntou ele se aproximando das sacolas.
-Foi...
-Gucci...interessante.
-Conhece alguma instituição de caridade que aceite doação de roupas da Gucci?
Kathy estava sentada na frente do computador, digitando um e-mail quando alguém bateu na porta do quarto. Passava da uma da manhã.
-Entra. -disse ela. A porta abriu-se e Benji colocou a cabeça pra dentro:
-Marshall ta aí em baixo querendo falar com você.
-Já to indo. -respondeu Kathy.
Benji observou Marshall ao descer as escadas da casa. Ele encontrava-se sentado no sofá branco da sala, a chave do carro em mãos, brincando com o piercing do lábio. Era estranho côo o menino o lembrava de si mesmo aos 16 anos. Sacudiu a cabeça e se aproximou:
-Ela já ta descendo.
-Ah, valeu. -repsondeu Marsh.
-O Joel sabe que você ta aqui?
-Sabe que eu saí, não sabe onde eu fui.
-Ah, ta. Não é melhor avisar pra ele?
-Pode deixar, qualquer coisa o Mike avisa.
-Então ta. Vou subir, boa noite!
-Boa noite, tio. -E assim Benji subiu para seu quarto. Kathy demorou alguns minutos para chegar na sala. Vestia uma camiseta grande e larga, e um shorts curto, com uma pantufa roxa.
-Marshall! O que você ta fazendo aqui? -perguntou sentando-se ao lado dele.
-Vim conversar. Bom, tem umas coisas que a gente precisa ter na casa, com urgência.
-Além de comida?
-Além de comida! -riu-se ele.
-Pois diga.
-Seguinte, o Josh se machucou hoje...
-..pra variar!
-...e eu pensei em deixar um kit de primeiros socorros lá. Também precisamos levar uns colchões. Ir e voltar todo dia não dá.
-Certo. A gente pode ir comprar os colchões amanhã?
-Pode, pode sim!
-Ótimo! A gente aproveita e compra o kit.
-Beleza. -respondeu ele sorrindo.
Quando Marshall saiu já passavam das 3 da manhã.
Josh desceu as escadas rapidamente, passando pela mãe na sala:
-Bom dia mãe!
-Bom dia Joshua. -respondeu Linzi, concentrada em sua revista. Josh entrou na cozinha e deu de cara com Billy sentado à mesa.
-Bom dia, pai.
-Bom dia. -respondeu Billy comendo uma torrada. Josh pegou uma tigela, colocou cereal, pegou o leite de soja e despejou por cima. Pegou uma colher e sentou-se na frente do pai, comendo calmamente.
-O que é isso na sua mão? -perguntou Billy.
-Ah...eu me machuquei ontem.
-Como?
-Ajudando a carregar uma escada. Era pesada, de ferro.
-E você foi ver esse corte aí?
-Não. Mas o Adie disse que não pode tampar, tem que deixar assim pra cicatrizar. -e continuou comendo seu cereal.
-O Adie...?!...
-O Adam, pai.
-É, agora eu sei que Adie é o Adam...Todo mundo chama ele de Adie?
-Não...só eu, eu acho.
-E ele te chama de que?
-Joshy. Por que?
-Por nada....-respondeu Billy se levantando e saindo.
-Eu hein...
Pauline estava sentada na sala, com uma expressão nada agradável. À sua frente Paul gritava com Chris:
-VOCÊ TRANCOU A SUA IRMÃ!
-Tranquei...!
-NÓS TIVEMOS QUE CHAMAR UM CHAVEIRO! ISSO PORQUE ELA LIGOU PRA CASA DO CELULAR, PORQUE NÓS NEM A OUVÍAMOS GRITAR! CHRISTINE ISSO NÃO SE FAZ.
-Tá...pelo menos trancada ela me deixa em paz!
-CHRISTINE!
As semanas passaram iguais a todas as outras. Com a diferença que agora Adam tinha que fugir de casa todos os dias de manhã, e entrar novamente pela janela. E Kathy saía todos os dias com Sharon, e quando tentou fingir que estava doente, Benji desmentiu e a empurrou para sair com a mãe. No entanto a relação de ambas estava ficando quase insuportável. Kathy era obrigada a ouvir Sharon falar mal de tudo que seu pai havia feito, inclusive da banda, e, como bônus, responder um questionário sobre os hábitos de Benji. À tarde fazia Sharon a deixar na casa, e pedia para que Marshall a levasse de volta. Restava agora apenas a sexta feira, o sábado e o domingo de férias. Aliás, meia sexta feira. Kathy estava no carro com sua mãe, saindo do shopping onde Sharon fez mais uma compra de roupas caras para Kathy. Nesse mesmo shopping encontrou Pauline e Lara uma meia dúzia de vezes, e em todas elas Pauline fingiu não a conhecer.
-Eu nunca vou usar essas roupas. -resmungou Kathy.
-Vai sim. Quando você for morar comigo você só vai usar essas roupas. -respondeu Sharon saindo do estacionamento do shopping.
-Como é? -perguntou Kathy, confusa.
-O Benji não te contou? Eu quero que você venha morar comigo na Califórnia. É um lugar muito bonito e agradável, tenho certeza que você vai se adaptar muito bem ao clima e às pessoas. -disse calmamente, prestando atenção no trânsito.
-O...o...o Bem...O Benji, ele, ele concordou com isso? -perguntou Kathy apreensiva.
-Claro. Kathryn, você não é filha dele, não pode ficar aí pra sempre. Sabe, não é que você incomode, mas, o Benji precisa de privacidade. Talvez ele queira arranjar outra pessoa, você sabe, né? -disse Sharon ainda distraída. Kathy não conseguia enxergar direito. A cabeça doía, o corpo parecia estar dormindo, e as mão não tinham comendo nenhum.
-Me leva pro QG. -pediu Kathy.
-Mas nós ainda...
-Me leva pro QG agora! -gritou Kathy interrompendo Sharon.
-Não, Kathy, nós ainda temos o que fazer. Nós vamos...-Kathy agarrou a mochila, abriu a porta do carro e saltou. Caiu no chão, rolando pra calçada, levantou-se rapidamente sem prestar atenção em que danos havia causado em seu próprio corpo, pegou a mochila, botou nas costas e saiu correndo, ignorando a dor no joelho direito. Sharon tentou gritar, mas não podia sair da avenida onde estava.
Kathy logo avistou um ponto de ônibus, e um começava a andar. Correndo muito ela o alcançou. O motorista parou e ela entrou, jogando-se no primeiro banco vago que viu. Estava se sentindo traída, largada, abandonada. Precisava ficar sozinha.
-O som ta pronto! -exclamou Adam chegando no jardim dos fundos, onde uma alegre Chris e um mau humorado Josh pintavam um lustre velho.
-Sério? Vou lá ver! -exclamou Chris se levantado e saindo correndo. Josh, no entanto, continuou de cabeça baixa, olhando o lustre e pintando vagarosamente a sua parte.
-A casa ta pronta pra uma festa! -exclamou Adam o olhando. Josh deu um sorriso sem vontade, sem olhar para Adam. -O que foi, Joshy?
-Nada. -respondeu ele ainda pintando o lustre.
-Não quer ir ver o som?
-Não. Confio no seu trabalho.
-Ainda é aquilo de você querer ajudar? -Josh o olhou
-Por favooooor! Poxa, olha que coisa entediante eu to fazendo! -exclamou Josh. Adam sorriu e sentou-se ao lado dele.
-Eu te garanto que eu estava fazendo algo mais entediante ainda. Qual é Josh? Pelo menos assim você não se machuca e eu fico feliz! -disse Adam passando um braço em volta dos ombros pequenos de Josh.
-Adam, eu queria ajudar. -disse Josh
-Mas você ta ajudando. Bastante. -disse Adam sorrindo. Josh abaixou a cabeça. Adam pousou a mão que estava livre no rosto de Josh, erguendo seu rosto, fazendo-o olhá-lo nos olhos. -Por que essa necessidade tão grande de ajudar a gente?
-Porque eu...eu...não sei. -respondeu Josh sem mexer o rosto.
-Uma pessoa como você não pode ficar se machucando toda hora. É como violar algo sagrado. É por isso que eu cuido de você. -Josh sorriu.
-Mas eu ainda me sinto inútil. -respondeu ele ainda sorrindo. Adam sorriu também. Josh encostou mais o rosto na mão de Adam, colocando sua própria mão sobre a dele, e olhou para Adam. Ele continuou sorrindo, e inclinou-se um pouco, aproximando seu rosto do de Josh. E Josh, por sua vez, fez o mesmo. Pararam por um segundo, ouvindo o som alto vindo de dentro da casa. E continuaram se aproximando, a ponta dos narizes se tocava levemente já, e Josh podia sentira respiração de Adam perto de si, e a textura dos lábios do outro garoto cobrindo os seus. Era um beijo. Simples, só os lábios se tocando, nada mais que isso. Mas era o bastante para ambos. Durantes alguns segundos ficaram assim, até que se afastaram, sem jeito.
-Uh...-começou Adam. Josh tirou sua mão de cima da dele, e Adam afastou-se por completo.
-Bom...-tentou Josh.
-Isso que aconteceu, não...não foi nada né? -disse Adam olhando o chão.
-Não, não foi não. -respondeu Josh recomeçando a pintar o lustre.
-Assim, é normal entre amigos heteros isso acontecer às vezes, né? -disse Adam.
-É, é sim. Mas, tem quem não entenda.
-Então é melhor ninguém saber, né?
-É, concordo! -disse Josh o olhando. Adam o olhou e ambos riram.
-Bom, então, não aconteceu nada.
-Nada! Absolutamente nada.
-Ótimo. Vamos lá dentro? -perguntou Adam se levantando. Josh levantou-se rápido:
-Vamos sim. -e juntos foram pra dentro da casa ver o som que Adam havia instalado.
Kathy adentrou a casa com velocidade, e subiu metade das escadas sem nem olhar pros outros. De repente virou-se os encarando, que a olhavam intrigados:
-DESLIGA A DROGA DESSE SOM! -Adam correu e puxou o fio da tomada. -Agora sumam daqui! -disse mais calma.
-Kathy, você ta bem? -perguntou Chris.
-Não. Eu preciso que vocês saiam. Eu quero ficar sozinha. Entendem? Sozinha. Sem ninguém me perturbando, ta? Sozinha. -disse ela calmamente.
-Você ta toda machucada, Kathy! Aconteceu alguma coisa? -perguntou Marshall.
-Aconteceu. Mas, deixa pra lá ta? Agora eu só quero pensar um pouco. -disse ela subindo as escadas -Tranquem tudo quando saírem. -E sumiu escadas acima.
-...e ela saiu correndo desembestada do carro! -disse Sharon pela quarta vez, olhando Benji apreesiva.
-Você é terrível, Sharon! Se te deixar cuidando de duas tartarugas, as duas fogem e você não percebe! O que você falou pra Kathy? -perguntou benji tentando ligar para o celular de Kathy novamente.
-Não falei nada de mais! Falei que gostaria que ela fosse morar comigo um dia. E ela saiu correndo do carro. Mas eu já tinha conversado com ela sobre isso, e ela disse que adoraria ir. -disse Sharon. Benji a olhou e riu.
-A Kathy tem horror a você, Sharon.
-Nós estamos nos entendendo bem, Benji. Além disso, a Kathy indo morar comigo, seria um alívio pra você...
-A Kathy nunca foi um peso, Sharon. -disse Benji desligando o telefone. -Ela desligou o celular.
-Eu não entendo...
-Alguma coisa, você fez.
-Eu juro que não fiz nada! Ela que é maluca. Maluca igual ao pai! -disse Sharon levantando-se e pegando a bolsa. -Eu vou embora. Se ela aparecer diga para me ligar! -e saiu batendo a porta. Benji jogou-se no sofá, e por um momento, teve um dejá vu. Foi como naquele dia...
A porta do quarto de hotel estava fechada, como sempre. Benji parou na porta olhando intrigado. Passou a mão pela mexa pink no cabelo, indeciso se batia ou não. Era para Tony ter ligado quando saiu do show. Mas ele saiu do show e foi para uma festa com Matt e Joel, e não ligou. E voltou e não ligou, não deu sinal de vida. Pelo estado que Joel chegou, podia imaginar como Tony estava. Mas isso nunca foi motivo para que ele não ligasse. Afinal, era seu namorado. Deveria ter ido junto. Mas acabou preferindo ir para um restaurante vegan que Billy havia encontrado. Agora estava arrependido.
Respirou fundo e bateu na porta. Nada. Bateu novamente. Ouviu vozes. Estranho, Tony deveria estar sozinho no quarto. A porta abriu-se, revelando uma jovem de no máximo 20 anos, cabelos ruivos, cobrindo-se com um lençol. Olhou Benji por alguns segundos e bocejou. Esfregou os olhos e perguntou:
-O que é?
-O...o...o Tony...está? -perguntou Benji recusando-se a deduzir o óbvio.
-Tá chapado. Por que? -perguntou a garota, arrogantemente. Lá de dentro Benji pode ouvir a voz de Tony:
-Quem é? Hein menina?
-É o cara do Good Charlotte, o outro gêmeo, Benjamin, eu acho. -respondeu ela olhando para dentro. Benji empurrou a garota e entrou no quarto. Tony estava sentado na cama, a cabeça nas mãos, vestindo apenas uma samba-canção. Na hora ergueu a cabeça o olhando:
-Benji...
-Não..esquece. Eu estava me perguntando por que você não ligou mas acho que eu já entendi. -disse Benji.
-Eu posso explicar! -disse Tony levantando-se e cambaleando, caindo sentado na cama novamente.
-Como assim?-perguntou Sharon.
-Esse é o Benji. Meu namorado. -disse Tony com uma mão na cabeça, visivelmente dolorido. Sharon virou-se o fitando, e depois fitou Benji:
-Eu juro que eu não fiz nada!
E depois disso Sharon ficou grávida. E nove meses depois nasceu Kathryn. E Tony casou-se com Sharon. E o relacionamento dos dois acabou de vez. Benji não podia suportar a idéia de Tony estar com ele e Sharon. Nunca gostou de Sharon, nunca se deram bem. E agora parecia que ela estava tentando tirar Kathy dele também. Respirou fundo e pegou o telefone. Com Kathy só havia uma pessoa que sabia lidar, e essa pessoa era Marshall.
Marshall estacionou a mini van de volta na frente do QG. Havia ido levar os outros em casa e voltou. Pediu a Mike que avisasse Joel, mas ficaria ali velando por Kathy, mesmo que ela não quisesse sua presença lá dentro. Seu celular tocou de repente.
-Alô?
-Marsh? É o Benji.
-Fala, tio.
-Você sabe da Kathy?
-Sei. Mas ela pediu pra ficar sozinha. Ela chegou muito perturbada aqui no QG, e foi pro quarto. Deve estar deitada.
-QG?-E foi aí que Marshall lembrou que Benji não sabia sobre a cópia das chaves.
-Tio, não é a melhor hora pra explicar...
-É a casa do Tony?
-É. -respondeu Marshall.
-Eu to indo. -e desligou.
Marshall desligou o celular e ficou esperando.
Kathy trancou a porta do quarto que outrora foi de seu pai e sentou-se num canto, não contendo mais as lágrimas. Não sabia mais o que fazer. Não tinha ninguém. Ninguém...
Os únicos que podia chamar de família estavam em Chicago. E não sabia se iriam a querer por perto. Matt provavelmente a acharia um peso, e Steve tinha Brandon pra criar. Não poderia mais ficar em Washington. Por pior que fosse, em Chicago tinha sua casa, e já tinha 16 anos, e seu próprio dinheiro, poderia se virar sozinha. Pelo menos em Chicago estaria em seu lugar, sua cidade. Lá conhecia pessoas, e lá poderia ficar longe de Sharon e Benji.
Benji... ainda era algo que doía. Tudo. Se ele ia jogá-la pra fora depois, por que a chamou para ir morar com ele?
Abriu o closet e pegou a caixa de fotos que encontrou. Puxou uma foto antiga de seu pai.
-Por que você tinha que morrer? -perguntou baixinho, traçando os dedos na foto. Seus olhos, tão parecidos com os dele...mas tão fraca que nem parecia sua filha.
Um carro preto parou atrás da minivan de Marshall, e Benji desceu. Marshall desceu também, indo de encontro ao tio.
-Tio...
-Marshall, vai pra casa, ok? -disse Benji.
-Tio, não briga com ela, por favor. -pediu Marshall.
-Marshall, vai pra casa e não se preocupa. -disse Benji sorrindo e entrando pelo portão grande. Marshall viu Benji sumir no escuro da casa e entrou na mini van, indo embora.
Kathy ouviu alguém abrir a porta de baixo, e em seguida ouviu chamarem seu nome:
-KATHRYN! -Era Benji. Abriu a porta do quarto com violência, descendo as escadas, parou, encarando-o:
-Por que você não me falou antes que não me queria?
-Kathryn...
-Me deixa em paz, Benjamin! -disse voltando para o quarto e batendo a porta. Benji subiu e abriu a porta com violência, encontrando Kathy encolhida num canto, chorando.
-O que ela te fez? -perguntou Benji aproximando-se e ajoelhando na frente dela.
-Ela me contou...me contou que você quer que eu vá pra Califórnia com ela!
-Mas Kathy, eu não quero! -disse Benji a olhando.
-Ela disse que já tinha falado com você. Que você concordou que eu fosse. Se você não me quer aqui, por que me trouxe? -perguntou ela voltando a chorar. Benji abraçou a garota.
-É claro que eu te quero aqui, Kathy! Que maluquice é essa de que eu não quero? A Sharon é doida, Kathy! Você já deveria ter percebido.
Kathy abraçou Benji chorando em seu ombro.
-Sabe, eu achei que ela poderia ter mudado. Eu achei que tinha encontrado um familiar de verdade. Achei que ela fosse querer cuidar de mim, que gostasse de mim. É estranho porque eu só tinha meu pai, e ele...ele morreu. E eu nunca mais consegui me aproximar tanto de alguém, nunca mais consegui me abrir com ninguém...! Achei que ela, sendo minha mãe, ia ser fácil. Mas não. Ela só sabe falar mal do meu pai, de você, das minhas roupas, do meu cabelo, do meu palavreado, e falou mal dos gêmeos, do Josh, do Adam e da Chris, e ainda ofendeu o pouco de família que eu ainda tenho. E quer que eu vá pra Califórnia com ela...-e respirou, afastando-se e limpando o rosto.
-Kathy, você não tem que ir se não quiser.
-Eu vou voltar pra Chicago, já decidi. -disse séria
-Por que, Kathy? -perguntou benji calmamente. Se ela quisesse mesmo ir, não poderia impedi-la. Afinal, Chicago era seu lar, lá tinha Matt, Steve, Brandon...sua “famiglia”.
-Porque aqui eu fico atulhando a sua vida. Olha isso, você nunca mais arranjou ninguém, tem que me buscar na delegacia, bêbada em festas, e ainda sai tarde de casa pra vir me consolar...-disse ela olhando o chão. Benji sorriu, erguendo o rosto da garota, fazendo-a olhá-lo.
-Eu me preocupo com você. E eu não me importo de sair de casa pra te buscar nos lugares, nem pra vir te consolar. Eu não gosto quando você fica bêbada e você sabe. Nem quando você vai presa. E sobre arranjar outra pessoa, Kathy, o problema não é você. Eu teria outra pessoa se eu quisesse. Mas eu não quero. Eu não consigo. A lembrança do Tony ainda é muito forte. Fazem só 2 anos. Eu não conseguiria ter outra pessoa. -disse sorrindo.
-Mesmo?
-Mesmo, Kathy.
-Então...
-Então, que tal voltarmos pra casa? Amanhã você fala com a Sharon, diz que não quer ir pra Califórnia com ela. Fica aqui, começa as aulas, e no final de semana você vai pra Chicago visitar sua família. -disse Benji. Kathy sorriu.
-Ótima idéia...! Tô com saudades mesmo dos bastardos da mia famiglia. -riu-se ela.
Benji olhou em volta. O quarto tinha fotos espalhadas no chão, caixas, e um colchão no canto. Olhou novamente para Kathy, que parecia pronta pra explicar tudo.
-Vocês fizeram cópia da chave, é isso?
-É...
-Sabe, eu acho que é um lugar bem legal pra dar festas, não acha? -perguntou Benji sorrindo. Kathy sorriu também.
-É, é um lugar bem legal. O Adam instalou o som hoje.
-Legal. Vocês deveria fazer uma festa de final de férias aqui. Último fim de semana livre, né?
-Pois é...-animou-se Kathy. -Vou falar com os outros amanhã.
-Isso mesmo. Vem, melhor irmos pra casa agora. Já está tarde. -disse Benji puxando-se pela mão. Kathy parou antes de sair do quarto:
-Benji, tem essas fotos...eu quero que você fique com elas, são meio...perigosas. -disse Kathy pegando as fotos do chão e colocando na caixa que segurava a pouco. Fechou a caixa e entregou a Benji. Ele olhou e sorriu.
-Seu pai tinha cada lugar pra guardar as coisas...
-Kathy...
-Não! -respondeu ela levantando uma mão. -Não pergunta.
-Ela que comprou? -perguntou ele se aproximando das sacolas.
-Foi...
-Gucci...interessante.
-Conhece alguma instituição de caridade que aceite doação de roupas da Gucci?
Kathy estava sentada na frente do computador, digitando um e-mail quando alguém bateu na porta do quarto. Passava da uma da manhã.
-Entra. -disse ela. A porta abriu-se e Benji colocou a cabeça pra dentro:
-Marshall ta aí em baixo querendo falar com você.
-Já to indo. -respondeu Kathy.
Benji observou Marshall ao descer as escadas da casa. Ele encontrava-se sentado no sofá branco da sala, a chave do carro em mãos, brincando com o piercing do lábio. Era estranho côo o menino o lembrava de si mesmo aos 16 anos. Sacudiu a cabeça e se aproximou:
-Ela já ta descendo.
-Ah, valeu. -repsondeu Marsh.
-O Joel sabe que você ta aqui?
-Sabe que eu saí, não sabe onde eu fui.
-Ah, ta. Não é melhor avisar pra ele?
-Pode deixar, qualquer coisa o Mike avisa.
-Então ta. Vou subir, boa noite!
-Boa noite, tio. -E assim Benji subiu para seu quarto. Kathy demorou alguns minutos para chegar na sala. Vestia uma camiseta grande e larga, e um shorts curto, com uma pantufa roxa.
-Marshall! O que você ta fazendo aqui? -perguntou sentando-se ao lado dele.
-Vim conversar. Bom, tem umas coisas que a gente precisa ter na casa, com urgência.
-Além de comida?
-Além de comida! -riu-se ele.
-Pois diga.
-Seguinte, o Josh se machucou hoje...
-..pra variar!
-...e eu pensei em deixar um kit de primeiros socorros lá. Também precisamos levar uns colchões. Ir e voltar todo dia não dá.
-Certo. A gente pode ir comprar os colchões amanhã?
-Pode, pode sim!
-Ótimo! A gente aproveita e compra o kit.
-Beleza. -respondeu ele sorrindo.
Quando Marshall saiu já passavam das 3 da manhã.
Josh desceu as escadas rapidamente, passando pela mãe na sala:
-Bom dia mãe!
-Bom dia Joshua. -respondeu Linzi, concentrada em sua revista. Josh entrou na cozinha e deu de cara com Billy sentado à mesa.
-Bom dia, pai.
-Bom dia. -respondeu Billy comendo uma torrada. Josh pegou uma tigela, colocou cereal, pegou o leite de soja e despejou por cima. Pegou uma colher e sentou-se na frente do pai, comendo calmamente.
-O que é isso na sua mão? -perguntou Billy.
-Ah...eu me machuquei ontem.
-Como?
-Ajudando a carregar uma escada. Era pesada, de ferro.
-E você foi ver esse corte aí?
-Não. Mas o Adie disse que não pode tampar, tem que deixar assim pra cicatrizar. -e continuou comendo seu cereal.
-O Adie...?!...
-O Adam, pai.
-É, agora eu sei que Adie é o Adam...Todo mundo chama ele de Adie?
-Não...só eu, eu acho.
-E ele te chama de que?
-Joshy. Por que?
-Por nada....-respondeu Billy se levantando e saindo.
-Eu hein...
Pauline estava sentada na sala, com uma expressão nada agradável. À sua frente Paul gritava com Chris:
-VOCÊ TRANCOU A SUA IRMÃ!
-Tranquei...!
-NÓS TIVEMOS QUE CHAMAR UM CHAVEIRO! ISSO PORQUE ELA LIGOU PRA CASA DO CELULAR, PORQUE NÓS NEM A OUVÍAMOS GRITAR! CHRISTINE ISSO NÃO SE FAZ.
-Tá...pelo menos trancada ela me deixa em paz!
-CHRISTINE!
As semanas passaram iguais a todas as outras. Com a diferença que agora Adam tinha que fugir de casa todos os dias de manhã, e entrar novamente pela janela. E Kathy saía todos os dias com Sharon, e quando tentou fingir que estava doente, Benji desmentiu e a empurrou para sair com a mãe. No entanto a relação de ambas estava ficando quase insuportável. Kathy era obrigada a ouvir Sharon falar mal de tudo que seu pai havia feito, inclusive da banda, e, como bônus, responder um questionário sobre os hábitos de Benji. À tarde fazia Sharon a deixar na casa, e pedia para que Marshall a levasse de volta. Restava agora apenas a sexta feira, o sábado e o domingo de férias. Aliás, meia sexta feira. Kathy estava no carro com sua mãe, saindo do shopping onde Sharon fez mais uma compra de roupas caras para Kathy. Nesse mesmo shopping encontrou Pauline e Lara uma meia dúzia de vezes, e em todas elas Pauline fingiu não a conhecer.
-Eu nunca vou usar essas roupas. -resmungou Kathy.
-Vai sim. Quando você for morar comigo você só vai usar essas roupas. -respondeu Sharon saindo do estacionamento do shopping.
-Como é? -perguntou Kathy, confusa.
-O Benji não te contou? Eu quero que você venha morar comigo na Califórnia. É um lugar muito bonito e agradável, tenho certeza que você vai se adaptar muito bem ao clima e às pessoas. -disse calmamente, prestando atenção no trânsito.
-O...o...o Bem...O Benji, ele, ele concordou com isso? -perguntou Kathy apreensiva.
-Claro. Kathryn, você não é filha dele, não pode ficar aí pra sempre. Sabe, não é que você incomode, mas, o Benji precisa de privacidade. Talvez ele queira arranjar outra pessoa, você sabe, né? -disse Sharon ainda distraída. Kathy não conseguia enxergar direito. A cabeça doía, o corpo parecia estar dormindo, e as mão não tinham comendo nenhum.
-Me leva pro QG. -pediu Kathy.
-Mas nós ainda...
-Me leva pro QG agora! -gritou Kathy interrompendo Sharon.
-Não, Kathy, nós ainda temos o que fazer. Nós vamos...-Kathy agarrou a mochila, abriu a porta do carro e saltou. Caiu no chão, rolando pra calçada, levantou-se rapidamente sem prestar atenção em que danos havia causado em seu próprio corpo, pegou a mochila, botou nas costas e saiu correndo, ignorando a dor no joelho direito. Sharon tentou gritar, mas não podia sair da avenida onde estava.
Kathy logo avistou um ponto de ônibus, e um começava a andar. Correndo muito ela o alcançou. O motorista parou e ela entrou, jogando-se no primeiro banco vago que viu. Estava se sentindo traída, largada, abandonada. Precisava ficar sozinha.
-O som ta pronto! -exclamou Adam chegando no jardim dos fundos, onde uma alegre Chris e um mau humorado Josh pintavam um lustre velho.
-Sério? Vou lá ver! -exclamou Chris se levantado e saindo correndo. Josh, no entanto, continuou de cabeça baixa, olhando o lustre e pintando vagarosamente a sua parte.
-A casa ta pronta pra uma festa! -exclamou Adam o olhando. Josh deu um sorriso sem vontade, sem olhar para Adam. -O que foi, Joshy?
-Nada. -respondeu ele ainda pintando o lustre.
-Não quer ir ver o som?
-Não. Confio no seu trabalho.
-Ainda é aquilo de você querer ajudar? -Josh o olhou
-Por favooooor! Poxa, olha que coisa entediante eu to fazendo! -exclamou Josh. Adam sorriu e sentou-se ao lado dele.
-Eu te garanto que eu estava fazendo algo mais entediante ainda. Qual é Josh? Pelo menos assim você não se machuca e eu fico feliz! -disse Adam passando um braço em volta dos ombros pequenos de Josh.
-Adam, eu queria ajudar. -disse Josh
-Mas você ta ajudando. Bastante. -disse Adam sorrindo. Josh abaixou a cabeça. Adam pousou a mão que estava livre no rosto de Josh, erguendo seu rosto, fazendo-o olhá-lo nos olhos. -Por que essa necessidade tão grande de ajudar a gente?
-Porque eu...eu...não sei. -respondeu Josh sem mexer o rosto.
-Uma pessoa como você não pode ficar se machucando toda hora. É como violar algo sagrado. É por isso que eu cuido de você. -Josh sorriu.
-Mas eu ainda me sinto inútil. -respondeu ele ainda sorrindo. Adam sorriu também. Josh encostou mais o rosto na mão de Adam, colocando sua própria mão sobre a dele, e olhou para Adam. Ele continuou sorrindo, e inclinou-se um pouco, aproximando seu rosto do de Josh. E Josh, por sua vez, fez o mesmo. Pararam por um segundo, ouvindo o som alto vindo de dentro da casa. E continuaram se aproximando, a ponta dos narizes se tocava levemente já, e Josh podia sentira respiração de Adam perto de si, e a textura dos lábios do outro garoto cobrindo os seus. Era um beijo. Simples, só os lábios se tocando, nada mais que isso. Mas era o bastante para ambos. Durantes alguns segundos ficaram assim, até que se afastaram, sem jeito.
-Uh...-começou Adam. Josh tirou sua mão de cima da dele, e Adam afastou-se por completo.
-Bom...-tentou Josh.
-Isso que aconteceu, não...não foi nada né? -disse Adam olhando o chão.
-Não, não foi não. -respondeu Josh recomeçando a pintar o lustre.
-Assim, é normal entre amigos heteros isso acontecer às vezes, né? -disse Adam.
-É, é sim. Mas, tem quem não entenda.
-Então é melhor ninguém saber, né?
-É, concordo! -disse Josh o olhando. Adam o olhou e ambos riram.
-Bom, então, não aconteceu nada.
-Nada! Absolutamente nada.
-Ótimo. Vamos lá dentro? -perguntou Adam se levantando. Josh levantou-se rápido:
-Vamos sim. -e juntos foram pra dentro da casa ver o som que Adam havia instalado.
Kathy adentrou a casa com velocidade, e subiu metade das escadas sem nem olhar pros outros. De repente virou-se os encarando, que a olhavam intrigados:
-DESLIGA A DROGA DESSE SOM! -Adam correu e puxou o fio da tomada. -Agora sumam daqui! -disse mais calma.
-Kathy, você ta bem? -perguntou Chris.
-Não. Eu preciso que vocês saiam. Eu quero ficar sozinha. Entendem? Sozinha. Sem ninguém me perturbando, ta? Sozinha. -disse ela calmamente.
-Você ta toda machucada, Kathy! Aconteceu alguma coisa? -perguntou Marshall.
-Aconteceu. Mas, deixa pra lá ta? Agora eu só quero pensar um pouco. -disse ela subindo as escadas -Tranquem tudo quando saírem. -E sumiu escadas acima.
-...e ela saiu correndo desembestada do carro! -disse Sharon pela quarta vez, olhando Benji apreesiva.
-Você é terrível, Sharon! Se te deixar cuidando de duas tartarugas, as duas fogem e você não percebe! O que você falou pra Kathy? -perguntou benji tentando ligar para o celular de Kathy novamente.
-Não falei nada de mais! Falei que gostaria que ela fosse morar comigo um dia. E ela saiu correndo do carro. Mas eu já tinha conversado com ela sobre isso, e ela disse que adoraria ir. -disse Sharon. Benji a olhou e riu.
-A Kathy tem horror a você, Sharon.
-Nós estamos nos entendendo bem, Benji. Além disso, a Kathy indo morar comigo, seria um alívio pra você...
-A Kathy nunca foi um peso, Sharon. -disse Benji desligando o telefone. -Ela desligou o celular.
-Eu não entendo...
-Alguma coisa, você fez.
-Eu juro que não fiz nada! Ela que é maluca. Maluca igual ao pai! -disse Sharon levantando-se e pegando a bolsa. -Eu vou embora. Se ela aparecer diga para me ligar! -e saiu batendo a porta. Benji jogou-se no sofá, e por um momento, teve um dejá vu. Foi como naquele dia...
A porta do quarto de hotel estava fechada, como sempre. Benji parou na porta olhando intrigado. Passou a mão pela mexa pink no cabelo, indeciso se batia ou não. Era para Tony ter ligado quando saiu do show. Mas ele saiu do show e foi para uma festa com Matt e Joel, e não ligou. E voltou e não ligou, não deu sinal de vida. Pelo estado que Joel chegou, podia imaginar como Tony estava. Mas isso nunca foi motivo para que ele não ligasse. Afinal, era seu namorado. Deveria ter ido junto. Mas acabou preferindo ir para um restaurante vegan que Billy havia encontrado. Agora estava arrependido.
Respirou fundo e bateu na porta. Nada. Bateu novamente. Ouviu vozes. Estranho, Tony deveria estar sozinho no quarto. A porta abriu-se, revelando uma jovem de no máximo 20 anos, cabelos ruivos, cobrindo-se com um lençol. Olhou Benji por alguns segundos e bocejou. Esfregou os olhos e perguntou:
-O que é?
-O...o...o Tony...está? -perguntou Benji recusando-se a deduzir o óbvio.
-Tá chapado. Por que? -perguntou a garota, arrogantemente. Lá de dentro Benji pode ouvir a voz de Tony:
-Quem é? Hein menina?
-É o cara do Good Charlotte, o outro gêmeo, Benjamin, eu acho. -respondeu ela olhando para dentro. Benji empurrou a garota e entrou no quarto. Tony estava sentado na cama, a cabeça nas mãos, vestindo apenas uma samba-canção. Na hora ergueu a cabeça o olhando:
-Benji...
-Não..esquece. Eu estava me perguntando por que você não ligou mas acho que eu já entendi. -disse Benji.
-Eu posso explicar! -disse Tony levantando-se e cambaleando, caindo sentado na cama novamente.
-Como assim?-perguntou Sharon.
-Esse é o Benji. Meu namorado. -disse Tony com uma mão na cabeça, visivelmente dolorido. Sharon virou-se o fitando, e depois fitou Benji:
-Eu juro que eu não fiz nada!
E depois disso Sharon ficou grávida. E nove meses depois nasceu Kathryn. E Tony casou-se com Sharon. E o relacionamento dos dois acabou de vez. Benji não podia suportar a idéia de Tony estar com ele e Sharon. Nunca gostou de Sharon, nunca se deram bem. E agora parecia que ela estava tentando tirar Kathy dele também. Respirou fundo e pegou o telefone. Com Kathy só havia uma pessoa que sabia lidar, e essa pessoa era Marshall.
Marshall estacionou a mini van de volta na frente do QG. Havia ido levar os outros em casa e voltou. Pediu a Mike que avisasse Joel, mas ficaria ali velando por Kathy, mesmo que ela não quisesse sua presença lá dentro. Seu celular tocou de repente.
-Alô?
-Marsh? É o Benji.
-Fala, tio.
-Você sabe da Kathy?
-Sei. Mas ela pediu pra ficar sozinha. Ela chegou muito perturbada aqui no QG, e foi pro quarto. Deve estar deitada.
-QG?-E foi aí que Marshall lembrou que Benji não sabia sobre a cópia das chaves.
-Tio, não é a melhor hora pra explicar...
-É a casa do Tony?
-É. -respondeu Marshall.
-Eu to indo. -e desligou.
Marshall desligou o celular e ficou esperando.
Kathy trancou a porta do quarto que outrora foi de seu pai e sentou-se num canto, não contendo mais as lágrimas. Não sabia mais o que fazer. Não tinha ninguém. Ninguém...
Os únicos que podia chamar de família estavam em Chicago. E não sabia se iriam a querer por perto. Matt provavelmente a acharia um peso, e Steve tinha Brandon pra criar. Não poderia mais ficar em Washington. Por pior que fosse, em Chicago tinha sua casa, e já tinha 16 anos, e seu próprio dinheiro, poderia se virar sozinha. Pelo menos em Chicago estaria em seu lugar, sua cidade. Lá conhecia pessoas, e lá poderia ficar longe de Sharon e Benji.
Benji... ainda era algo que doía. Tudo. Se ele ia jogá-la pra fora depois, por que a chamou para ir morar com ele?
Abriu o closet e pegou a caixa de fotos que encontrou. Puxou uma foto antiga de seu pai.
-Por que você tinha que morrer? -perguntou baixinho, traçando os dedos na foto. Seus olhos, tão parecidos com os dele...mas tão fraca que nem parecia sua filha.
Um carro preto parou atrás da minivan de Marshall, e Benji desceu. Marshall desceu também, indo de encontro ao tio.
-Tio...
-Marshall, vai pra casa, ok? -disse Benji.
-Tio, não briga com ela, por favor. -pediu Marshall.
-Marshall, vai pra casa e não se preocupa. -disse Benji sorrindo e entrando pelo portão grande. Marshall viu Benji sumir no escuro da casa e entrou na mini van, indo embora.
Kathy ouviu alguém abrir a porta de baixo, e em seguida ouviu chamarem seu nome:
-KATHRYN! -Era Benji. Abriu a porta do quarto com violência, descendo as escadas, parou, encarando-o:
-Por que você não me falou antes que não me queria?
-Kathryn...
-Me deixa em paz, Benjamin! -disse voltando para o quarto e batendo a porta. Benji subiu e abriu a porta com violência, encontrando Kathy encolhida num canto, chorando.
-O que ela te fez? -perguntou Benji aproximando-se e ajoelhando na frente dela.
-Ela me contou...me contou que você quer que eu vá pra Califórnia com ela!
-Mas Kathy, eu não quero! -disse Benji a olhando.
-Ela disse que já tinha falado com você. Que você concordou que eu fosse. Se você não me quer aqui, por que me trouxe? -perguntou ela voltando a chorar. Benji abraçou a garota.
-É claro que eu te quero aqui, Kathy! Que maluquice é essa de que eu não quero? A Sharon é doida, Kathy! Você já deveria ter percebido.
Kathy abraçou Benji chorando em seu ombro.
-Sabe, eu achei que ela poderia ter mudado. Eu achei que tinha encontrado um familiar de verdade. Achei que ela fosse querer cuidar de mim, que gostasse de mim. É estranho porque eu só tinha meu pai, e ele...ele morreu. E eu nunca mais consegui me aproximar tanto de alguém, nunca mais consegui me abrir com ninguém...! Achei que ela, sendo minha mãe, ia ser fácil. Mas não. Ela só sabe falar mal do meu pai, de você, das minhas roupas, do meu cabelo, do meu palavreado, e falou mal dos gêmeos, do Josh, do Adam e da Chris, e ainda ofendeu o pouco de família que eu ainda tenho. E quer que eu vá pra Califórnia com ela...-e respirou, afastando-se e limpando o rosto.
-Kathy, você não tem que ir se não quiser.
-Eu vou voltar pra Chicago, já decidi. -disse séria
-Por que, Kathy? -perguntou benji calmamente. Se ela quisesse mesmo ir, não poderia impedi-la. Afinal, Chicago era seu lar, lá tinha Matt, Steve, Brandon...sua “famiglia”.
-Porque aqui eu fico atulhando a sua vida. Olha isso, você nunca mais arranjou ninguém, tem que me buscar na delegacia, bêbada em festas, e ainda sai tarde de casa pra vir me consolar...-disse ela olhando o chão. Benji sorriu, erguendo o rosto da garota, fazendo-a olhá-lo.
-Eu me preocupo com você. E eu não me importo de sair de casa pra te buscar nos lugares, nem pra vir te consolar. Eu não gosto quando você fica bêbada e você sabe. Nem quando você vai presa. E sobre arranjar outra pessoa, Kathy, o problema não é você. Eu teria outra pessoa se eu quisesse. Mas eu não quero. Eu não consigo. A lembrança do Tony ainda é muito forte. Fazem só 2 anos. Eu não conseguiria ter outra pessoa. -disse sorrindo.
-Mesmo?
-Mesmo, Kathy.
-Então...
-Então, que tal voltarmos pra casa? Amanhã você fala com a Sharon, diz que não quer ir pra Califórnia com ela. Fica aqui, começa as aulas, e no final de semana você vai pra Chicago visitar sua família. -disse Benji. Kathy sorriu.
-Ótima idéia...! Tô com saudades mesmo dos bastardos da mia famiglia. -riu-se ela.
Benji olhou em volta. O quarto tinha fotos espalhadas no chão, caixas, e um colchão no canto. Olhou novamente para Kathy, que parecia pronta pra explicar tudo.
-Vocês fizeram cópia da chave, é isso?
-É...
-Sabe, eu acho que é um lugar bem legal pra dar festas, não acha? -perguntou Benji sorrindo. Kathy sorriu também.
-É, é um lugar bem legal. O Adam instalou o som hoje.
-Legal. Vocês deveria fazer uma festa de final de férias aqui. Último fim de semana livre, né?
-Pois é...-animou-se Kathy. -Vou falar com os outros amanhã.
-Isso mesmo. Vem, melhor irmos pra casa agora. Já está tarde. -disse Benji puxando-se pela mão. Kathy parou antes de sair do quarto:
-Benji, tem essas fotos...eu quero que você fique com elas, são meio...perigosas. -disse Kathy pegando as fotos do chão e colocando na caixa que segurava a pouco. Fechou a caixa e entregou a Benji. Ele olhou e sorriu.
-Seu pai tinha cada lugar pra guardar as coisas...