Ultimate Cap 8
Adam jogou a mala no chão da sala, jogando-se de bruços no sofá, com a cara enterrada na almofada macia. Fechou os olhos, começando a pegar no sono quando o som de passos o alertou. Os passos pararam não muito longe.
-Como foi o primeiro dia?-perguntou a voz de seu pai. Pelo som, Adam podia dizer que ele estava parado ao seu lado, em pé, o fitando. Mas não abriu os olhos para confirmar.
-O de sempre. -respondeu com sono. “Oras...” pensou ele, “...o de sempre, tirando o fato que eu livrei o Josh e eu da aula de educação física, peguei ele no vestiário e fui pra diretoria e já tenho uma detenção na sexta.”
-Que bom. -e Adam ouviu os passos se afastarem. E fechou os olhos novamente. O vestiário, Josh parado ali, o olhar inocente, os lábios do garoto tocando os seus, os corpos juntos... e tentou varrer o pensamento. Não podia pensar em Josh agora. Mas, pelo menos agora ele sabia a verdade.
Mike entrou em casa, subindo as escadas arrastando a mala. Incrível como odiava acordar cedo.
-Michael! -gritou Joel do pé da escada. Ele virou-se encarando o pai, tão parecido com ele.
-Fala.
-Cadê seu irmão?
-Saiu com a Megan.
-Com quem?
-Megan, namorada dele. -respondeu Mike. Joel cruzou os braços o olhando.
-É isso que ele chama de castigo? Sair com a namorada? Porque, eu não sei se vocês estavam lembrando, mas vocês dois estão de castigo. Foi o nosso trato.
-É, eu lembrei, mas vai falar isso pro Marshall! -respondeu Mike.
-Ainda bem que você lembrou. Ele levou o celular? -perguntou Joel.
-Levou sim. Mas ele deve ter desligado. Ele provavelmente não vai querer ser interrompido. -disse Mike rindo.
-Certo. Eu espero ele chegar. -respondeu Joel saindo. -Ah, Mike, por ter obedecido seu castigo foi reduzido. -e saiu. Mike sorriu entrando no quarto, jogando a mochila no canto e ligando o rádio alto, se jogando na cama, fitando os pôsteres de bandas no teto.
Kathy chegou em casa tão irritada que não notou o canversível vermelho parado na porta. Entrou jogando a mochila no hall mesmo, desfazendo o colete queficava por cima da camisa da escola e afrouxando a gravata.
-Benji, eu ODEIO o seu sobrinho! De verdade! Cara ele é um chato quando está com a... -e estacou. Sharon estava sentada no sofá com uma xícara de café na mão, a fitando. Tinha o cabelo ruivo preso no alto da cabeça em um coque bem feito, deixando-a com ar sério, vestia um tailleur azul marinho, e a olhava com um meio sorrisinho que dava a Kathy a certeza de que algo estava errado.
-Cadê o Benji? -perguntou.
-Deve estar por aí. -respondeu friamente. -Venha aqui minha filha. Temos que conversar.
-Eu não tenho nada pra conversar com você. Cada dia que passa eu tenho mais certeza que você não presta! -disse Kathy tirando de vez o colete do uniforme.
-Você fica tão bonita arrumadinha no uniforme da escola. -disse com um sorriso.
-Você não tem mais o que fazer não? Assim, achei que você trabalhasse. -disse Kathy sentando-se no sofá à frente dela.
-Trabalho sim. Mas como eu disse, quero te levar comigo. -disse Sharon abrindo um sorriso completo.
-Não quero ir. Agora faça as suas malas e me deixe em paz. -disse Kathy séria.
-Achei que você mais parecida com o seu pai. Mas pelo jeito você não é tão aventureira. Kathryn, preste atenção: a Califórnia é o lugar perfeito pra você. Conhece Los Angeles? É a sua cara. Eu posso te matricular na melhor escola, te colocar em bons cursos de música, e te apresentar pessoas influentes no meio, você vai viver na alta sociedade, indo em festas todas as noites e se divertindo muito mais do que nesse monte de concreto que é Washington. -disse Sharon pousando a xícara no pires em cima da mesa de centro.
-Não. -E Kathy sorriu. -Sharon, Washington pode não ser o meu lugar, mas com certeza a Califórnia também não é. Eu sinto falta de Chicago, Blue Island, lá é o lugar perfeito pra mim, é onde a minha família vive. E sabe, eu não gosto de você. Desculpa Sharon, eu sei que você é minha mãe, mas eu não consigo olhar pra você e te ver como a minha mãe, entende?
Sharon a fitou por um momento, soltando um longo suspiro. A olhou por um instante, e levantou-se.
-Mantenha contato pelo menos. Eu quero saber se esse troglodita esta cuidando bem de você.
-Ele não é um troglodita. É o cara mais legal que eu conheço. E eu queria muito, muito mesmo que ele e meu pai nunca tivessem se separado. Mesmo que isso significasse que eu não nascesse. Pelo menos, meu pai ainda estaria vivo. -disse Kathy fitando Sharon com ar superior.
-Kathy, as pessoas não são eternas. O Benji não vai durar para sempre.
-Mas vai durar o bastante. Agora vai Sharon. -E Kathy observou Sharon sair da casa de Benji e bater a porta. O que Kathy não viu e nem ouviu foi Sharon do lado de fora.
Ela aproximou-se do conversível vermelho, onde um homem de terno preto a esperava:
-E aí? Conseguiu? -perguntou ele. Tinha o cabelo escuro penteado para trás, olhos mel, e a barba por fazer.
-Não. Mas eu tenho o plano perfeito. Hoje, conversando com o Madden eu descobri que ela é a herdeira dele. E você sabe, um homem sozinho, homossexual, famoso, com uma banda de rock e milionário está sempre sujeito a riscos. -disse Sharon colocando o óculos escuro.
-O que você quer dizer com isso, Sharon? -perguntou ele dando partida no carro e saindo pela rua em alta velocidade.
-Oras, fatalidades acontecem, tentativas de assalto podem resultar em mortes terríveis. -disse ela.
-Você não está pensando em...
-Henry, eu tenho uma conta da Gucci pra pagar, o aluguel desse carro, e minhas dívidas na Califórnia. Eu tenho um cofrinho nas mãos, mas ele não quer contribuir. Vai ter que ser do modo mais doloroso.
-Entendo. Vamos pensar em alguma coisa.
-Vamos? Eu já tenho tudo planejado, só preciso de alguém pra colocar isso em prática.
-Ela já foi? -perguntou Benji enfiando a cabeça pra dentro da sala.
-Já. Pelo jeito agora ela entendeu. -disse Kathy.
-Você não conhece a sua mãe. Que praga viu! Me atormentou a manhã toda! -disse Benji se jogando no sofá ao lado dela.
-Como ela não percebe que é inconveniente? -disse Kathy
-No fundo acho que ela até percebe. Ela precisa é de um bom terapeuta.
-Ela precisa é de uma boa noite de sexo. Isso é falta de dar, pelo amor de Deus!
-Kathy!
-Que? To falando sério! O único cara que ela deve ter dado foi pro meu pai. E ele era gay. Isso deve ter tirado alguns parafusos dela do lugar! -disse Kathy. Benji soltou uma gargalhada. Kathy riu também. -E não é?
-Tá Kathy, pode ser.
-Mas é. Poxa, meu pai era foda! Ela foi dar pra ele e, surpresa! Ele tem um namorado!
-Ela ficou mesmo surpresa quando soube.
-Então... bom, côo eu dizia quando eu cheguei, eu odeio o seu sobrinho!
-Nossa, qual deles?
-Qualquer um. Não faz tanta diferença, eles são iguais.
Eram quase nove da noite quando a porta pesada de carvalho da casa dos Madden foi lentamente aberta. Marsh entrou devagar. Tirou o sapato do uniforme, e fechou a porta silenciosamente. Virou-se para subir a escada quando quase morreu de susto. Seu pai estava bem atrás dele o olhando.
-O-oi pai...-disse Marsh.
-Nossa Marshall, acho que você se esqueceu do castigo... -disse Joel calmamente.
-É, esqueci. Desculpa, não vai mais acontecer. -disse Marshall se acalmando.
-Não vai mesmo. A partir de hoje é de casa pra escola, da escola pra casa, entendeu? Castigo eterno! -disse Joel.
-Mas pai...
-Não quero ouvir Marshall! Vai tomar um banho, e dormir. Amanhã cedo você tem aula.
Frank e Adam sentavam juntos na aula de biologia. Kathy e Josh sentavam juntos na aula de biologia. E kathy já estava lá, Adam e Frank também. Mas Josh não. Não conseguia entrar na aula. O cheiro do laboratório parecia enjoativo, estranho. Era um cheiro forte de formal misturado com algo que ele não conseguia definir.Respirou fundo e caminhou para dentro da sala.
-Hey Josh! Hoje nós vamos abrir sapos! -disse Kathy animada. Josh empalideceu. -Tá, eu já sei, eu faço isso.
-Não é abrir sapos Kathy, é dissecar. -disse Adam inclinando-se da mesa ao lado.
-Que seja, a gente vai ver ele por dentro do mesmo jeito. -disse ela rindo. Josh estava quieto. Odiava a aula de biologia. Era sempre assim, sempre animais sendo dissecados, abertos e usados como objetos de aula. A professora e um aluno passaram com uma bandeja deixando dois sapos mortos em cada mesa. As mesas no laboratório de biologia eram grandes e de madeira, e em cada uma sentavam duas pessoas. Desde sempre a sua dupla foi Kathy. Ela consguia fazê-lo riri com s comentários que fazia sobre o interior dos animais, e, como ele não tinha forças pra abrir o pobrezinho, ele fazia as anotações. E desde sempre foi UM, UM único animal para cada dupla. Hoje pelo jeito era um para cada um.
-Ih, cara, fudeu. Eu vou ter que anotar as coisas sozinha...! Josh eu vou copiar de você! -disse Kathy, mas Josh estava pálido olhando o sapo morto à sua frente. Olhava como se o sapo fosse virar o Godzilla e pular em cima dele a qualquer momento. Já na mesa ao lado, Adam e Frank faziam seus sapos dançarem juntos, causando risos de vários alunos ao redor.
-Hey, Josh, meu sapo dança! -disse Adam olhando pro lado.
-O meu ta morto. -resmungou Josh com lágrimas nos olhos.
-Cara, você ta bem? -perguntou Kathy.
-Não. -disse Josh sem tirar os olhos do sapo. Na mesa ao lado foi ouvido uma gargalhada forte de Adam e Frank. Aparentemente o sapo de Frank havia caído dentro da bolsa da garota da mesa da frente.
-Sr. Wilson e Sr.McCracken, podem fazer silêncio por favor? -pediu a professora.
-Desculpa! -respondeu Frank pegando o sapo rápido. Enquanto Chris segurava o riso.
A professora colocou na lousa o que queria que fizessem, e imediatamente todos começaram. Josh pegou o bisturi, olhando fixamente eu sapo. Virou-o de barriga para cima, e olhou de relance para o de Kathy, que já estava aberto, e que ela olhava com cara confusa.
-Meu sapo não vai mais poder dançar com o seu! -escutou Frank falar baixinho na mesa ao lado. Colocou o bisturi de leve na barriga do sapo, vendo um corte começar a aparecer. E sangue.
-Olha...eu acho que achei o coração dele! -resmungou Kathy. Josh a olhou, e ela sorriu, e seu sorrso sumiu em seguida. -Josh, você ta pálido. Mais do que já é.
-Você achou o que?
-O coração, olha! -disse Kathy pegando o coração minúsculo do sapo no bisturi e o mostrando. Josh viu o sangue, o sapo destruído na mesa, olhou para kathy, para o coração e se sentiu tonto, muito tonto, e não viu mais nada.
Adam escutou o baque no chão e olhou para o lado, vendo Josh caído. Kathy havia removido as luvas e estava ao lado dele, o olhando:
-Josh! Josh! Acorda! -dizia ela.
-O que aconteceu? -perguntou Adam indo para o lado dele também.
-Eu mostrei o coração do sapo pra ele, e ele ploft! Caiu! -disse Kathy desesperada.
-Nossa, que viado! Desmaiou por causa do bicho? -disse Frank. O alvoroço em cima de Josh estava grande. A professora saiu, e logo a enfermeira entrou na sala, levando Josh para a enfermaria. A aula havia sido cancelada.
Adam, Frank e Kathy sentaram-se no refeitório, quietos.
-Ele vai ficar bem? -perguntou Adam.
-Foi só um desmaio, cara. -disse Frank.
-É, o Josh é muito sensível quando o assunto são animais. A família toda dele é vegan. To até vendo o escândalo que o Billy vai vir fazer aqui na escola por causa dos sapos. -disse Kathy.
-Mas nós dissecamos sapos desde o ano passado! Isso nunca aconteceu. -disse Adam.
-Porque EU fazia todo o trabalho, ele só anotava. Hoje resolveram dar um só pra ele. -disse Kathy.
-Coitado. Deve ter ficado assustado. -disse Frank.
-É. Eu to preocupado. -disse Adam.
-Relaxa, ele ta bem. -disse Kathy. -Ele só ficou enjoado.
Josh apontou no refeitório, com um pouco mais de cor no rosto, e mochila nas costas. Adam levantou-se rápido, correndo até Josh e o abraçando.
-Como você ta? -murmurou no ouvido do garoto. Josh o abraçou forte.
-Bem. Mas me liberaram. Eu liguei pra casa e meu pai mandou o motorista vir me pegar. -disse baixinho. Abriu os olhos e viu Kathy os olhando com cara de quem ia apertar os dois. Fechou os olhos de novo, enquanto Adam o abraçava.
-Eu te levo até a porta. -disse Adam passando um braço protetoramente por cima dos ombros dele e caminhando até Kathy e Frank:
-Que lindos! -disse ela com um sorriso bobo.
-O que? -perguntou Josh.
-Eu vou levar o Josh até a porta, ele foi liberado. -disse Adam.
-Tá. -disse Kathy ainda com um sorriso bobo.
Adam caminhou com Josh até a porta, chegando quase que o mesmo tempo que um carro preto e grande onde o motorista dos Martin o esperava.
-Tchau, Adam. Valeu. -disse Josh. Adam sorriu segurando o rosto dele com as mãos. O porteiro da escola esperava impaciente com o portão aberto. Josh sorriu. Adam aproximou-se e deu-lhe um selinho demorado. Afastou-se novamente, ainda sorrindo.
-Se cuida.
-Vou tentar! -disse Josh acenando e entrando no carro. O carro saiu, e Adam virou-se para sair, não sem antes constatar o olhar espantado do porteiro. Colocou as mãos nos bolsos, abaixou a cabeça e foi andando com um sorrisinho bobo nos lábios.
-Viado! -ouviu alguém xingar. Olhou para o lado para ver um dos jockz da aula de educação física. Apertou o passo indo direto para o refeitório.
A saída foi como todos os outros dias. Tumultuada. Chris e Kathy estavam do lado de fora já quando Adam, Mike e Marsh apareceram:
-A gente vai colar lá no Josh, ver se ele melhorou. Querem ir? -perguntou Marsh.
-Achei que você tinha levado uma comida do seu pai ontem por ter desobedecido. -disse Kathy.
-É, levei. -disse Marshall, e parou, pensou um pouco. -Hey, quem te contou?
-Eu, né? Quem mora com você? -disse Mike. Marsh riu.
-Tá, vocês querem ir? -perguntou ele.
-Não posso. -disse Chris apontando Pauline que estava junto com uns jockz a esperando. Adam engoliu em seco ao ver o cara que o xingou junto com Pauline.
-Hey! -disse Lara entrando no meio deles. -A Paulie ta ficando irritada que você ta demorando. -disse olhando Chris.
-Droga. Vamos logo. Tchau gente. -disse Chris se afastando.
-Essa garota...-começou Mike, e todos o olharam. -Deixa pra lá.
-Bom, eu também não posso ir. Mas mandem um beijo pra ele. -disse Kathy sorrindo.
-Está bem. -disse Marshall. -Tchau. -E virou-se, se afastando.
Kathy ficou o olhando junto com os outros.
-Hey! -chamou ela. Ele virou-se e a olhou. -Uh...passa lá em casa depois.
-Passo sim. -disse ele sendo seguido pelos outros dois.
Quando chegaram Josh estava no quarto, jogando vídeo game. Linzi os acompanhou até a porta.
-Mas me conta direito Adam, ele simplesmente caiu? -perguntou ela.
-Foi. Eu não exatamente a cena, eu estava falando com o Frank, um garoto a fim da Kathy que senta comigo, e parece que a Kathy mostrou um órgão do sapo pra ele, e ele caiu, desmaiou. -disse Adam.
-O Billy vai lá na escola amanhã. Quero só ver. -disse ela parando na porta do quarto. -Ele está aí dentro. Fiquem a vontade. -e desceu as escadas novamente. Adam bateu na porta, e pode-se ouvir um ‘entra’ vindo de lá. Mike abriu a porta entrando com os outros.
-Cara, eu não acredito que eu desmaiei por causa de um sapo! -disse Josh sem tirar os olhos da tela da TV.
-Normal, você tem estômago fraco. -disse Marshall sentando-se na cama. -As meninas não puderam vir.
-E você deveria ter ido pra casa. Você ta de castigo. -disse Josh.
-Meu pai só chega às seis hoje, eu ainda tenho um tempinho. -disse Marshall.
-Nossa, é estranho sem a Kathy e a Chris perto. -disse Mike.
-A gente acabou se acostumando demais com a presença delas. -riu-se Adam
-Ia ser estranho sair sem elas um dia. -disse Josh desligando o vídeo game e os olhando. Os outros três o olhavam sérios. -O que? O que eu falei de errado?
-Faz muito tempo que não saímos os quatro juntos, sem as duas. -disse Mike.
-Muito tempo mesmo. -disse Adam.
-Que tal sexta? -sugeriu Marsh.
-Você ta de castigo. -lembrou Mike.
-Nada que eu não resolva. Olha só, a Kathy vai sair com o cara lá, a Chris a gente nem precisa avisar. A gente sai da aula e vai pra minha casa, vocês três se arrumam e saem, e eu finjo que fui dormir, e aí eu saio pela janela. Vocês me ajudam. -disse Marshall.
-Legal, eu topo. -disse Josh.
-Eu também. -disse Adam.
-Então, combinado? -perguntou Mike.
-Combinado! -respondeu Josh.
Eram quatro e meia da tarde quando Marshall e Mike foram embora. Adam disse que ia ficar um pouco mais (para desespero de Josh). A porta do quarto de Josh se fechou, deixando um silêncio incômodo e pesado no quarto.
-Um dos jockz viu. -disse Adam olhando Josh.
-Viu o que? -perguntou Josh.
-Eu... eu me despedindo de você. -disse Adam baixinho. Josh levantou-se do chão e foi sentar-se ao lado de Adam na cama.
-E aí? Te machucaram? -perguntou Josh segurando o rosto de Adam e o virando em busca de alguma evidência de que ele havia apanhado.
-Não, Josh...-riu-se Adam segurando as mãos do garoto que o olhava com ar preocupado. -Eles me chamaram de viado, e só. Mas foi um deles, e, ele é amigo da Pauline, acho que nem pega nada.
-Mas você não é viado, você é bi. -disse Josh rindo. Sua risada foi interrompida pelos lábios de Adam cobrindo os seus. Adam se afastou em seguida.
-Desculpa. É que eu não agüento. Você é perfeito demais. -disse ele. Josh sorriu, segurou o rosto de Adam com as mãos e o beijou. Adam o deitou na cama, o beijando. Parou e o olhou:
-Eu não sou bi. Eu não me interesso por garotas. Por nenhuma. -disse Adam.
-Sério? -perguntou Josh.
-Sério.
-Nunca contou pro pessoal, por que?
-Não sei. Medo eu acho. -respondeu Adam. -Mas quando a gente deu aquele selinho lá no QG, e você não ficou bravo, eu vi que talvez eu pudesse te contar e contar que eu... que.. que eu gosto de você.
-Eu também gosto de você. -disse Josh com a mão no rosto dele.
-Fica comigo, Josh? -pediu Adam.
-Eu já não estou ficando?
-Era só pra fazer oficial. -disse o beijando novamente.
Marshall estacou em certa parte do caminho. Mike o olhou confuso.
-A Kathy me pediu para passar lá. Dá tempo né? -perguntou Marshall.
-Dá. Olha, eu to indo pra casa...
-Pode ir. Eu vou até a Kathy.
-Beleza... -disse e continuou seu caminho. Marshall andou rápido mais algumas quadras, parando em frente ao portão grande da casa de Benji. O porteiro abriu o portão sem fazer perguntas e ele entrou. Abriu a porta e colocou a cabeça para dentro, olhando em volta.
-Kathy? -chamou ele. Segundos depois ouviu passos rápidos descendo a escada, e ela sorriu. Já estava livre do uniforme da escola, e vestia uma camiseta e um shorts. Ele sorriu também, entrou e fechou a porta indo até o pé da escada.
-Vem Marsh. Sobe, precisamos conversar. -disse ela séria.
Se o quarto de Marshall era bagunçado, o de Kathy era o extremo da falta de ordem. Coisas para todos os lados, o uniforme jogado em cima da cama, tênis por todos os cantos e meia até na luminária do computador.
-Entra aí, eu só vou pegar um chocolate lá em baixo. Quer alguma coisa? -perguntou ela já na porta.
-Ah, não, valeu. -respondeu Marsh. Kathy sorriu e saiu do quarto. Marsh observou cuidadosamente o quarto da garota, até chegar na escrivaninha, onde em destaque estava um porta-retratos. Na foto encontravam-se Tony, Benji e uma garotinha pequena, de uns dez anos, era Kathy. Marsh pegou o porta-retratos, observando a foto com um leve sorriso nos lábios.
-Eles eram felizes. Seriam até hoje se não fosse pela Sharon. -disse Kathy na porta do quarto comendo uma barra de chocolate. Marshall virou-se rápido, pousando o porta-retrato de volta no lugar.
-Eu..é..eu sei. -disse sorrindo. -Mas então...você me chamou aqui...
-Sim -respondeu ela sentando-se na cama, o olhando. -Sabe Marsh, você é o meu melhor amigo, sempre é você quem está me ajudando, e é sempre você que me anima quando alguma coisa acontece... -Marsh sentou-se ao lado dela sorrindo.
-Eu gosto muito de você, Kathy. É como se fosse uma irmã, prima, não sei explicar...sabe...
-Prima? Irmã? -pergunotu Kathy o olhando torto. -Tá, se você diz. Mas o que eu queria dizer não tem nada a ver com isso. Enfim, você viu o quadro de avisos na escola? -perguntou ela casualmente, olhando as próprias unhas.
-Não. Eu não leio o quadro de avisos. -respondeu Marsh normalmente.
-Como? Como você não lê? -perguntou Kathy indignada.
-Você só lê porque é ao lado do seu armário, Kathy. -apontou ele rindo. Kathy riu-se também.
-Tá, ta certo, mas enfim. Hoje no quadro de avisos estavam avisando sobre o show de inverno. Aquele que tem todo ano, sabe? Esse ano eles estão permitindo bandas.
-Sério? Nossa! Vai ser legal! -animou-se ele a olhando.
-Tava pensando...o que você acha da gente participar? -perguntou ela também animada.
-Tá brincando? -e ele riu -Eu mal sei tocar guitarra, e a gente precisa de um vocal legal...
-O Josh canta super bem. A Chris toca bateria e o Mike sabe tocar baixo, eu posso fazer o solo de guitarra se você quiser. -disse ela.
-E o Adam?
-O Adam vai participar da parte de iluminação do evento. Sabe como é, luzes, fios, coisas elétricas...o lado dele. -disse ela sorrindo.
-Então ta! Vamos participar! -respondeu Marsh animado.
-Uhn... só tem um probleminha. -apontou ela o olhando.
-Qual? Eu ainda não chamei os outros e você está de castigo. Como nós vamos ensaiar? -disse ela.
-Meu pai me proibiu de sair de casa. Mas não falou nada sobre levar gente pra lá. -disse ele com um sorriso maroto.
-Você ainda vai se encrencar muito por isso...-riu-se Kathy.
-E daí? To me divertindo. Não é pra isso que a gente vive? Pra se divertir? Pra viver fazendo o máximo de coisas legais possíveis? Então... -disse colocando-se de pé. -Mas se eu quiser continuar vivo é melhor eu ir embora.
-Tá certo. Te vejo amanhã. -disse ela também de pé, com um sorriso leve.
-Até! -e com isso ele desceu as escadas correndo sem olhar pra trás.
-Como foi o primeiro dia?-perguntou a voz de seu pai. Pelo som, Adam podia dizer que ele estava parado ao seu lado, em pé, o fitando. Mas não abriu os olhos para confirmar.
-O de sempre. -respondeu com sono. “Oras...” pensou ele, “...o de sempre, tirando o fato que eu livrei o Josh e eu da aula de educação física, peguei ele no vestiário e fui pra diretoria e já tenho uma detenção na sexta.”
-Que bom. -e Adam ouviu os passos se afastarem. E fechou os olhos novamente. O vestiário, Josh parado ali, o olhar inocente, os lábios do garoto tocando os seus, os corpos juntos... e tentou varrer o pensamento. Não podia pensar em Josh agora. Mas, pelo menos agora ele sabia a verdade.
Mike entrou em casa, subindo as escadas arrastando a mala. Incrível como odiava acordar cedo.
-Michael! -gritou Joel do pé da escada. Ele virou-se encarando o pai, tão parecido com ele.
-Fala.
-Cadê seu irmão?
-Saiu com a Megan.
-Com quem?
-Megan, namorada dele. -respondeu Mike. Joel cruzou os braços o olhando.
-É isso que ele chama de castigo? Sair com a namorada? Porque, eu não sei se vocês estavam lembrando, mas vocês dois estão de castigo. Foi o nosso trato.
-É, eu lembrei, mas vai falar isso pro Marshall! -respondeu Mike.
-Ainda bem que você lembrou. Ele levou o celular? -perguntou Joel.
-Levou sim. Mas ele deve ter desligado. Ele provavelmente não vai querer ser interrompido. -disse Mike rindo.
-Certo. Eu espero ele chegar. -respondeu Joel saindo. -Ah, Mike, por ter obedecido seu castigo foi reduzido. -e saiu. Mike sorriu entrando no quarto, jogando a mochila no canto e ligando o rádio alto, se jogando na cama, fitando os pôsteres de bandas no teto.
Kathy chegou em casa tão irritada que não notou o canversível vermelho parado na porta. Entrou jogando a mochila no hall mesmo, desfazendo o colete queficava por cima da camisa da escola e afrouxando a gravata.
-Benji, eu ODEIO o seu sobrinho! De verdade! Cara ele é um chato quando está com a... -e estacou. Sharon estava sentada no sofá com uma xícara de café na mão, a fitando. Tinha o cabelo ruivo preso no alto da cabeça em um coque bem feito, deixando-a com ar sério, vestia um tailleur azul marinho, e a olhava com um meio sorrisinho que dava a Kathy a certeza de que algo estava errado.
-Cadê o Benji? -perguntou.
-Deve estar por aí. -respondeu friamente. -Venha aqui minha filha. Temos que conversar.
-Eu não tenho nada pra conversar com você. Cada dia que passa eu tenho mais certeza que você não presta! -disse Kathy tirando de vez o colete do uniforme.
-Você fica tão bonita arrumadinha no uniforme da escola. -disse com um sorriso.
-Você não tem mais o que fazer não? Assim, achei que você trabalhasse. -disse Kathy sentando-se no sofá à frente dela.
-Trabalho sim. Mas como eu disse, quero te levar comigo. -disse Sharon abrindo um sorriso completo.
-Não quero ir. Agora faça as suas malas e me deixe em paz. -disse Kathy séria.
-Achei que você mais parecida com o seu pai. Mas pelo jeito você não é tão aventureira. Kathryn, preste atenção: a Califórnia é o lugar perfeito pra você. Conhece Los Angeles? É a sua cara. Eu posso te matricular na melhor escola, te colocar em bons cursos de música, e te apresentar pessoas influentes no meio, você vai viver na alta sociedade, indo em festas todas as noites e se divertindo muito mais do que nesse monte de concreto que é Washington. -disse Sharon pousando a xícara no pires em cima da mesa de centro.
-Não. -E Kathy sorriu. -Sharon, Washington pode não ser o meu lugar, mas com certeza a Califórnia também não é. Eu sinto falta de Chicago, Blue Island, lá é o lugar perfeito pra mim, é onde a minha família vive. E sabe, eu não gosto de você. Desculpa Sharon, eu sei que você é minha mãe, mas eu não consigo olhar pra você e te ver como a minha mãe, entende?
Sharon a fitou por um momento, soltando um longo suspiro. A olhou por um instante, e levantou-se.
-Mantenha contato pelo menos. Eu quero saber se esse troglodita esta cuidando bem de você.
-Ele não é um troglodita. É o cara mais legal que eu conheço. E eu queria muito, muito mesmo que ele e meu pai nunca tivessem se separado. Mesmo que isso significasse que eu não nascesse. Pelo menos, meu pai ainda estaria vivo. -disse Kathy fitando Sharon com ar superior.
-Kathy, as pessoas não são eternas. O Benji não vai durar para sempre.
-Mas vai durar o bastante. Agora vai Sharon. -E Kathy observou Sharon sair da casa de Benji e bater a porta. O que Kathy não viu e nem ouviu foi Sharon do lado de fora.
Ela aproximou-se do conversível vermelho, onde um homem de terno preto a esperava:
-E aí? Conseguiu? -perguntou ele. Tinha o cabelo escuro penteado para trás, olhos mel, e a barba por fazer.
-Não. Mas eu tenho o plano perfeito. Hoje, conversando com o Madden eu descobri que ela é a herdeira dele. E você sabe, um homem sozinho, homossexual, famoso, com uma banda de rock e milionário está sempre sujeito a riscos. -disse Sharon colocando o óculos escuro.
-O que você quer dizer com isso, Sharon? -perguntou ele dando partida no carro e saindo pela rua em alta velocidade.
-Oras, fatalidades acontecem, tentativas de assalto podem resultar em mortes terríveis. -disse ela.
-Você não está pensando em...
-Henry, eu tenho uma conta da Gucci pra pagar, o aluguel desse carro, e minhas dívidas na Califórnia. Eu tenho um cofrinho nas mãos, mas ele não quer contribuir. Vai ter que ser do modo mais doloroso.
-Entendo. Vamos pensar em alguma coisa.
-Vamos? Eu já tenho tudo planejado, só preciso de alguém pra colocar isso em prática.
-Ela já foi? -perguntou Benji enfiando a cabeça pra dentro da sala.
-Já. Pelo jeito agora ela entendeu. -disse Kathy.
-Você não conhece a sua mãe. Que praga viu! Me atormentou a manhã toda! -disse Benji se jogando no sofá ao lado dela.
-Como ela não percebe que é inconveniente? -disse Kathy
-No fundo acho que ela até percebe. Ela precisa é de um bom terapeuta.
-Ela precisa é de uma boa noite de sexo. Isso é falta de dar, pelo amor de Deus!
-Kathy!
-Que? To falando sério! O único cara que ela deve ter dado foi pro meu pai. E ele era gay. Isso deve ter tirado alguns parafusos dela do lugar! -disse Kathy. Benji soltou uma gargalhada. Kathy riu também. -E não é?
-Tá Kathy, pode ser.
-Mas é. Poxa, meu pai era foda! Ela foi dar pra ele e, surpresa! Ele tem um namorado!
-Ela ficou mesmo surpresa quando soube.
-Então... bom, côo eu dizia quando eu cheguei, eu odeio o seu sobrinho!
-Nossa, qual deles?
-Qualquer um. Não faz tanta diferença, eles são iguais.
Eram quase nove da noite quando a porta pesada de carvalho da casa dos Madden foi lentamente aberta. Marsh entrou devagar. Tirou o sapato do uniforme, e fechou a porta silenciosamente. Virou-se para subir a escada quando quase morreu de susto. Seu pai estava bem atrás dele o olhando.
-O-oi pai...-disse Marsh.
-Nossa Marshall, acho que você se esqueceu do castigo... -disse Joel calmamente.
-É, esqueci. Desculpa, não vai mais acontecer. -disse Marshall se acalmando.
-Não vai mesmo. A partir de hoje é de casa pra escola, da escola pra casa, entendeu? Castigo eterno! -disse Joel.
-Mas pai...
-Não quero ouvir Marshall! Vai tomar um banho, e dormir. Amanhã cedo você tem aula.
Frank e Adam sentavam juntos na aula de biologia. Kathy e Josh sentavam juntos na aula de biologia. E kathy já estava lá, Adam e Frank também. Mas Josh não. Não conseguia entrar na aula. O cheiro do laboratório parecia enjoativo, estranho. Era um cheiro forte de formal misturado com algo que ele não conseguia definir.Respirou fundo e caminhou para dentro da sala.
-Hey Josh! Hoje nós vamos abrir sapos! -disse Kathy animada. Josh empalideceu. -Tá, eu já sei, eu faço isso.
-Não é abrir sapos Kathy, é dissecar. -disse Adam inclinando-se da mesa ao lado.
-Que seja, a gente vai ver ele por dentro do mesmo jeito. -disse ela rindo. Josh estava quieto. Odiava a aula de biologia. Era sempre assim, sempre animais sendo dissecados, abertos e usados como objetos de aula. A professora e um aluno passaram com uma bandeja deixando dois sapos mortos em cada mesa. As mesas no laboratório de biologia eram grandes e de madeira, e em cada uma sentavam duas pessoas. Desde sempre a sua dupla foi Kathy. Ela consguia fazê-lo riri com s comentários que fazia sobre o interior dos animais, e, como ele não tinha forças pra abrir o pobrezinho, ele fazia as anotações. E desde sempre foi UM, UM único animal para cada dupla. Hoje pelo jeito era um para cada um.
-Ih, cara, fudeu. Eu vou ter que anotar as coisas sozinha...! Josh eu vou copiar de você! -disse Kathy, mas Josh estava pálido olhando o sapo morto à sua frente. Olhava como se o sapo fosse virar o Godzilla e pular em cima dele a qualquer momento. Já na mesa ao lado, Adam e Frank faziam seus sapos dançarem juntos, causando risos de vários alunos ao redor.
-Hey, Josh, meu sapo dança! -disse Adam olhando pro lado.
-O meu ta morto. -resmungou Josh com lágrimas nos olhos.
-Cara, você ta bem? -perguntou Kathy.
-Não. -disse Josh sem tirar os olhos do sapo. Na mesa ao lado foi ouvido uma gargalhada forte de Adam e Frank. Aparentemente o sapo de Frank havia caído dentro da bolsa da garota da mesa da frente.
-Sr. Wilson e Sr.McCracken, podem fazer silêncio por favor? -pediu a professora.
-Desculpa! -respondeu Frank pegando o sapo rápido. Enquanto Chris segurava o riso.
A professora colocou na lousa o que queria que fizessem, e imediatamente todos começaram. Josh pegou o bisturi, olhando fixamente eu sapo. Virou-o de barriga para cima, e olhou de relance para o de Kathy, que já estava aberto, e que ela olhava com cara confusa.
-Meu sapo não vai mais poder dançar com o seu! -escutou Frank falar baixinho na mesa ao lado. Colocou o bisturi de leve na barriga do sapo, vendo um corte começar a aparecer. E sangue.
-Olha...eu acho que achei o coração dele! -resmungou Kathy. Josh a olhou, e ela sorriu, e seu sorrso sumiu em seguida. -Josh, você ta pálido. Mais do que já é.
-Você achou o que?
-O coração, olha! -disse Kathy pegando o coração minúsculo do sapo no bisturi e o mostrando. Josh viu o sangue, o sapo destruído na mesa, olhou para kathy, para o coração e se sentiu tonto, muito tonto, e não viu mais nada.
Adam escutou o baque no chão e olhou para o lado, vendo Josh caído. Kathy havia removido as luvas e estava ao lado dele, o olhando:
-Josh! Josh! Acorda! -dizia ela.
-O que aconteceu? -perguntou Adam indo para o lado dele também.
-Eu mostrei o coração do sapo pra ele, e ele ploft! Caiu! -disse Kathy desesperada.
-Nossa, que viado! Desmaiou por causa do bicho? -disse Frank. O alvoroço em cima de Josh estava grande. A professora saiu, e logo a enfermeira entrou na sala, levando Josh para a enfermaria. A aula havia sido cancelada.
Adam, Frank e Kathy sentaram-se no refeitório, quietos.
-Ele vai ficar bem? -perguntou Adam.
-Foi só um desmaio, cara. -disse Frank.
-É, o Josh é muito sensível quando o assunto são animais. A família toda dele é vegan. To até vendo o escândalo que o Billy vai vir fazer aqui na escola por causa dos sapos. -disse Kathy.
-Mas nós dissecamos sapos desde o ano passado! Isso nunca aconteceu. -disse Adam.
-Porque EU fazia todo o trabalho, ele só anotava. Hoje resolveram dar um só pra ele. -disse Kathy.
-Coitado. Deve ter ficado assustado. -disse Frank.
-É. Eu to preocupado. -disse Adam.
-Relaxa, ele ta bem. -disse Kathy. -Ele só ficou enjoado.
Josh apontou no refeitório, com um pouco mais de cor no rosto, e mochila nas costas. Adam levantou-se rápido, correndo até Josh e o abraçando.
-Como você ta? -murmurou no ouvido do garoto. Josh o abraçou forte.
-Bem. Mas me liberaram. Eu liguei pra casa e meu pai mandou o motorista vir me pegar. -disse baixinho. Abriu os olhos e viu Kathy os olhando com cara de quem ia apertar os dois. Fechou os olhos de novo, enquanto Adam o abraçava.
-Eu te levo até a porta. -disse Adam passando um braço protetoramente por cima dos ombros dele e caminhando até Kathy e Frank:
-Que lindos! -disse ela com um sorriso bobo.
-O que? -perguntou Josh.
-Eu vou levar o Josh até a porta, ele foi liberado. -disse Adam.
-Tá. -disse Kathy ainda com um sorriso bobo.
Adam caminhou com Josh até a porta, chegando quase que o mesmo tempo que um carro preto e grande onde o motorista dos Martin o esperava.
-Tchau, Adam. Valeu. -disse Josh. Adam sorriu segurando o rosto dele com as mãos. O porteiro da escola esperava impaciente com o portão aberto. Josh sorriu. Adam aproximou-se e deu-lhe um selinho demorado. Afastou-se novamente, ainda sorrindo.
-Se cuida.
-Vou tentar! -disse Josh acenando e entrando no carro. O carro saiu, e Adam virou-se para sair, não sem antes constatar o olhar espantado do porteiro. Colocou as mãos nos bolsos, abaixou a cabeça e foi andando com um sorrisinho bobo nos lábios.
-Viado! -ouviu alguém xingar. Olhou para o lado para ver um dos jockz da aula de educação física. Apertou o passo indo direto para o refeitório.
A saída foi como todos os outros dias. Tumultuada. Chris e Kathy estavam do lado de fora já quando Adam, Mike e Marsh apareceram:
-A gente vai colar lá no Josh, ver se ele melhorou. Querem ir? -perguntou Marsh.
-Achei que você tinha levado uma comida do seu pai ontem por ter desobedecido. -disse Kathy.
-É, levei. -disse Marshall, e parou, pensou um pouco. -Hey, quem te contou?
-Eu, né? Quem mora com você? -disse Mike. Marsh riu.
-Tá, vocês querem ir? -perguntou ele.
-Não posso. -disse Chris apontando Pauline que estava junto com uns jockz a esperando. Adam engoliu em seco ao ver o cara que o xingou junto com Pauline.
-Hey! -disse Lara entrando no meio deles. -A Paulie ta ficando irritada que você ta demorando. -disse olhando Chris.
-Droga. Vamos logo. Tchau gente. -disse Chris se afastando.
-Essa garota...-começou Mike, e todos o olharam. -Deixa pra lá.
-Bom, eu também não posso ir. Mas mandem um beijo pra ele. -disse Kathy sorrindo.
-Está bem. -disse Marshall. -Tchau. -E virou-se, se afastando.
Kathy ficou o olhando junto com os outros.
-Hey! -chamou ela. Ele virou-se e a olhou. -Uh...passa lá em casa depois.
-Passo sim. -disse ele sendo seguido pelos outros dois.
Quando chegaram Josh estava no quarto, jogando vídeo game. Linzi os acompanhou até a porta.
-Mas me conta direito Adam, ele simplesmente caiu? -perguntou ela.
-Foi. Eu não exatamente a cena, eu estava falando com o Frank, um garoto a fim da Kathy que senta comigo, e parece que a Kathy mostrou um órgão do sapo pra ele, e ele caiu, desmaiou. -disse Adam.
-O Billy vai lá na escola amanhã. Quero só ver. -disse ela parando na porta do quarto. -Ele está aí dentro. Fiquem a vontade. -e desceu as escadas novamente. Adam bateu na porta, e pode-se ouvir um ‘entra’ vindo de lá. Mike abriu a porta entrando com os outros.
-Cara, eu não acredito que eu desmaiei por causa de um sapo! -disse Josh sem tirar os olhos da tela da TV.
-Normal, você tem estômago fraco. -disse Marshall sentando-se na cama. -As meninas não puderam vir.
-E você deveria ter ido pra casa. Você ta de castigo. -disse Josh.
-Meu pai só chega às seis hoje, eu ainda tenho um tempinho. -disse Marshall.
-Nossa, é estranho sem a Kathy e a Chris perto. -disse Mike.
-A gente acabou se acostumando demais com a presença delas. -riu-se Adam
-Ia ser estranho sair sem elas um dia. -disse Josh desligando o vídeo game e os olhando. Os outros três o olhavam sérios. -O que? O que eu falei de errado?
-Faz muito tempo que não saímos os quatro juntos, sem as duas. -disse Mike.
-Muito tempo mesmo. -disse Adam.
-Que tal sexta? -sugeriu Marsh.
-Você ta de castigo. -lembrou Mike.
-Nada que eu não resolva. Olha só, a Kathy vai sair com o cara lá, a Chris a gente nem precisa avisar. A gente sai da aula e vai pra minha casa, vocês três se arrumam e saem, e eu finjo que fui dormir, e aí eu saio pela janela. Vocês me ajudam. -disse Marshall.
-Legal, eu topo. -disse Josh.
-Eu também. -disse Adam.
-Então, combinado? -perguntou Mike.
-Combinado! -respondeu Josh.
Eram quatro e meia da tarde quando Marshall e Mike foram embora. Adam disse que ia ficar um pouco mais (para desespero de Josh). A porta do quarto de Josh se fechou, deixando um silêncio incômodo e pesado no quarto.
-Um dos jockz viu. -disse Adam olhando Josh.
-Viu o que? -perguntou Josh.
-Eu... eu me despedindo de você. -disse Adam baixinho. Josh levantou-se do chão e foi sentar-se ao lado de Adam na cama.
-E aí? Te machucaram? -perguntou Josh segurando o rosto de Adam e o virando em busca de alguma evidência de que ele havia apanhado.
-Não, Josh...-riu-se Adam segurando as mãos do garoto que o olhava com ar preocupado. -Eles me chamaram de viado, e só. Mas foi um deles, e, ele é amigo da Pauline, acho que nem pega nada.
-Mas você não é viado, você é bi. -disse Josh rindo. Sua risada foi interrompida pelos lábios de Adam cobrindo os seus. Adam se afastou em seguida.
-Desculpa. É que eu não agüento. Você é perfeito demais. -disse ele. Josh sorriu, segurou o rosto de Adam com as mãos e o beijou. Adam o deitou na cama, o beijando. Parou e o olhou:
-Eu não sou bi. Eu não me interesso por garotas. Por nenhuma. -disse Adam.
-Sério? -perguntou Josh.
-Sério.
-Nunca contou pro pessoal, por que?
-Não sei. Medo eu acho. -respondeu Adam. -Mas quando a gente deu aquele selinho lá no QG, e você não ficou bravo, eu vi que talvez eu pudesse te contar e contar que eu... que.. que eu gosto de você.
-Eu também gosto de você. -disse Josh com a mão no rosto dele.
-Fica comigo, Josh? -pediu Adam.
-Eu já não estou ficando?
-Era só pra fazer oficial. -disse o beijando novamente.
Marshall estacou em certa parte do caminho. Mike o olhou confuso.
-A Kathy me pediu para passar lá. Dá tempo né? -perguntou Marshall.
-Dá. Olha, eu to indo pra casa...
-Pode ir. Eu vou até a Kathy.
-Beleza... -disse e continuou seu caminho. Marshall andou rápido mais algumas quadras, parando em frente ao portão grande da casa de Benji. O porteiro abriu o portão sem fazer perguntas e ele entrou. Abriu a porta e colocou a cabeça para dentro, olhando em volta.
-Kathy? -chamou ele. Segundos depois ouviu passos rápidos descendo a escada, e ela sorriu. Já estava livre do uniforme da escola, e vestia uma camiseta e um shorts. Ele sorriu também, entrou e fechou a porta indo até o pé da escada.
-Vem Marsh. Sobe, precisamos conversar. -disse ela séria.
Se o quarto de Marshall era bagunçado, o de Kathy era o extremo da falta de ordem. Coisas para todos os lados, o uniforme jogado em cima da cama, tênis por todos os cantos e meia até na luminária do computador.
-Entra aí, eu só vou pegar um chocolate lá em baixo. Quer alguma coisa? -perguntou ela já na porta.
-Ah, não, valeu. -respondeu Marsh. Kathy sorriu e saiu do quarto. Marsh observou cuidadosamente o quarto da garota, até chegar na escrivaninha, onde em destaque estava um porta-retratos. Na foto encontravam-se Tony, Benji e uma garotinha pequena, de uns dez anos, era Kathy. Marsh pegou o porta-retratos, observando a foto com um leve sorriso nos lábios.
-Eles eram felizes. Seriam até hoje se não fosse pela Sharon. -disse Kathy na porta do quarto comendo uma barra de chocolate. Marshall virou-se rápido, pousando o porta-retrato de volta no lugar.
-Eu..é..eu sei. -disse sorrindo. -Mas então...você me chamou aqui...
-Sim -respondeu ela sentando-se na cama, o olhando. -Sabe Marsh, você é o meu melhor amigo, sempre é você quem está me ajudando, e é sempre você que me anima quando alguma coisa acontece... -Marsh sentou-se ao lado dela sorrindo.
-Eu gosto muito de você, Kathy. É como se fosse uma irmã, prima, não sei explicar...sabe...
-Prima? Irmã? -pergunotu Kathy o olhando torto. -Tá, se você diz. Mas o que eu queria dizer não tem nada a ver com isso. Enfim, você viu o quadro de avisos na escola? -perguntou ela casualmente, olhando as próprias unhas.
-Não. Eu não leio o quadro de avisos. -respondeu Marsh normalmente.
-Como? Como você não lê? -perguntou Kathy indignada.
-Você só lê porque é ao lado do seu armário, Kathy. -apontou ele rindo. Kathy riu-se também.
-Tá, ta certo, mas enfim. Hoje no quadro de avisos estavam avisando sobre o show de inverno. Aquele que tem todo ano, sabe? Esse ano eles estão permitindo bandas.
-Sério? Nossa! Vai ser legal! -animou-se ele a olhando.
-Tava pensando...o que você acha da gente participar? -perguntou ela também animada.
-Tá brincando? -e ele riu -Eu mal sei tocar guitarra, e a gente precisa de um vocal legal...
-O Josh canta super bem. A Chris toca bateria e o Mike sabe tocar baixo, eu posso fazer o solo de guitarra se você quiser. -disse ela.
-E o Adam?
-O Adam vai participar da parte de iluminação do evento. Sabe como é, luzes, fios, coisas elétricas...o lado dele. -disse ela sorrindo.
-Então ta! Vamos participar! -respondeu Marsh animado.
-Uhn... só tem um probleminha. -apontou ela o olhando.
-Qual? Eu ainda não chamei os outros e você está de castigo. Como nós vamos ensaiar? -disse ela.
-Meu pai me proibiu de sair de casa. Mas não falou nada sobre levar gente pra lá. -disse ele com um sorriso maroto.
-Você ainda vai se encrencar muito por isso...-riu-se Kathy.
-E daí? To me divertindo. Não é pra isso que a gente vive? Pra se divertir? Pra viver fazendo o máximo de coisas legais possíveis? Então... -disse colocando-se de pé. -Mas se eu quiser continuar vivo é melhor eu ir embora.
-Tá certo. Te vejo amanhã. -disse ela também de pé, com um sorriso leve.
-Até! -e com isso ele desceu as escadas correndo sem olhar pra trás.