Título: Sangreal
Autora: Yoko Hiyama
hirenkoiLivro: Harry Potter
Beta:
bela_chanClassificação: Yaoi
Par: Sirius & Remus
Outros pares: Draco & Harry e one sided Snape & Harry
Comentários: Universo Alternativo. Baseado nos RPGs de Vampiro, Lobisomem e Mago. Com algumas adaptações livres. Aqueles que não têm intimidade com RPG, não deixem de ler as notas explicativas! ~Missão 30 fics~
Alerta: Violência; Morte de personagem
Palavras: 3.818
Tema: morte
Harry voltou-se para olhar Draco e o que viu foram exatamente os mesmos olhos cinzas repletos de ódio que o loiro ostentara há poucas horas atrás, ao descobrir que Harry nunca esteve sob o efeito de Presença.
O Ventrue estava encostado num muro mal iluminado, mas os olhos de Harry o enxergavam muito bem. Belo e elegante como sempre, com seu terno bem cortado e cheiro de colônia masculina.
- Draco... - Harry ainda tentou argumentar, na esperança de que o Ventrue pelo menos o ouvisse, mas antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, foi interrompido.
- Cale a boca. Você volta comigo pro castelo. Agora.
- Eu não vou voltar.
- Então eu vou matar você aqui. - Draco respondeu agressivo, afastando-se do muro e se colocando em posição de batalha.
- Você não pode me matar. Suas leis proíbem. - Harry respondeu, mantendo uma calma enervante.
- Você quer apostar sua imortalidade nisso? - Draco grunhiu e Harry percebeu que ele não estava brincando.
- Não quero lutar com você... Você não pode simplesmente apenas me deixar ir?
- Nem pense nessa possibilidade, Potter! - ele retrucou, irritado - Eu sei perfeitamente que você está proibido de deixar o castelo e de jeito nenhum vou permitir que ignore ordens expressas do Príncipe!
Harry olhou para Draco, seus olhos pela primeira vez traindo alguma impaciência.
- Eu não tenho muito tempo, por isso vou ser breve. - falou - Eu preciso salvar Sirius. Ele é como se fosse o último parente vivo que me restou e quando eu precisei, Sirius se arriscou, e muito, pra me salvar. Como eu disse, não quero lutar nem te fazer mal Draco, mas se você insistir em ficar no meu caminho, não terei outra escolha. Você entendeu?
- Então pode se considerar sem escolha! - Draco respondeu, prontamente.
- Droga, Draco! Pense um pouco pelo menos! Você só tem a ganhar me deixando ir!
- É mesmo? - ele rebateu, irônico - Por exemplo?
- Não se esqueça de que eu estou indo me enfiar no meio dos lobos. Se você quer tanto me ver morto, essa é a sua chance, certo?
- E quem disse que eu quero te ver morto!
Harry arregalou os olhos pela surpresa de ouvir aquela frase, um sorriso nascendo em seu rosto.
- Não quer?
- Claro que não! E pode tirar esse sorrisinho arrogante que eu odeio da cara! O que eu desejo a você é algo muito pior do que a morte, escutou bem? Eu quero te ver humilhado, eu quero te ver destruído!
- Tudo bem, Draco. Deixe-me ir e quando eu voltar juro que deixo você me humilhar à vontade.
- Não! - Draco foi veemente - Você não vai! Se você for, quem me garante que vai voltar! Quem me garante que tudo isso não é um plano seu e de seus amigos e que você não vai trair a todos nós?... Quem me garante que você não vai morrer nas garras daqueles lupinos como o vampiro estúpido que você é!
Harry balançou a cabeça com impaciência ao ouvir aquelas palavras raivosas e só então avançou sobre Draco, puxando-o com força pelo terno com uma velocidade tão espantosa que o Ventrue não teve tempo sequer de se debater. O Tzimisce só então pressionou o corpo do Ventrue contra o muro, afastando com ansiedade os tecidos que cobriam o seu pescoço.
Draco tentou reagir quando percebeu a intenção de Harry, mas não teve tempo pra nada além de gemer de raiva e prazer quando, no segundo seguinte, Harry cravou suas presas em seu pescoço, furando a pele fria para logo depois colar os lábios nela. As mãos trêmulas de Draco logo buscaram o ombro de Harry quando ele começou a sugar, suas unhas se enfiando com tanta força na carne do Tzimisce que a camisa branca se tingiu de sangue. Mas apesar da dor, Harry sequer pensou em parar de sugar até que as garras de Draco perdessem gradualmente a força, deslizando devagar pelo seu peito.
O Tzimisce só se deu por satisfeito quando ouviu os gemidos de Draco, antes fortes e combativos, se tornarem, aos poucos, fracos e débeis. Foi só quando o percebeu totalmente entregue que Harry finalmente lambeu a ferida que ele próprio havia provocado, para logo depois segurar os braços de Draco, apoiando-o com firmeza ao sentir seu corpo deslizar devagar, ainda encostado no muro, até chegar ao chão.
Harry olhou o rosto ainda mais pálido do loiro e antes que percebesse, suas mãos já seguravam sua face, os polegares acariciando-o delicadamente. O Tzimisce então deu um sorriso um pouco triste, mas quando tentou levantar, percebeu que a mão esquerda de Draco ainda o segurava pela camisa.
- Não... não vá... - o loiro balbuciou, sem forças, fazendo Harry sorrir enquanto tentava se libertar delicadamente da mão que o aprisionava, não encontrando muita resistência ao tentar abrir seus dedos.
- Adeus, meu Príncipe... - ele sussurrou em seu ouvido e só então levantou-se, desaparecendo na escuridão (1).
Quase sessenta anos haviam se passado, mas Sirius jamais seria capaz de esquecer um só minuto daquela noite.
A noite em que um exército Sabá levantou-se, terrível, centenas de vampiros recém-abraçados e carniçais contra um diminuto, mas corajoso, grupo de magos prontos pra lutar.
Todos ali sabiam qual era a missão que carregavam nos ombros: deveriam proteger aquele lugar. Também sabiam que aqueles inimigos não conheciam o perdão ou a clemência e que, se fraquejassem, não só suas vidas terminariam ali, como também todo o conhecimento acumulado durante centenas de anos se perderia pra sempre.
Sirius não discutiu quando James o mandou dar a volta por trás do grupo e aguardar escondido na floresta, bem atrás de seus agressores. Conhecia-o bem o suficiente para saber que o mago tinha um plano. O Gangrel então se posicionou de pé no local combinado, apenas ouvindo os gritos vindos do campo de batalha.
Esperou no local combinado durante alguns minutos, impaciente, imaginando as coisas mais terríveis enquanto ouvia os gritos vindos do campo de batalha. Até que, de repente, um barulho que mais parecia um rugido sobressaltou Sirius, e ele precisou de toda a sua força de vontade pra não retroceder de medo ao ver uma enorme língua de fogo surgir no campo de batalha.
- Diabos! - Sirius arregalou os olhos quando viu uma dezena de vampiros correndo em pânico na sua direção, mas tratou de se recuperar rápido do susto e pôr em ação a parte que lhe cabia naquele plano.
Sirius deixou as garras crescerem e esperou até que os primeiros vampiros o encontrassem, desesperados demais pelo medo do fogo para se darem conta de sua presença. Foi só quando o grupo entrou no seu campo de ação que o Gangrel se mexeu, cortando uma, duas, dez cabeças com uma facilidade espantosa. Um pouco decepcionado, mas nada exausto, cuidou de uma segunda leva de vampiros exatamente da mesma forma que a primeira.
Minutos se passaram sem que Sirius tivesse muita dificuldade pra matar todos que via pela frente. Vez ou outra surgia algum vampiro de sangue mais forte, capaz de resistir a seus ataques, mas era só uma questão de mais alguns minutos para que ganhasse o mesmo destino dos demais.
Quando percebeu que não viriam mais vampiros, Sirius abaixou a guarda e só então olhou em volta, não sendo capaz de contar o número de crianças da noite que tinha acabado de destruir.
- Vencemos? - Sirius se perguntou, percebendo que não havia mais gritos. Somente o som de alguns lamentos e gemidos.
- Vencemos! - um mago se atreveu a gritar depois de alguns minutos de expectativa, a espera de mais algum agressor.
- Espero que eles tenham aprendido a lição. - um outro comentou, satisfeito, fazendo desaparecer as chamas que envolviam suas mãos.
Seguiu-se uma comemoração contida. Alguns batiam palmas, outros gritavam algumas palavras festivas. Depois de quase uma hora de batalha, aquele pequeno grupo de magos tinha conseguido vencer um exército de mais de cem vampiros e carniçais com a ajuda de um plano muito simples: usar uma das coisas que os vampiros mais temiam pra lutar. E assim que o exército Sabá se aproximou, se viu cercado por labaredas de fogo capazes de assustar qualquer um. Os mais fracos correram imediatamente, encontrando a morte nas garras de Sirius. Os que ficaram, em sua maioria carniçais e alguns poucos vampiros mais resistentes, mas nem por isso indiferentes ao medo, ficaram para travar uma luta desigual com os magos.
Nenhuma baixa, poucos feridos.
- Eu nunca vi coisas desse tipo... - um deles comentou, olhando para um carniçal particularmente deformado - Monstros...
- Acho que depois dessa, só bebendo uns goles. - um outro comentou, dando um suspiro cansado.
Enquanto os demais comemoravam e trocavam comentários sobre a batalha, Lilly se aproximou de James, percebendo que todos os seus sentidos estavam voltados para algum lugar distante dali. Ela deu mais alguns passos na direção do marido, tocando-lhe o braço com suavidade.
- James? - perguntou num mero sussurro.
O mago sobressaltou-se, virando o tronco na direção de Lilly com rapidez, mas seus traços se suavizaram ao reconhecê-la, e só então sua mão direta alcançou o rosto preocupado da esposa.
- Lilly... - James falou depois de alguns segundos de contemplação muda - Eu quero que você leve o Harry pra dentro... e esconda os pergaminhos mais importantes.
- Não, James! Você... - ela reagiu, assustada, mas um dedo indicador tocou seus lábios, fazendo com que calasse.
- Prometo que estaremos juntos até o final dessa noite. - ele piscou - Vá. Eles estão chegando.
Lilly retribuiu o sorriso de James, mas não o beijou. Não estavam se despedindo. Deu dois passos pra trás, procurando Harry com os olhos por alguns segundos antes de finalmente encontrá-lo distraído, olhando para os corpos horrorosos dos carniçais, incomodado com o cheiro de carne queimada que parecia se espalhar por todo o lugar.
- Vamos, Harry! - a voz de Lilly pareceu despertá-lo de seus pensamentos - Preciso da sua ajuda lá dentro.
Harry abriu a boca para perguntar alguma coisa, mas preferiu não discutir ao perceber na mãe uma expressão que não admitia recusas. Os dois entraram na casa, instantes antes da atenção dos magos se voltar para um estranho barulho vindo da floresta.
- Que merda é essa? - Sirius se perguntou assim que seus sentidos aguçados perceberam um barulho contínuo e assustador. Olhou em volta, procurando a árvore mais alta de todas para só então subir nela com enorme agilidade.
A visão que teve foi perturbadora.
- James... eu sei que você está me ouvindo. - Sirius hesitou por alguns segundos antes de prosseguir - Você já deve saber disso também, mas... acho que aquele truque do fogo não vai mais dar tão certo. Eles têm prisioneiros.
Ninguém teve dúvidas de que eram os mais velhos e fortes vampiros do Sabá quando um diminuto grupo de não mais de 10 vampiros surgiu, caminhando sem pressa, logo atrás de uma figura majestosa montada num enorme cavalo carniçal, cujo couro tinha sido totalmente arrancado com vicissitude, expondo todos os seus músculos a ponto de ser possível perceber quando se contraíam ou relaxavam.
Entretanto, o que mais alarmou aqueles magos foi ver um terceiro grupo surgir por trás dos vampiros. Pessoas comuns de vilarejos próximos, em sua maioria camponeses que não conheciam nada além de suas próprias terras, e que agora se viam arrastadas como animais para o campo de batalha, amarradas umas às outras por cordas grosseiras. Aquelas pessoas podiam não fazer a menor idéia do poder que suas crenças poderiam ter naquela batalha, mas certamente seus inimigos estavam perfeitamente cientes disso.
Um silêncio se formou no mesmo instante em que os magos viram aqueles vampiros se aproximarem, sem pressa nem gritos. Alguns murmúrios confusos escaparam dos lábios de alguns, como se quisessem entender como sabiam sobre o perigo que o paradoxo representava para eles. Voldemort parou a alguns metros de distância e esperou pela aproximação de James.
O mago deu alguns passos na direção do vampiro e o encarou, apenas observando Voldemort puxar as rédeas, contendo o animal, antes de olhar diretamente para os seus olhos.
- Boa noite... - Voldemort o cumprimentou como se fosse um viajante a procura de água para seu cavalo.
- Boa noite. - James retribuiu a gentileza com a mesma naturalidade.
Voldemort abandonou os olhos de James, olhando em volta por alguns segundos antes de prosseguir.
- Vejo que seus companheiros demonstram um certo abatimento... - comentou.
- Nós temos o costume de dormir cedo. - James justificou, sem se importar com a insinuação.
Mais alguns segundos de silêncio e contemplação mútua se seguiram antes que Voldemort prosseguisse:
- Suas espantosas habilidades mágikas o precedem, Sr. Potter.
- Suas palavras me deixam lisonjeado.
- Estou apenas falando a verdade. - Voldemort continuou - E por isso mesmo, também acredito que o senhor saiba o motivo da minha visita...
- É... acho que sei. - James respondeu com simplicidade.
- Então...? - uma das mãos do vampiro abandonou as rédeas e subiram até a altura do peito, apertando suas próprias roupas - Como eu me livro dele?
James olhou para Voldemort por alguns segundos, ajeitando os óculos, e só então perguntou:
- Por que me pergunta se já sabe a resposta?
Os olhos do Tzimisce se estreitaram e quando ele falou, sua voz mais pareceu um guincho.
- Deve haver outra solução. Tem que haver outra solução!
- Lamento. - James respondeu, sincero - Mas não posso ajudá-lo...
As mãos de Voldemort voltaram a apertar as rédeas do cavalo com força e os dois permaneceram em silêncio por alguns segundos antes que uma risada terrível se fizesse ouvir.
- Se é assim, não temos mais motivos pra conversar.
- Receio que não. - James respondeu, e o vampiro pôde ver por uma fração de segundos enormes e brilhantes asas se abrirem em suas costas.
Voldemort deu um último olhar cheio de raiva para James, e então levantou o braço direito num gesto lento, que foi imediatamente compreendido pelos demais vampiros, que avançaram imediatamente, atacando o grupo de magos no mesmo momento em que James esticou a palma da mão na direção do vampiro, deixando que uma chama azul nascesse no meio dela.
O mago não se surpreendeu quando sua atitude levantou uma série de murmúrios e comentários descrentes por parte da platéia “Adormecida”. Entretanto, se quisesse vencer aquela batalha, teria que lutar com todas as suas forças para vencer não só o seu oponente, mas a realidade na qual cada uma daquelas pessoas acreditava.
O cavalo de Voldemort regrediu alguns passos quando a chama ganhou forças, mas ele o conteve com habilidade. Porém, suas habilidades de cavaleiro não puderam fazer nada para impedir que o cavalo inclinasse sua cabeça para James, flexionando as patas e abaixando o corpo, num convite silencioso provocado pelo mago para que o Arcebispo lutasse com ele frente a frente, o qual foi prontamente aceito pelo Tzimisce, depois de um sorriso de puro desdém.
Nenhum dos dois ouvia o barulho quase ensurdecedor que a batalha entre vampiros e magos a sua volta provocava. Estavam totalmente concentrados numa troca de olhares que buscava uma brecha, por menor que fosse, para atacar. Depois de alguns minutos, Voldemort foi o primeiro a se mover, sua mão direita buscando a cabeça de James, mas errando o alvo por milímetros, só por se ver obrigado a desviar quando o mago avançou em sua direção ao invés de se esquivar, tentando fazer com que o fogo em suas mãos o atingisse.
Voldemort se inclinou para o lado, usando toda a sua velocidade pra contra-atacar, arrancando um gemido de James quando sua mão raspou de leve pelo ombro do mago, ferindo-o só com aquele simples toque, enquanto o outro aproveitava a proximidade para queimá-lo com suas chamas.
- Patético. - Voldemort comentou, ao observar que a mão do mago começava a ficar enegrecida durante seu ataque - Não existem seres tão fortes e ao mesmo tempo tão fracos quanto vocês. Não é incrível o poder de destruição que uma simples descrença pode causar?
- A descrença é capaz de destruir qualquer criatura viva. - James respondeu, ignorando a dor que o consumia enquanto as chamas ficavam ainda mais fortes.
Voldemort deu um sorriso amarelo ao ouvir aquela resposta, voltando a atacá-lo com a mesma agressividade. James conteve um grito ao sentir a mão do vampiro alcançar suas costelas, deslocando os ossos com um só movimento. Procurando ignorar a dor quase insuportável que aquele golpe lhe provocou, fez com que sua mão em chamas envolvesse o pescoço do Arcebispo com uma força sobre-humana, queimando a pele e os músculos até que restassem somente os ossos. Mas antes que pudesse arrancar seu pescoço, Voldemort conseguiu empurrá-lo pra longe.
James deu alguns passos pra trás, sua mão acariciando as costelas, não se permitindo perder a calma nem quando olhou a sua volta e percebeu que todos os seus companheiros estavam tendo os mesmos problemas que ele. Voltando a encarar o oponente, o mago viu o pescoço de Voldemort se reconstruindo das queimaduras profundas que seu ataque havia provocado, ao contrário das suas próprias, resultado do paradoxo provocado pelo uso do fogo e que ele não conseguiria curar. Tentou então um ataque de longe, atirando uma bola de fogo na direção do vampiro, mas ele desviou. Tentou novamente, e o ataque falhou, dando tempo para o Tzimisce se aproximar.
Dessa vez, Voldemort mirou o coração de James, mas ele se jogou pra trás, caindo no chão antes de rolar pro lado pra escapar das mãos incansáveis do vampiro. Com um salto ágil, o mago pôs-se de pé novamente, girando o corpo sem desviar a atenção da mão do Tzimisce que já se aproximava novamente, num ataque impiedoso.
A mão do vampiro estava a milímetros de alcançar o peito do mago quando este a sentiu tão terrivelmente pesada que seu corpo se desequilibrou e ele teve que fazer força pra não cair de lado. De um minuto pro outro, parecia que sua mão pesava toneladas.
- Belo truque. - elogiou, sincero.
- Obrigado. - James agradeceu, parecendo mais concentrado em tentar curar pelo menos um pouco de seus próprios ferimentos.
Voldemort então usou sua outra mão para arrancar o braço enfeitiçado sem maiores dificuldades, fazendo com que um segundo membro, idêntico ao primeiro, crescesse no lugar, antes de investir com um novo ataque. James conseguiu se esquivar da primeira investida, mas o vampiro adivinhou seus movimentos e então James sentiu uma das mãos do Tzimisce encostar-se em seu peito, as unhas pressionando a carne numa ameaça que o mago soube compreender.
Muito próximo um do outro, Voldemort deu um meio sorriso vitorioso que logo se transformou numa careta irritada de dor quando sentiu a pele e os ossos de sua mão derreterem, passando rapidamente do estado sólido para o líquido. Aproveitando a surpresa do outro, James novamente usou seu poder de chamas para atacar Voldemort, dessa vez não contendo um gemido de dor ao sentir seu braço ferido se consumir ainda mais.
O ar entre os dois ficou oleoso graças ao efeito do Paradoxo e parecia que a qualquer momento a realidade se racharia ao meio. Mas apesar disso, James não tinha outra saída a não ser lutar até o fim, aceitando qualquer punição que a realidade daquelas pessoas pudesse oferecer a ele. Então, finalmente decidido a acabar de vez com aquela batalha, concentrou-se para dar seu último ataque, tencionando mais uma vez arrancar a cabeça do Tzimisce.
A mão alcançou a garganta do Arcebispo, ao mesmo tempo em que seus lábios proferiram a mágika mais poderosa que ele conhecia, a única que ele sabia ser forte o suficiente para destruí-lo.
Mas o Paradoxo não foi clemente dessa vez e assim que sua mão tocou a garganta de Voldemort, James sentiu todo seu poder ser sugado, as chamas em suas mãos se apagando, assim como suas asas. A força de suas mãos se tornou meramente humana quando o Silêncio2 o atingiu, ainda mais mortal e doloroso do que a mão do Tzimisce, aquela que não fora destruída, varando sua barriga.
James cuspiu sangue e gritou de dor, mas não podia fazer mais coisa alguma. Tinha jogado todas as suas cartas e perdido. As primeiras gotas d’água começaram a cair quando Voldemort tirou rapidamente a mão, deixando que James ficasse de joelhos a sua frente, suas mãos queimadas tentando inutilmente impedir que o sangue continuasse a deslizar por seu ferimento mortal. Mas não agüentou se manter nem mesmo naquela posição, caindo de lado enquanto seus ouvidos eram atormentados pelos últimos sons da violenta batalha, sabendo que quase todos os seus companheiros também haviam caído.
Voldemort olhou para James, agora sem seus poderes mágikos, frágil como um simples mortal, mas não foi clemente a ponto de desferir um último golpe. Apenas deu as costas para o mago, deixando-o pra trás pra sangrar até morrer.
A visão de James foi ficando turva enquanto Voldemort caminhava até a casa branca sem esperar pela companhia dos demais. Ele estendeu a mão na direção do vampiro, mas foi o único gesto que foi capaz de fazer.
O mago estava a ponto de deixar-se levar pela inconsciência quando ouviu a voz desesperada de Sirius gritando o seu nome.
- James! - o vampiro correu na sua direção, arrancando um gemido de dor do mago ao ajeitar seu corpo ferido no colo.
Sirius olhou para o ferimento em sua barriga e abriu a boca imediatamente, mas ao invés de palavras o único som que conseguiu emitir foi um guincho de dor.
- Não faça essa cara. - James sorriu, mas sua boca estava cheia de sangue.
Sirius não respondeu, apenas se inclinou na direção do pescoço de James, sendo impedido pelas mãos enegrecidas do mago.
- Não, Sirius! - a voz de James saiu muito fraca, mas incisiva - Não!
- Por que não, James! - Sirius gritou, totalmente descontrolado - Você vai morrer!
James apenas deu aquele sorriso enigmático que nunca falhava em fazer Sirius sentir-se um idiota e então fechou os olhos pra sempre.
- Não! James! - Sirius arregalou os olhos, debatendo-se nos braços de Remus.
- O que foi? - Remus perguntou, preocupado, passando as mãos pelos cabelos negros do vampiro na tentativa de acalmá-lo.
Sirius virou o rosto na direção de Remus e foi com um aperto no peito que o lupino percebeu que lágrimas de sangue deslizavam por sua face. Suas mãos envolveram a cabeça de Sirius, abraçando-o mais junto ao peito, sem querer atormentá-lo com perguntas.
O rosto se afundou no peito de Remus, buscando sua proteção como se fosse uma criança. O lupino o acolheu, olhando pra cima.
Faltavam poucas horas para o Sol nascer.
Continua...
(1) Eu já falei sobre o Laço de Sangue, que é o fenômeno que ocorre a um vampiro ou humano que prova do sangue de um mesmo vampiro durante três noites diferentes. Mas aqui vou explicar os efeitos do primeiro “gole”, ou seja, o que acontece quando alguém prova da vitae de um vampiro pela primeira vez. O primeiro gole faz com que a pessoa sinta sentimentos fortes, porém não muito estáveis pelo vampiro. A pessoa sonha com o vampiro e passa a buscar sua presença. Essa ligação está presente entre todos os mestres e suas crianças. Sendo assim, uma criança pode odiar ou amar aquele que o criou, mas nunca será indiferente.
Enfim, Harry sugou o sangue de Draco com a intenção de mostrar pra ele que voltaria e pra formar com ele uma ligação de lealdade.
(2) Silêncio - Aqui eu desconsiderei o Silêncio do sistema “Mago, a Ascensão” que o conceitua como um estado de insanidade do mago que o atinge quando algum impacto psicológico grave (o paradoxo, por exemplo) acaba distorcendo a sua percepção da realidade. Mas ignorei esse conceito e preferi usar o significado clássico do Silêncio, que é a perda dos poderes mágikos.