Dec 26, 2009 02:33
O amor é coisa estranha, mas quero descobri-lo já, já, já. Quero parar a avenida, soltar papagaios, aprender a voar. Não me bastam as paisagens, nem os sonhos, nem o vinho gelado. Quero um amor para cumprir, ora depressa, ora devagar, um sabor a eternidade debaixo da língua. Um desatino sem ponteiros. Quero a vida como ela deve ser: arrebatada e curiosa, ligada ao resto pela coisa simples e imensa de poder amar. Amar e voltar a amar. Amar e transamar. Amar e desmaiar em cheio. Amar e ouvir a palpitação do mundo no peito da amada.
Não me servem os palácios, ou os jardins, não me serve a sabedoria dos antigos ou o drama dos poetas. Não me servem as cores da primavera, ou os cânticos, as cegonhas, ou cerejeiras em flor. Tenho um amor à minha espera e é tempo de ir.
Quero susto e mão dada e ternura de queixo arranhando queixo. Quero o perfil visto e revisto num dia inteiro, num fim de semana-sofá. Para sempre, aqui, como nos filmes que importam mesmo. Quero a liberdade de saber tudo o que há para saber de beijos e gestos e coisas assim. Quero sobreviver à tristeza cheirando o perfume dela, furando as telhas dos meus dias, deixando o que é bom entrar. Quero vestir-me de linho sem medo do ridículo, uma praia que seja só praia e nós, um festival de histórias que não interessam nem tenham que interessar. Quero o swing arrastado e salgado dos corpos a derreter. Quero uma mesa que sirva para tudo, um Deus que faça sentido.
Não se duvide: O amor é para comer. O amor é para comer e chorar por mais.