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Mar 24, 2005 14:15

Papa da HQ underground, Robert Crumb mostra seu mau humor em autobiografia

Divulgação

Robert Crumb por Crumb

Por Mike Collett-White

LONDRES (Reuters) - O cartunista e ícone Robert Crumb nunca foi adepto da autopromoção, tanto que se descreve como "cético, mal-humorado, chato, reclamão e sexista".

Suas histórias em quadrinhos, muitas vezes sexualmente explícitas e horripilantes, perturbam, enojam e comprazem o leitor em medidas iguais. Agora, o cartunista norte-americano está sendo arrastado de volta ao olhar público, a contragosto, para divulgar sua autobiografia.

Em "The R. Crumb Handbook", o criador de HQs famosas como Fritz the Cat e Mr. Natural aparece como um homem enojado por aquilo que vê à sua volta.

"Embora eu possa gostar muito de indivíduos específicos, a humanidade em geral me enche de desprezo e desespero", ele escreve no livro. "Odeio sobretudo aquilo que se faz passar por civilização. Odeio o mundo moderno."

Esse misto de ódio pelo mundo e por si mesmo frequentemente é expresso em seus cartuns, que muitas vezes retratam Crumb como um nerd de óculos que combate demônios internos ou vive suas fantasias sexuais.

Crumb, 61, se prepara para enfrentar mais problemas em função de seus planos de lançar uma versão ilustrada do primeiro livro do Velho Testamento.

"Isso é coisa séria", disse ele à Reuters, falando do projeto sobre o Livro do Gênese. "Sou um cara sério; Deus sabe disso e aprecia isso."

Crumb não se incomoda com as objeções feitas a seu trabalho.

"Aquela história de sexo ... eu preciso me livrar disso tudo, colocando no papel. É a única saída para mim, senão eu provavelmente estaria preso."

"DE FRACASSADO A ÍCONE"

Seu amigo e colaborador Peter Poplaski descreve o percurso profissional de Crumb como "uma transformação de idiota fracassado em ícone cultural".

O próprio Crumb diz que sua ascensão para o estrelato da contracultura, no final dos anos 1960 e início dos 1970, foi "como ser chutado para o andar de cima".

Hoje ele é visto como parte do mundo da arte com A maiúscula: seus cartuns são vendidos por dezenas de milhares de dólares, e um crítico erudito o descreveu como a resposta do século 20 ao mestre flamengo Pieter Brueghel.

Crumb admite que a fama o ajudou a conseguir mulheres que, de outro modo, jamais teriam olhado para ele, mas ele se sente incomodado em ser considerado celebridade e com a pressão que isto lhe impõe.

Sua aversão à publicidade até o levou a matar alguns de seus personagens favoritos do público.

O documentário "Crumb", dirigido em 1994 por Terry Zwigoff e que mostra o irmão mais velho de Robert, o deficiente mental Charles, que mais tarde cometeria suicídio, descreve o fim sinistro de Fritz the Cat, uma de suas criações mais famosas. Ele é morto por uma mulher com cabeça de avestruz, que empunha um cortador de gelo, "em estilo Trotsky".

A mulher de Crumb, Aline, que colabora em alguns de seus cartuns e é descrita como sua musa, diz que cartuns que exibem as verdades incômodas ocultas sob a superfície social são tão relevantes hoje quanto eram 30 anos atrás.

Ela criticou o que descreveu como a hegemonia cultural da direita nos EUA, que levou Crumb e ela a se mudarem para uma cidadezinha pequena no sul da França.

Mas Robert Crumb está fadado a sentir-se incômodo em qualquer lugar para onde vá. Ele escreve: "'O inferno são outras pessoas' -- Jean-Paul Sartre. 'O inferno também é você mesmo' -- R. Crumb."
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