Nesta altura do ano, é comum escassear-me a paciência. O Natal (e somos muitos assim, pois somos que eu lá vou sabendo), não sei bem porquê - ou se calhar até sei, mas prefiro dizer em voz alta que não sei- torna o meu pavio mais curto e a tendência para a introspecção multiplica-se por sete mil e duzentos, o que para os meus recentes companheiros de casa não deixa de ser uma vantagem, já que o tempo que passo no meu quarto lhes concede certamente raros momentos de paz e algum sossego (se conseguirem ignorar o volume da aparelhagem, que eu PROMETO tentar controlar as of now). O que se torna complicado de gerir é a minha impulsividade e as minhas reacções, no momento, tendem a uma irascibilidade que em circunstâncias normais consigo manter dentro de limites relativamente toleráveis. Ora, eu não quero fazer inimigos para o resto do ano só porque este mês me custa mais que os outros, mas também não sei bem como controlar a vontade que sinto de decepar os utentes do Metro de Lisboa (era escusada a referência à capital, uma vez que no Porto o que existe é um eléctrico) e os meus colegas de trabalho, incautos imbecis que se atrevem a falar comigo em dias assim. É um dilema constante, o mês de dezembro. E hoje à tarde, pavor dos pavores, troca de presentes. Dia 18, mais dramático ainda, almoço de Natal-e quando me lembro do do ano passado, tremo da cabeça aos pés. Se fosse jantar podia sempre inventar uma desculpa, mas assim não tenho escolha, tenho mesmo de levar com a eleição de melhor empregado do ano (epá, a sério, é doloroso...), com o discurso de incentivo, com a mulher do patrão, com o TOC que acha que é garanhão, com aquela gentinha toda convencida da sua espirituosidade, a contar piadinhas durante a refeição e essas coisas todas lindas-torna-se quase impossível manter algum tipo de boa disposição em condições destas.
Entretanto surgiu uma solução. Saíu hoje com o Berlitz (por mais 7 Euricos) o disco do Paulo Furtado, aka
Legendary Tiger Man, que tive a sorte de apanhar na primeira parte da
Rosinha no S. Luiz e que se apresenta como a única solução hoje para que eu não me torne uma assassina em série. Este "Fuck Christmas, i got the blues" é, em tudo e por tudo, um disco do camandro. Com a produção a cargo de
Paulo Miranda (que já tinha produzido o sublime "April" do Old Jerusalem e outras pérolas da
Bor Land) e com vozes da Ana Figueiras, também cúmplice de Paulo Miranda nos Unplayable Sofa Guitar, esta rodela tem o som a terra dos blues como se gosta deles, crús, viscerais, sem artíficios, blues with a feeling, já dizia o outro e é assim que soa este discus marabilius. E justiça seja feita a uma das capaz mais geniais (com título à altura, o homem não brinca em serviço) alguma vez feitas em Portugal. É uma pechincha, meus amigos, uma pechincha. E não é demais dizer, this record saved my life today. Ides, que é edição limitada.
E amanhã, a Nobody's Bizness inicia a sua Christmas Tour' 03
no bar Janela d'Atalaia, na Rua da Atalaia (a sério?não pode!
), às 23 horas. Venham beber um copo comigo, partilhar da minha neurose natalícia. Agora que tenho o disco do Tiger Man, não posso fazer-vos mal.
E só para terminar, duas sugestões de prendinhas que me tem acompanhado em casa (merci Tânia, merci Francisco), já que aqui bomba mesmo o coro de santo amaro:
Lisa Germano - "Lullaby for Liquid Pig"
Joni Mitchell - "Blue"
Um dia, quando passar esta época toda, digo mais umas coisas sobre eles.
Até já.