Continuando... capítulo 03 da fic presente para a Clau!!!
Ambos os médicos tiveram um dia simplesmente horrível. Wilson evitara House a todo custo, sem fornecer explicações, e tivera sérias dificuldades em se concentrar no trabalho. E House, dividido entre responder às piadinhas de Chase e Foreman sobre o odor de seu tênis, fugir aos “o que há de errado?” de Cameron e se preocupar com as fugas de Wilson e a possibilidade do amigo não ter perdoado a frase impensada da manhã, terminou surpreendendo todos ao aceitar um caso ridiculamente fácil para poder ir embora mais cedo.
Ao chegar na porta do 221B, porém, hesitou. Teria sido sábio retornar à companhia daquele animal desgraçado? Espera, o que ele estava dizendo... Aquele apartamento lhe pertencia, droga! Não ia entregá-lo de bandeja a qualquer invasorzinho barato... Fazendo sua melhor expressão de guerra, House abriu a porta, entrou decidido...
E parou, surpreso.
Depois resmungou algo e vasculhou o apartamento inteiro.
É, era fato. O bicho tinha ido embora. O médico atirou-se no sofá, soltando um suspiro de alívio. Nunca havia vencido uma batalha tão facilmente! E como seria divertido quando Wilson voltasse e percebesse que havia gastado tanto dinheiro à to...
Wilson.
Droga, pensou House, ele vai achar que eu levei o gato para algum canto!
Sentou-se. O caso exigia reflexão. Para início de conversa, ninguém poderia culpar o oncologista por chegar àquela conclusão, não depois de House ter tentado fazer Hector fugir. Mas desta vez ele não fizera nada! Era só o que faltava, passar 20 anos abusando de Wilson para no fim perder o amigo na única ocasião em que estava inocente.
Perder o amigo. Que exagero melodramático... Mas mesmo que não admitisse, House pensava nessa frase com uma freqüência muito maior do que gostaria. Ele provocava, fazia brincadeiras de mau gosto, às vezes causava problemas sérios... Porém tomava o maior cuidado para nunca ultrapassar o limite que, por conhecer bem Wilson, ele sempre sabia calcular. Ter perdido Hector teria talvez lhe custado três dias de “está tudo acabado entre nós”, porém nada de mais grave. Mas ter perdido Lord.. Hector estava com ele há 17 anos. Lord chegou há 2 dias. O que diabos ele vê de tão especial nesse gato?
Bom, não era hora de pensar nisso. Ele precisava encontrar aquele animal infeliz. Mas antes de sair vagando a esmo pelas ruas atrás de um gato, era melhor tentar garantir que Wilson não fosse para casa naquela noite. House pegou o telefone e discou um número.
- House?
- Cuddy, eu preciso que você invente uma desculpa e coloque Wilson de plantão hoje.
- E eu faria isso por que...
- A satisfação de me ouvir pronunciar as palavras “eu preciso de ajuda” não é suficiente?
- Intrigante, talvez. Mas suficiente...
- Respirando fundo, House disse a si mesmo que era por uma boa causa, tomou coragem e a interrompeu.
- Porque eu passarei os próximos dois meses sem fugir do trabalho da clínica, e farei isso sem reclamar.
- Houve um silêncio momentâneo, e ela disse, surpresa.
- Você está falando sério.
- É. Chocante, eu sei. Até ma...
- House, espera!
- Sim?
- Você não fez nada com o gato, fez?
- Ah, ótimo! Não contente em colocar um monstro dentro do meu apartamento sem me consultar, ele ainda se vangloria disso para o mundo inteiro na primeira oportunidade, e fazendo com que eu pareça o vilão. Cuddy, você não faz idéia do que aquele...
- Faço - disse ela, em tom divertido. - Wilson falou um bocado sobre ele, e, sinceramente? Lord me lembra muito de você.
Silêncio.
- House? House? Alô?
- Tu...tu...tu...
- Ótimo... Desligou na minha cara.
House estava em estado de choque. Nem se lembrava de que Cuddy não respondera se prenderia ou não Wilson no trabalho. Uma única frase soava e ressoava em sua cabeça, banindo todos os outros pensamentos.
Lord me lembra muito de você.
Ela tinha razão. A bagunça, as pegadinhas, os ataques à deliciosa culinária de Wilson, e até mesmo a aparência física... Em tudo o bicho era House em sua versão felina.
É por isso que Wilson o adora tanto. Aquele masoquista! Será que não é suficiente ter um de mim torrando-lhe a paciência diariamente?
Aparentemente não. Apesar de estarem morando juntos, o amigo sentira necessidade de se aproximar de mais alguém, alguém que lembrava House. E isso doía. Agora ele entendia porque Lord, ao deitar no colo de Wilson e exigir sua atenção e seus agrados, passava uma impressão tão... possessiva. E sabia também porque se sentira tão desafiado. Era como se o gato, através daqueles frios olhos azuis, lhe tivesse dito “olhe onde eu estou, e olhe onde você está. A um sofá de distância!!!! E ele está irritado com você, por minha causa. Ele gosta mais de mim. Você perdeu o posto, meu caro. Agora eu sou a coisa mais importante da vida dele”.
Bicho imbecil, cretino, fdp!!!!!!!!! Como é que ele ousava desafiá-lo daquela forma, naquele aspecto da sua vida, dentro da sua própria casa, como é que...
A corrente de pensamentos desenfreados foi quebrada pelo som de um trovão. Perfeito! Agora mesmo que voltasse sozinho, Lord era capaz de aparecer encharcado e com pneumonia. E, de novo, claro, a culpa seria de House.
Xingando furiosamente, Gregory House apanhou a bengala, um guarda-chuva, e saiu à rua para procurar um gato fugitivo que a essas horas podia estar em qualquer canto de New Jersey.