Jan 22, 2003 23:26
Mais importante que a busca da Verdade com letra maiúscula era, para Kierkegaard*, a busca das verdades importantes para a vida do indivíduo. Importante era, segundo ele, encontrar a «verdade para mim».
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Kierkegaard disse também que a verdade é «subjectiva».Não queria afirmar que é indiferente aquilo que pensamos ou aquilo em que acreditamos. Queria dizer que as verdades realmente importantes são «verdades para mim».
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Por isso temos que fazer a distinção entre a questão filosófica sobre a existência de Deus e a relação do indivíduo com a mesma questão. Qualquer indivíduo está completamente só perante essas questões. Além disso, só podemos aceder a elas pela fé. As coisas que podemos compreender com a nossa razão não são importantes para Kierkegaard.
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Não podes saber se alguém gosta de ti. Só podes acreditar ou esperar que goste. No entanto, isso é mais importante do que o facto indiscutível de a soma dos ângulos de um triângulo equilátero perfazer cento e oitenta graus.
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A fé é o mais importante quando se trata de questões religiosas. Kierkegaard pensa que se posso compreender Deus objectivamente, não acredito, mas justamente porque não posso compreender, tenho que acreditar. E se quero conservar a minha fé, tenho de ter em atenção não esquecer que estou na incerteza, e no entanto acredito.
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Antigamente, muitos tentaram provar a existência de Deus - ou pelo menos compreendê-la com a razão. Mas se nos contentamos com essas provas da existência, ou argumentos racionais, perdemos a fé - e consequentemente também o sentimento religioso. Porque o essencial não é o cristianismo ser verdadeiro, mas ser verdadeiro para mim.
Jostein Gaarder - O Mundo de Sofia
*filósofo dinamarquês do século XIX