Mar 01, 2009 01:33
Sentou-se sobre a cadeira, esquentando-se com o calor da lareira. O fogo, a crepitar, lhe dava uma sensação gostosa e agradável, como alguém que trabalhou durante o dia e delicia-se com uma boa chuveirada no fim da noite. Repousou as mão em cima de seu livro, buscando nas páginas amareladas, a continuação daquela deliciosa história. Era a história de um cavaleiro, lutando para enfrentar seu pior inimigo, ele mesmo. Era esposo da preguiça, e a procrastinação era sua amiga íntima. Mas lutava para se manter de pé, diante dele mesmo. Há anos, dizia o livro, ele fora um grande herói dentre os de sua casa. Era temido, respeitado, mas isso não fazia dele uma pessoa orgulhosa, muito pelo contrário; era o primeiro a se apresentar para ajudar, qualquer que fosse o trabalho. Lembrara constantemente de uma longa viagem que fizera, para ir em busca de uma donzela ferida pelos laços sufocantes de suas próprias paixões. Correu em direção à ela, como costumava fazer quando era pequeno, lançando-se ao encalço das pequenas e amáveis borboletas de seu jardim. Levara seu cavalo, suprimentos e, após uma longa e cansativa jornada, embrenhara-se numa luta cósmica contra seu desejos mais íntimos. Ao voltar de viagem, com a donzela em seu braços, fora recebido com salvas e descansara nos melhores aposentos, com a melhor comida. Mas o tempo passava. E com ele, as lembranças de feitos faraônicos se desmanchavam em meio às suas confusões emocionais. Começara a crescer, e com ele, seu ego. Acabou descobrindo a vida, e descobriu que a vida não era sua amiga. Constantemente lhe passava a perna, lhe fazia sofrer. Às vezes, sozinho dentro de seu quarto, chorava com vontade o advento desses novos dias. Estava começando a ficar mais velho e, com a velhice, estava começando a ficar mais duro também. Não tratava mais as pessoas como antes; pensava em si mesmo agora, e começara a não olhar mais para os problemas ao redor. Tratava-as com indiferença, não se compadecia de suas doenças, males ou infortúnios. E os dias começavam a ficar mais cinzas, seu ânimo desaparecera. Muitas vezes aceitava um trabalho apenas por que havia de achar um modo para sobreviver. Caso contrário, isolava-se em seus cômodos, desaparecendo em seu mundo paralelo, ignorando as oportunidades que passavam pore ele. E o herói que antes era, não era mais aquilo que costumava ser antes de virar o que era. E foi desaparecendo, nas linhas do tempo, da mente das pessoas. E foi esquecido para sempre, no lugar onde nunca habitou...