Jan 24, 2005 21:48
Noite de Inverno. Solidão. A chuva caía lá fora. A tua ausência corroía o meu peito á velocidade da luz. Como precisava do teu abraço. A simples ideia de estares longe de mim destruía-me por dentro. Peguei numa foto nossa. Olhei-a com atenção, cada detalhe do teu rosto, cada fragmento de brilho do teu olhar. Já não me sentias como antes. Perdi a razão de viver no instante em que me deixaste sozinha e partiste para longe daqui. Sentia lágrimas escorrerem pela minha face sem puder evitá-lo. Dentro da minha cabeça algo me fazia pensar “Quero morrer…”, “Quero morrer…”.
Nunca pensei desejar a morte como naquele instante. Um corte no meu pulso. Sangue pelo chão, lágrimas pelo chão. Lá fora a vida, cá dentro a morte. O meu coração batia cada vez mais devagar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto pálido. Dor. Desespero.
Os meus olhos abriam-se com dificuldade. Sentia-me sufocada, não conseguia respirar. De repente, ouvi a porta abrir-se. Do pouco que os meus olhos ainda viam, parecia-me ver a tua sombra. Sim, eras tu. Eu sentia o teu cheiro. Ouvi-te aproximares-te. Olhaste para mim. Estava estendida no chão. A minha expressão pálida, as lágrimas secas no meu rosto.
Ajoelhaste-te ao meu lado. Senti o sangue nas tuas mãos. A minha vida escorria por entre os teus dedos. Encostaste a cabeça ao meu peito e no teu olhar era possível sentir o desespero e o arrependimento, por entre as lágrimas que molhavam o teu rosto. Ouvi-te dizer baixinho que me amavas…ouvi-te dizer que nunca me deverias ter abandonado…ouvi-te dizer que se a morte me levasse naquela noite tu não ias ser capaz de seguir em frente…Senti os teus lábios, salgados pelas lágrimas, tocarem nos meus. Amarraste-me um pedaço de pano ao pulso. Devias querer estancar o sangue. Sentia-me tão fraca. Lembro-me de teres pegado em mim ao colo. Lembro-me de ouvir as sirenes duma ambulância. Lembro-me de vozes desesperadas. Lembro-me de lágrimas. Lembro-me de vultos á minha volta.
Abri os olhos. Estava num quarto, com paredes brancas. Tinha alguma dificuldade em respirar mas já não me sentia tão fraca. Olhei para o lado. Vi-te sentado ao meu lado, com a tua mão a segurar na minha. Viste que tinha acordado e perguntaste-me porque tinha feito aquilo. Respondi-te que tive medo de te perder. Que tive medo de que já não me amasses e de que já não sentisses a minha falta. Acariciaste-me o cabelo, inclinaste-te e encostaste esses teus lábios de seda aos meus.
Foi aí que tive a certeza que sem ti a minha vida não vale a pena. Foi aí que tive a certeza de que o nosso amor vai existir para sempre, além da morte, por toda a eternidade…