Jan 07, 2008 21:28
Naquela manhã, Alice acordou pensativa. Como de costume.
No entanto, naquela manhã, Alice não conseguia esquecer a conversa que tivera com o seu amigo Adriano na noite anterior. Alice não sabia se ficara a sentir-se apenas triste, ou se fora mais além, sentido uma fúria que, ultimamente, não fazia parte do seu interior. Alice julgava-se uma pessoa endurecida pela vida. Talvez não fosse a sua maior vítima, mas conhecia alguns dos seus ensinamentos. Tinha alguma consciência do que era a realidade que a circundava. Muitas vezes, os conhecimentos que obteve foram fruto de conversas, de partilhas, de contos e histórias que alguém lhe sussurrou, ou que leu algures no mundo a que está presa.
Sim, Alice sabe-se presa a um mundo completamente imperfeito, onde os interesses vão para lá do necessário, onde chegam a desequilibrar o próprio equilíbrio. Apesar de tudo isto, Alice não conseguiu ficar indiferente às palavras de Adriano. O seu amigo falou-lhe de como a vida o havia endurecido.
O seu amigo falou-lhe friamente.
Alice sentiu-se gelar.
Alice sentiu-se chorar.
Alice encontrava-se numa luta constante contra a frieza que, frequentemente, teimava em apoderar-se de si. Alice não queria voltar àquele lugar, àquela pessoa. Alice estava a aprender a sorrir para todas as pessoas que se cruzavam no seu caminho. Alice acreditava que era assim que podia aproximar-se da felicidade. Mais, Alice acreditava que era assim que podia ajudar os outros a aproximarem-se da felicidade. Oferecendo-lhe o seu sorriso.
Sincero.
Verdadeiro.
Genuíno.
Alice gostava de sorrir. Adriano pareceu não compreender o quão fundo perfurou os sentimentos de Alice. Adriano não sentiu. Não percebeu que as suas palavras se tornaram flechas aguçadas. Alice sentiu o seu peito sangrar.
Alice não queria.
Alice não podia.
Alice estava cansada.
Cansada de lutar para acreditar que valia a pena viver para lá de si mesma. Alice queria acreditar que valia a pena viver por todas as pessoas. Por este ou por aquele motivo ou até mesmo por motivo nenhum. Alice apenas precisava de acreditar que sim, que tinha de continuar a sorrir. Alice não queria deixar de amar, não queria voltar àquele lugar negro, àquela pessoa-pedra.
Alice sabia.
Alice sabia muito.
Sentia ainda mais.
Dor.
Tristeza.
Mas Alice queria. Queria continuar a sentir a presença da criança sonhadora que sobrevivera no seu interior. Apesar de tudo o que a sua alma sentia, apesar de tudo o que o seu sorriso sabia. Alice queria.
Alice quer.