May 22, 2004 09:47
Por vezes sou invadida por uma saudade que quase me mata. Os pensamentos de momentos passados atacam-me sem piedade - e eu não os controlo. Dou por mim a pensar cada pensamento de modo intenso e fugaz. Mil e uma imagens ocorrem na minha mente em formato de diapositovs coloridos com animação sonora e temporização.
Sinto-me feliz e triste. Feliz por ter no meu currículo de vida terrena momentos tão marcantes, tão positivos, tão doces, tão memoráveis.
Triste, e até mesmo frustrada, por saber que o que um dia foi não volta a ser; por me sentir tão incapaz quando o desejo de regressar ao passado me atinge e eu não o sei satisfazer.
Hoje foi mais um dia de momentos passados - o que é banal (e ridículo). Contudo, algo funcionou de forma diferente na minha máquina do tempo.
Enquanto o meu estado de nostalgia ia avançando, um pensamento, para mim invulgar, surgiu: eu, hoje, que embora não tenha mmomentos iguais aos passados (impossível de acontecer e ridículo se acontecesse), tenho muito (quase tudo) sinto-me triste, frustrada, desiludida, e sei lá eu o que mais, por isso mesmo, por ter um passado delicioso e distante... pergunto-me: o que sentirão todas aquelas pessoas que num caminho percorrido até certo ponto têm, aparentemente, tudo, e num momento seguinte se vêem numa cadeira de rodas, dependentes dos demais, completamente impotentes, podendo somente ver a vida escorrer-lhes pelas mãos? Qual será o tamanho de toda aquela angústia sentida e tantas vezes abafada, para não preocupar quem gosta, mostrando força e coragem?
Não consigo imaginar a dor, o sofrimento, o pânico de quem é fisicamente impossibilitado e tem consciência disso.
O que é, o que importa, que significado tem a minha saudade, a minha nostalgia, a minha pobre dor pelo passado quando comparadas com as destes indivíduos?
Para mim própria, muito honestamente, tem significado, mas pouco, tão pouco...
Embora eu saiba que, no fundo, estas comparações não fazem sentido, não podia deixar de demonstrar o meu, diria mesmo, espanto com cada uma das situações.
Sinto-me pequenina junto destas pessoas...