Prova de Fogo - parte 3

Aug 16, 2009 11:01

III.
Arde, cosmo dourado!
Uma prova de fogo.

Aiolia caiu ao chão.

O soco de Antilia tinha sido certeiro e implacável, ao ponto de ter aberto um corte no seu rosto que agora sangrava abundantemente. A areia tinha-se colado imediatamente à ferida, mas Aiolia mal sentia os braços para se erguer, quanto mais o desconforto do arranhar dos grãos. Tinha recebido um golpe poderoso: estava completamente zonzo.

Antilia observava o esforço do seu adversário para se recompor com prazer; tinha atingido o traidor em cheio. Seguro de que o leonino não se levantaria tão cedo e que já tinha provado quem era merecedor de seguir em frente como cavaleiro, voltou-se para a multidão que tinha os olhos postos nele e levantou os braços em sinal de vitória. A ovação que recebeu em resposta foi ensurdecedora.

Gigars lançou um olhar ao Sacerdote, perguntando se podia assinalar o final do combate, mas Saga fez o gesto para que esperasse. O chefe do exército desapontou-se com a ordem. Não fazia ideia do que é que o Mestre achava que ainda podia acontecer, até que se lembrou que talvez ele quisesse dar a Antilia a oportunidade de purgar definitivamente o Santuário de traidores fazendo com que este fosse um combate até à morte. Gigars deixou que um sorriso malévolo se apoderasse do seu rosto: seria então por isso que o Sacerdote tinha dado autorização para que se realizasse este espectáculo de mau gosto?

Quando o homem com um olho de cristal voltou a atenção para os combatentes, Aiolia já se estava a levantar. Antilia também reparara, e ao ver que Gigars não ia dar sinal nenhum, deixou-se relaxar numa posição de ataque.

Os movimentos de Aiolia a princípio eram trémulos e ele procurou inspirar fundo para limpar a cabeça, mas mantinha os olhos fixos em Antilia. Podia ter ficado debilitado temporariamente, mas não ia cometer o mesmo erro e deixar-se apanhar de surpresa outra vez.

― Devias ter-te deixado ficar no chão, como o verme que és. Poupavas-te a muito sofrimento desnecessário ― fez troça o aprendiz de Gigars. ― Não percebes que não tens qualquer hipótese? Nunca ninguém no seu perfeito juízo dará uma armadura sagrada a um traidor!

Aiolia riu-se da zombaria junto com quem a fazia. Estava tão concentrado no seu objectivo que não havia espaço na sua consciência para mágoas infantis. Era a mesma coisa que ouvia há anos do grupo do Milo: começava a achar que talvez eles tivessem uma imaginação fraca para dizerem sempre as mesmas coisas. Por outro lado, quanto mais tempo Antilia se risse, mais tempo ele teria para recuperar do ataque traiçoeiro.

― Antilia, se não és capaz de fazer melhor que festinhas como esta, sugiro que desistas da luta, porque tu é que não vais ter qualquer chance de ganhar ― exclamou Aiolia de volta, quando tinha a certeza que tinha recuperado por inteiro.

― Seu...!

Enraivecido, Antilia lançou-se em novo ataque. Corria de frente em direcção a Aiolia, com o punho estendido e pronto a repetir a proeza de há minutos, mas desta vez o seu adversário estava preparado. Aiolia esquivou-se, dando um passo atrás e agachando-se de forma a ser capaz de atingir Antilia por baixo do braço que mantinha erguido para proteger o tórax.

Afastaram-se depois da troca.

Desta vez era o aluno de Gigars que tinha perdido o fôlego. Cada um tinha agora conseguido acertar um golpe cada, e os olhares que cruzavam estavam mais plenos de ódio que nunca.

Simultaneamente, saltaram e chocaram um com o outro a meio caminho. O punho de Aiolia encontrou o joelho de Antilia, e logo em seguida o cotovelo de Antilia foi travado pelo antebraço de Aiolia. Estavam a centímetros um do outro numa troca feroz de golpes que por mais rápidos que fossem eram sempre aparados. Cada vez que um tentava dar a volta pelas costas ao outro, rapidamente ele se virava para frustrar o ataque.

Os nós dos dedos de Aiolia começavam a ficar doridos de tantos impactos nas protecções para os antebraços que Antilia usava e que ele próprio não possuía. Percebendo que a luta ia ser mais difícil de ganhar do que estava à espera, Aiolia deu um impulso com as pernas para se tentar afastar da confrontação cerrada.

Reconhecendo que o seu oponente estava a ceder, Antilia seguiu-o como uma sombra, não lhe dando descanso. Continuou a fazer cair sobre Aiolia uma chuva de socos e pontapés que eram sempre evitados ou bloqueados. Começava a ficar frustrado. O leonino tinha caído tão facilmente no início, por que motivo agora resistia tanto? E mais importante ainda - como conseguia ele acompanhar o seu ritmo implacável?

Das bancadas em torno da arena, o Santuário em peso aplaudia e gritava pelo seu favorito, muitos assistindo boquiabertos à demonstração de habilidade dos dois lutadores. Já todos tinham visto o discípulo de Gigars a bater-se previamente naquele mesmo recinto e assim sabiam que era um guerreiro valoroso. Por isso, vê-lo agora com dificuldade em aterrar um único golpe que fosse no irmão do traidor era algo assustador. O comandante do olho de vidro começava a perguntar-se se teria sido prudente deixar que o irmão do traidor vivesse para ganhar aquele nível de proeza, ou se não deviam ter acabado com a sua raça na hora em que Aioros se tinha revelado.

Saga, por sua vez, assistia maravilhado. Sabia que Aiolia tinha sido marcado como tendo o potencial de se tornar um dos doze cavaleiros de ouro pelo antigo Sacerdote Shion, mas julgava que tal poder se tivesse dissipado com a falta de treino ou que os anos passados sem um mestre que o guiasse tivessem feito com que Aiolia perdesse o controlo necessário para aceder ao seu cosmo. Agora, via que tinha estado redondamente enganado.

Nenhum dos dois guerreiros ainda usara um ataque para lá do físico, mas cada vez que Aiolia se movia, Saga quase que podia perceber um rasto dourado que ficava para trás. O seu cosmos borbulhava sob a superfície determinada do pequeno, e de cada vez que o rosto do leonino se virado na sua direcção, o Sacerdote conseguia ver como os olhos do aprendiz sem mestre fervilhavam. Não era uma força selvagem, a que o rapaz sentia; era capaz de perceber que Aiolia tinha-a perfeitamente sob o seu controlo. Bastava ele querer, que tal força seria libertada para destruir os seus inimigos, e Antilia, por mais dotado que fosse, seria incapaz de resistir a esse poder arrasador quando tal acontecesse.

Aiolia continuava a tentar libertar-se de Antilia, mas este não lhe dava uma pausa para respirar. Se desse um salto para recuar, logo o outro daria um ainda maior para o apanhar por trás e era inútil tentar avassalá-lo com os seus ataques físicos, pois eram sempre aplacadas por uma das guardas que protegiam o corpo de Antilia.

Era chegada a altura de mudar de estratégia.

Procurou dentro de si mesmo por aquela energia única aos cavaleiros, e sentiu-a avivar-se de imediato. Viu os olhos de Antilia arregalarem-se quando um leve brilho dourado envolveu o seu corpo e permitiu que os seus ataques se tornassem cada vez mais e mais rápidos. O aluno de Gigars inflamou o seu cosmo também para contra-atacar, mas depressa se tornou óbvio que não possuía destreza suficiente para acompanhar o ritmo imposto por Aiolia.

As protecções à volta dos seus antebraços, ombros, peito, cabeça e joelhos deixaram de ser suficientes para conter a fúria do inimigo, e gradualmente os ataques começaram a penetrar as suas defesas. Quando a placa que protegia o seu peito se desfez, Antilia sentiu as costelas a fracturarem-se e foi projectado para trás como resultado do poder que se massificava na ponta dos punhos de Aiolia.

Quando se tentou levantar, gemeu de dor e teve de se voltar rapidamente para cuspir o sangue que o ameaçava sufocar.

Vendo o sangue, o público rapidamente se calou. Se dantes tinham estado surpreendidos, agora estavam receosos. Aqueles que não sabiam o suficiente sobre o poder do cosmos julgaram que a queda de Antilia face a Aiolia e a maneira como o rapaz mais pequeno brilhava com uma aura dourada era surpreendente; já os restantes eram capazes de ver que algo de extraordinário se estava a passar diante dos seus olhos.

Face ao silêncio que recaíra sobre o coliseu inteiro e face ao facto que Antilia ainda estava no chão, Saga rapidamente aproveitou a oportunidade para se levantar da sua cadeira e fazer um anúncio.

― Está encontrado o vencedor; este combate terminou ― disse imperiosamente, a sua voz chegando com facilidade ao outro lado do coliseu. Gigars foi para o lado do seu aluno e deu-lhe uma mão para se levantar, enquanto Aiolia se endireitou imediatamente numa postura de respeito perante o Sacerdote. ― Ambos lutaram destemidamente e com honra, mas apenas um pode levar esta armadura. Antilia: hoje provaste a tua bravura mais uma vez. Nomeio-te agora o novo cavaleiro de bronze. Ajoelha-te para receber a tua armadura e fazer o teu juramento!

Praticamente todos estavam incrédulos com a declaração do Sacerdote, mas nenhum mais que Aiolia. Sentia que este golpe era muito mais duro de suportar do que o que Antilia lhe desferira no início do combate.

Todos os seus sonhos se desvaneciam em fumo.

Parte IV...

fic: prova de fogo, fandom: saint seiya, char: saga, char: aiolia

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