Apr 05, 2009 03:05
Never thought you'd make me perspire
Never thought I'd do you the same
As gravações foram muito agitadas. A banda repetiu as mesmas cenas um cem número de vezes, mas, para Gerard, a impressão é que tudo não havia durado nem cinco minutos. Naquele momento, ele se sentiu mais alto do que jamais estivera, onde nunca havia sequer sonhado em chegar. Aquela música, aquele vídeo... aquele filme. Era tudo muito surpreendente e ao mesmo tempo muito merecido, e havia deixado em Gerard uma sensação de poder inigualável.
Ainda mais quando, nos intervalos entre uma ou outra cena, as pessoas vinham lhe perguntar sobre quando seria lançado o próximo álbum ou quando eles recomeçariam a maratona de shows. Nessas ocasiões, Gerard se sentia querido e necessário, mas apenas respondia um “logo” que, se por um lado carregava a incerteza da data, por outro trazia também embutida a certeza que refletia sua própria vontade.
Os outros pareceram se divertir bastante. Bob reclamou dos vários tombos que o haviam obrigado a cair, mas essa foi apenas parte da diversão que, claro, não teria sido completa se não fosse por ele.
Frank estava em seu elemento, como sempre. Se jogando no chão, escalando a bateria do Bob, dando as mais divertidas idéias. Excitado, Gerard lembrou dos vários momentos onde quis parar a gravação naquele exato instante para apenas abraçar seu menino. Apertar o corpo menor junto ao seu, sentir o cheiro da colônia dele impregnar-se em sua pele e ouvir aquela risada gostosa e cristalina em seu ouvido.
E por isso que em seu quarto de hotel, ainda tomado pelas sensações que sua outra personalidade lhe trouxe, Gerard agradeceu pelas gravações terem terminado. Naquele momento, ele não saberia dizer por quanto tempo mais resistiria à sua vontade por Frank. A fome de sua persona por aquele menino. Mas os deuses não pareciam muito dispostos a dar por encerrado aquele assunto, pois logo foram ouvidas batidas na porta.
Never thought I'd have to retire
Never thought I have to abstain
Era Frank, que entrava no quarto sem esperar resposta. Ainda vestia o figurino do vídeo, o que lhe dava um ar de criança encrenqueira, ao mesmo tempo que lhe envolvia em uma atmosfera de excitação e perigo. O mais velho prendeu a respiração sem nem perceber. Andando poucos passos, o guitarrista apoiou o corpo nas costas de um sofá da cor laranja, disposto em frente à parede onde Gerard estava encostado, fumando um cigarro.
- Foi incrível, não foi? - o mais novo perguntou, após um curto, mas brilhante, sorriso.
- Foi sim. Você estava impossível, já te disseram? Você sabe que foi por sua causa e por causa da sua língua que tivemos que gravar aquela cena mais de cinco vezes, não sabe?
- Nãooooo, não - Frank respondeu tal qual um moleque pego em uma travessura, com o dedo em riste. - Eu não fiz nada. Tivemos que regravar a cena por causa das risadas de vocês, e por causa do palavrão do Bob da primeira vez, claro. Aquele maluco.
- Não sei por que, mas acho que seu pé, não você obviamente, teve algo a ver com isso.
Frank respondeu à insinuação com uma expressão chocada, nitidamente mais canastrona que as usadas em novelas mexicanas. Logo essa expressão se transformou em risos, o que levou Gerard a rir também. Em segundos, o quarto se encheu de sons de gargalhadas que foram gradualmente diminuindo, até se transformarem em ruídos de sorrisos. Após retomar seu fôlego e lançando um olhar carinhoso para Gerard, Frank retomou a conversa.
- Nem tivemos tempo de conversar ainda. Quero saber como vai a Lindsey.
- Ah, ótima! Os enjôos duraram pouco, sabe? Lógico que eu sabia que ela seria forte nessa hora, quer dizer, ela logo estava animada de novo e...
Logo o som de risadas encheu de novo o quarto de hotel, o que levou Gerard a franzir suas sobrancelhas em direção ao menor.
- Você fica engraçado quando fala dela e do bebê. Seus olhos ganham um brilho bonito, e você fica com essa cara de babão. - novas risadas, dessa vez compartilhadas pelos dois homens. - E aquele seu medo? Ainda pensa naquilo?
- Não, quer dizer, não sei. Ainda tenho medo de não ser um bom pai, eu... fiz tanta merda na minha vida, você sabe.
- Fica frio, Gerard. Se concentra no que você é agora, e no que você vai ser em relação ao seu filho. Todo mundo comete erros, não é? Tenho certeza que ele entenderá todos eles. Só vou achar engraçado quando ele vir você em cenas como as de hoje. Cara, você estava possuído! - Frank completou com uma risada curta.
Apagando seu cigarro em um cinzeiro depositado na mesa próxima, Gerard completou o raciocínio que ele achava ser o de Frank, após soltar um suspiro:
- Me pergunto se um filho seu passaria por isso. Quer dizer... acho que não. Você é tão autêntico, é engraçado, divertido e sincero tanto em frente às câmeras quanto longe delas. Você não tem medo de dizer o que pensa nunca. Isso é apenas quem você é. Me pergunto como educar meu filho sendo tão sombrio e mesquinho como sou, às vezes. Digo... e se ele não aprender nada de bom comigo? E se ele não gostar da pessoa que sou no palco, se ele sentir vergonha? E o pior: se ele preferir essa outra pessoa e não gostar de quem sou de verdade?
- De novo com essa história, Gerard? - Frank respondeu com um semblante sério, que pareceu tão deslocado naquele rosto de garoto, mas que ao mesmo tempo lhe caiu tão bem. - Você sabe o que eu acho dessa história que você conta sobre ser outra pessoa de vez em quando, não sabe? Você é o que é, Gerard, sempre. Você só fica mais desinibido no palco, ou mais retraído quando se aproxima de alguma fã mais exagerada, mas isso não é obra de nenhuma outra personalidade. Você precisa aprender a conviver com seus defeitos, cara, e se esforçar para que eles não machuquem outras pessoas. E sem colocar a culpa em outra personalidade, como a maioria de nós fazemos.
Gerard absorveu as palavras maduras de Frank maravilhado, como sempre ficava quando tinham essas conversas. Quem era o menino, agora?
Mas alheio aos pensamentos de Gerard, Frank continuou sua fala, dessa vez surpreendentemente de modo mais tímido e em um tom mais baixo:
- Você esquece de ver que tem qualidades também, Gee. Sabe, eu fico admirado como você consegue fazer tantas coisas ao mesmo tempo, e todas elas tão bem como você faz. Eu acho que você até tem o direito de se sentir meio metido de vez em quando por que, cara...você é incrível. E eu acho que seu filho vai ter você como um herói, sabe? Assim... assim como eu tenho.
Apesar do mais novo ter dito a última frase praticamente em um sussurro, ela saiu suficientemente alta para que Gerard ouvisse. Na verdade, Gerard sentiu como se as palavras tivessem sido gritadas em seu ouvido.
Eles não saberiam dizer quem havia dado o primeiro passo. Só sabiam ou sentiam que, após um curto silêncio que de maneira nenhuma fora constrangedor, ambos estavam envolvidos em um beijo no centro daquele quarto de hotel. A princípio, ele não passou de uma forte pressão nos lábios, já que as mãos de Gerard, dispostas uma de cada lado do rosto do mais novo não permitiram sua movimentação, como se temessem que, se afrouxassem o aperto, o menino fugisse.
Mas essa nunca foi a intenção de Frank Suas mãos, que por um instante pareceram tomar vida própria, se encaminharam famintas até a cintura do vocalista, provando ao outro sua quase dolorosa vontade de ficar. Nem que fosse por só mais alguns minutos, ambos presos nesse mundo particular que logo teria que ser desfeito.
E foi esse pensamento que fez Gerard se entregar ainda mais ao beijo, com uma sofreguidão doentia. Mesmo quando a necessidade de respirar se fazia presente o mais velho recusava a se afastar. Nesses momentos, ele aproveitava a diferença de altura entre os dois para tombar a cabeça de Frank para trás, expondo aquele pescoço que ele devorava com prazer. Seu fôlego voltava da maneira mais doce, e logo ele começava tudo de novo. Ele poderia perder dias nesse jogo.
Aos poucos o ímpeto do beijo foi diminuindo. Gerard, ofegante, passou a pontuar o rosto de Frank com pequenos beijos curtos, desde o queixo, passando pelo nariz perfeito e chegando aos olhos e testa. Logo, esses beijos passaram a ser apenas um leve roçar de lábios do mais velho, que passeavam por todo o rosto do pequeno moreno, os olhos de ambos firmemente fechados nessa hora. E foi nesse instante que as mãos de Gerard, lentas, abandonaram o rosto do seu garoto para repousarem preguiçosas ao lado de seu corpo. Percebendo que o momento havia chegado ao fim, Frank se afastou dando um passo para trás. Mas suas mãos, traiçoeiras, continuaram impondo sua vontade: o guitarrista mal percebeu que seus dedos se agarravam tão fortemente às laterais da camiseta do mais alto, a ponto de deixarem os nós de seus dedos quase brancos com o esforço.
E foi nessa posição que eles deram início àquele diálogo mudo, cujo desdobramento e final ambos conheciam decor. Frank sabia, olhando naqueles olhos verdes que tanto lhe encantavam, que bastava uma palavra sua para que Gerard desistisse de tudo por sua causa. E Gerard conseguia ler com nitidez, naqueles lindos olhos cor-de-chocolate, o desejo que assolava seu pequeno. Mas sabia também que o menino jamais se perdoaria se, por culpa dele, aquelas vontades fossem levadas adiante. Frank era lindo demais, era bom demais, era dono de uma perfeição que não deveria ser maculada pela culpa. Havia muitos sentimentos em jogo agora e Gerard sabia que ninguém, além deles, merecia sofrer por suas escolhas de um passado não tão distante. Ele logo seria pai, e rezava internamente para que Frank logo pudesse gozar de uma dádiva tão grande quanto a sua.
Frank assistiu em silêncio o diálogo interno que Gerard travava e logo percebeu o seu final. Concordando com o veredicto ele se afastou devagar, suas mãos soltando vagarosamente a camiseta do outro, deslizando pela sua cintura até alcançarem as mãos do maior. De repente, essas mesmas mãos pareceram ser a coisa mais interessante que Frank já havia visto na vida, pois ele soltou uma delas para se dedicar integralmente - com toda a sua atenção, suas duas mãos, seus olhos e seu coração - a apenas uma das mãos do homem mais velho. E enquanto o mais novo, de cabeça baixa, brincava com os dedos de Gerard, o vocalista se distraiu analisando todas as nuances de seu pequeno que ele conseguia vislumbrar: seus cabelos, os longos cílios que pareciam brincar com o ar em volta de sua pele, seu nariz tão perfeito, seus lábios. Mas logo sua contemplação muda foi interrompida por um fio de voz, que pareceu não pertencer ao mais baixo:
- Gee?
- Hum?
- Vamos mesmo voltar logo? Digo, à estrada?
Gerard sabia o que estava implícito naquela pergunta, feita no mesmo tom de uma criança que pergunta se o Natal vai demorar mais a chegar: já que “a vida real” havia levado os dois homens a caminhos tão diferentes, eles sempre teriam as turnês. Eles sempre teriam aquelas demonstrações publicas de afeto, eles sempre teriam o show. Enfim, eles sempre teriam aquele mundo particular que era só deles. Frank, assim como ele próprio, percebeu que era melhor viver aquela doce ilusão de tempos em tempos do que não ter mais nada.
- Sim, meu pequeno. Prometo que vamos voltar logo.
E assim, soltando a mão do mais velho e dando mais um daqueles seus brilhantes sorrisos, Frank se virou e deixou aquele quarto de hotel, com seu andar cadenciado, tão característico. Sozinho, Gerard percebeu que seu guitarrista havia errado e se surpreendeu ao notar que aquela conclusão era totalmente inédita em sua vida, desde que o conhecera.
Gerard assumia sim mais de uma persona. Senão, de que outro modo ele poderia agora seguir com sua vida sem lembrar a cada maldito instante do que ocorrera naquele quarto de hotel? De que modo ele poderia agora beijar a sua esposa, a quem ele também dedicava um carinho imenso, sem fazer comparações estúpidas que só serviriam para destruir sua vida? Não, não havia como. Ele teria que assumir uma outra personalidade mais adulta, mais centrada, menos sonhadora. Mas no fim Gerard percebeu, com um sorriso, que estava mesmo ferrado: ele poderia ser várias pessoas, mas todas elas, inexoravelmente, estavam fadadas a amar Frank Iero.
You are the one
[frerard],
[fic]