Transmogrify

Mar 14, 2014 19:47

Title: No name yet. Part 2.
Fandom: Spider-man. (Spider-man Fairy Tales).
Pairing: Venom/Peter Parker.
Table and prompt: Table A-B-C. #55 Transmogrify.
Summary: -
Word count: 4.000.
Rating: PG.
Warnings: It's in Portuguese. Character death.
Disclaimer: I don't own the characters.
Status: Incomplete.

Estava anoitecendo rapidamente, as luzes das estrelas e lua cheia não sendo suficientes para iluminar o caminho perfeitamente, mas Peter não se importou. Ele apenas continuou correndo.

A maioria das pessoas já estava dentro de suas próprias casas, protegidas contra o frio e a escuridão, não percebendo o garoto de capa vermelha cruzando a praça até chegar no muro de madeira.

Peter conhecia aquele local como a palma de sua mão. Ele sabia como atravessar a barreira sem esforços, usando uma passagem secreta que poucos tinham conhecimento. Em dias normais o garoto a usaria apenas para poder caminhar pela floresta e subir nas árvores sem ser incomodado, naquele momento o muro apenas a angústia e a horrível sensação de aperto em seu peito.

Em questão de minutos Parker estava do lado de fora, correndo em direção aparente, mal conseguindo enxergar com todas as lágrimas que nublavam sua visão. Os pulmões ardiam, o frio fazia seus lábios rosados racharem e Peter sequer ligava para os barulhos ao seu redor. Ele apenas continuou correndo.

Então, quando o cansaço venceu e a dor fora demais, o garoto parou, se apoiando no tronco de uma árvore para tentar respirar.

Ele deslizou até o chão, limpando as lágrimas com certa raiva, mas estava bem mais calmo do que antes.
Peter sentia falta de seus pais.

Todos os dias ele se perguntava onde estavam, o que estariam fazendo. Imaginava se estavam felizes, imaginava se eles estariam se divertindo, imaginava se eles pensavam no filho que deixaram para trás.

Podia ser imaturidade e até infantilidade, mas Peter só conseguia pensar que os dois lhe esqueceram naquela vila no meio do nada por não terem condições de lhe criar, fossem estas econômicas ou psicológicas, lhe deixando nas mãos de Ben e May.

Claro que o castanho gostava de seus tios, eles eram pessoas amáveis e lhe criaram, mas, por vezes, isso não era o suficiente para preencher o vazio no coração do garoto.

Peter ficou sentado entre as raízes da árvore por longos minutos, se acalmando, deixando o frio que antecedia o inverno gelar seu sangue.

Ele puxou o capuz e escondeu o rosto entre as pernas, tão absolvido em seu próprio mundo que não notou o par de olhos brancos lhe observando de não muito longe.

O tempo foi avançando e Parker sentiu a necessidade de voltar para casa. Verdade que tiveram uma discussão, mas isso não era motivo para deixar seus tios preocupados.

Ele se levantou, arrumando a capa ao redor do corpo, ainda alheio aos olhos brancos que seguiam cada um de seus movimentos.

Com passos curtos e pesarosos, Peter começou a marcha de volta à vila, sentindo os pés quase dormentes. O inverno daquele ano com certeza seria muito rigoroso.

Da distância em que se encontrava no momento, já era possível enxergar parte do muro da cidade, bem como os lampiões que ajudavam a lua a iluminar a área próxima aos portões. Foi por isso que o castanho viu um homem caído no solo, ensopado em uma poça de sangue, ao redor um grupo de pessoas o olhavam horrorizadas, algumas tentando ajudar, outras apenas curiosas.

Não era possível escutar o que diziam, mas Peter sentiu uma terrível opressão no peito, como um mal pressentimento.

Sem perceber, o castanho começou a correr em direção ao grupo, só parando ao estar a poucos metros de distância.

Seu estômago gelou.

“Uncle Ben!”

O garoto berrou com tanto desespero que diversas pessoas olharam em sua direção, o vendo se aproximar o mais rápido possível, se ajoelhando ao lado do ensaguentado homem que lutava para respirar.

“Uncle Ben, p-please” - e Peter não sabia sequer o que estava pedindo enquanto segurava a mão do outro, deixando as lágrimas caírem livres por seu rosto.

Havia uma terrível marca de garras no peito de Ben, tão profunda que o sangue escapava do corpo já pálido, levando embora o brilho dos olhos escuros do tio do castanho.

Peter não sabia o que fazer. Ele sabia que o outro estava morrendo, ele sabia e ainda assim não sabia o que fazer, não tinha o que fazer.

“P-pete...” - Ben tossiu, apertando os dedos finos e delicados de seu sobrinho com o resto de força que lhe sobrava - “I-I... L-love you-- Stay--S-tay away fr-om...” - o castanho sentiu o coração apertar e a respiração prender, porque Ben não estava mais se mexendo.

“U-uncle Ben--?” - ele murmurou, se recusando a acreditar no que via - “Uncle Ben, please, don’t--“ - Peter se inclinou sobre o outro, procurando por algum sinal de vida, qualquer um.

Não havia nada.

“No! Please uncle--“ - ele engasgava nas próprias palavras por culpa dos soluços que queriam escapar de seus lábios - “I-I love you too, please!”

Gwen se aproximou, segurando Peter pelos ombros e o puxando para longe do corpo, tentando não se afetar pelo grito desesperado do Parker e o jeito que ele tentava alcançar o cadáver de Ben.

Dois homens levantaram o corpo do chão e o levaram de volta ao vilarejo, deixando para trás uma trilha de sangue.

A loira abraçou o garoto, sussurrando doces palavras de conforto em seu ouvido enquanto acariciava seus sedosos cabelos.

Peter simplesmente fechou os olhos e segurou a menina como se sua vida dependesse disso, chorando e tremendo, a usando como uma espécie de apoio.

Harry e Mary Jane se aproximaram depois de um tempo, ajudando a loira a conduzir Peter de volta ao vilarejo, onde os muros de madeira os protegeria de qualquer coisa.

Eles precisavam levá-lo de volta para casa e contar o que havia acontecido para May. Não seria nada fácil.

No céu a lua cheia brilhava, testemunhando aquela noite sangrenta onde todos do vilarejo andavam apressados para todos os lados.

O vento frio soprou, trazendo o primeiro floco de neve do inverno.

xxx
Peter se sentia... Estranho.

Como uma casca vazia, um boneco de pano. Sem sentimentos, sem vontades, sem pensamentos, sem vida.

Ele fazia o que lhe falavam por puro instinto, caminhando pelo chão de terra sem realmente sentí-lo e segurando a mão de May como se a mulher fosse um guia. E talvez ela fosse, pois apesar de terrível situação, ela continuava agindo como uma adulta responsável, cuidando do funeral e enterro de Ben, apoiando Peter como podia.

Um buraco havia sido aberto no cemitério do vilarejo e agora abrigava o corpo de Ben Parker.

Peter quis chorar ao vê-lo sendo colocado dentro da vala, mas ele não conseguia se lembrar de como havia reagido. Sua mente parecia ter apagado toda e qualquer lembrança.

May apertou seus dedos delicadamente, lhe puxando para fora do cemitério em direção à vila.

“We’re going to see the other man” - ela murmurou, discretamente limpando uma lágrima.

Peter sentiu sua mente despertar um pouco, raciocinando o que ela havia lhe dito.

“...What?” - a palavra saiu tão baixa e suave que sua tia sequer ouviu.

Eles atravessaram a praça e foram até uma das primeiras casas, onde ao menos três pessoas estavam conversando na varanda.

“Mrs. Parker, Peter” - Gwen, ao vê-los, se aproximou rapidamente, a preocupação escrita em seu rosto - “How are you?” - a pergunta foi genérica, mas ela olhou o garoto diretamente.

“We’ll be okay, thanks” - May disse com um triste sorriso, se virando para Peter e abaixando de leve até conseguir plantar um beijo na cabeça do garoto - “I’ll be inside” - e ela lhe deixou na companhia de Gwen.

“I’m really sorry Peter...” - a loira comentou, querendo segurar a mão do castanho, mas não tendo coragem.

Ante o silêncio do castanho, Gwen mordeu o lábio inferior.

“I... My father said he’ll look for who did it” - ela murmurou, arrumando o cabelo que esvoaçava com o vento.

“Your father knows who did it?” - Peter perguntou sem pensar, fixando os olhos impossivelmente azuis na garota.

“No, but...” - ela pensou se deveria mesmo revelar tal informação ao Parker mas, para quê esconder? Uma hora ou outra ele ficaria sabendo - “The wounds on his chest... My father thinks it was a wolf”

Peter prestou atenção nas palavras, sua mente voltando às memórias da noite passada: sangue, só havia sangue para todo lugar que ele olhasse. O garoto estremeceu.

“A wolf coulnd’t do it...” - ele murmurou com a voz baixa e quebrada, desviando o olhar da face da garota.

“Not a normal one, but a big wolf--“ - e então um alto grito fora ouvido de dentro da casa, fazendo os dois se virarem assustados para a porta.

Houve uma comoção e mais gritos puderam ser ouvidos, como se alguém estivesse sofrendo imensamente, se contorcendo de dor.

Peter abriu a porta sem pensar, seus instintos de sempre querer ajudar aflorando.

Dentro, três mulheres corriam de um lado para o outro. Uma segurando uma vasilha com água, as outras cortando raízes que eram usadas para aliviar a dor, mas nenhuma se atrevia a se aproximar demais do homem que parecia delirar em cima da cama.

Era um jovem rapaz de no máximo vinte e cinco anos. Seus cabelos ruivos pareciam um incêndio, o corpo musculoso suando sem controle enquanto ele se remexia, gemendo e gritando, lutando para respirar.

Uma coberta tampava da cintura para baixo, mas era possível ver bandagens já sujas de sangue ao redor da barriga, cobrindo o que deveria ser um horrendo machucado.

Os olhos desfocados do homem começaram a se fechar quando a dor aliviou, permitindo que seus músculos relaxassem novamente, embora ele continuasse tremendo.

Era óbvio que ele estava delirando por causa da febre alta.

May se aproximou com um pedaço de pano molhado e o passou pela testa do homem, deixando a vasilha ao lado da cama enquanto ia ajudar as outras mulheres a produzir algum remédio que ajudaria a acabar com o sofrimento do ruivo.

Peter viu como Gwen também se aproximava e logo as quatro se juntaram para trocar as bandagens que agora continham um tom carmim.

O castanho parou perto da cabeça do ruivo, não querendo ver o ferimento de sua barriga, preferindo se concentrar no rosto pálido do homem, notando como ele parecia estar desmaiado, apesar da tremedeira.

Peter pegou o pano que sua tia havia usado antes e molhou na água limpa, apertando para sair o excesso antes de levar os dedos devagar até a testa suada.

Antes que pudesse tocar a pele do outro, porém, em um rápido movimento o homem segurou seu pulso, abrindo os olhos e os fixando em seu rosto, repentinamente parando de tremer.

Peter gelou, se vendo preso não só pela força do olhar do ruivo, mas também pela que ele aplicava em seu pulso.

Medo lavou seu interior e logo o castanho começou a tentar se afastar, as pupilas fixas na expressão quase lunática do outro, no modo que ele mexia os lábios, desenhando uma frase muda.

“Peter?” - May o chamou ao ver que algo de estranho acontecia, fazendo com que o ruivo finalmente lhe soltasse. Para alguém debilitado e ferido, ele era insanamente forte.

“I-I-- Excuse me aunt May” - e sem olhar para trás o garoto se retirou, voltando para a praça, lutando para esquecer a expressão perturbadora no rosto daquele homem que claramente havia sido atacado pela mesma coisa que levou a vida de seu tio.

Peter caminhou rapidamente pelo solo que começava a ser encoberto por neve, rumando para casa, mas sua mente continuava a voltar no que havia acabado de acontecer.

Seu pulso parecia arder, seu coração batia sem controle dentro do peito e os lábios do ruivo permaneciam em sua memória, desenhando uma frase:

You look beautiful in red

xxx
May apertou os dedos de seu sobrinho com um pouco mais de força, querendo lhe dar apoio enquanto o  líder do vilarejo, J. J. Jameson, esbravejava para todos os moradores que a morte de Ben havia sido horrível e inaceitável.

A viúva concordava com ele, realmente, mas achou totalmente desnecessário o jeito como ele descrevia o corpo. Ao seu lado Peter estava em silêncio, encolhido dentro da capa vermelha.

Todos estavam reunidos dentro da taverna para discutir o assunto importante sobre os ataques ocorridos na noite passada, onde a vida de Ben havia sido tirada por uma enorme criatura e um homem, até então desconhecido, jazia deitado em uma cama lutando contra a morte por culpa de um enorme ferimento na barriga.

A respiração de Peter falhou por um segundo ao se lembrar do ruivo, mas os gritos indignados de Jameson foram suficientes para lhe trazer de volta à realidade. Ainda assim o garoto segurou o próprio pulso, onde a pele parecia formigar.

De acordo com o homem, o melhor plano (e o único que tinham), era ir caçar o lobo que havia feito aqueles ataques, afinal, ele poderia muito bem voltar e continuar sua carnificina, não dando mais paz ao vilarejo.

“And how can you be so sure that it was a wolf?” - Otto Octavius perguntou de repente, olhando o outro com uma expressão indiferente, acomodado em sua cadeira.

“Because my son, John, this village brilliant doctor, analyzed the corpse -no offense Mrs. Parker- and said the wound is very much alike one caused by a wolf” - ele explicou ao outro, deixando claro o quão orgulhoso era por seu filho ser o único médico da vila.

“But we still can’t be so sure” - Otto continuou, tão impassível quanto antes - “It could be something different, more atrocious”

“What’re you trying to imply?” - Jameson perdeu o pouco de paciência que tinha, falando com o homem enquanto quase rosnava.

“That we need more evidence”

“My son saw the body!” - dessa vez ele se esqueceu de pedir desculpas à May, falando como se com o parecer de John todas as dúvidas deveriam ter desaparecido - “And Stacy saw it too” - Jameson adicionou, fazendo metade dos presentes encararem o homem loiro no canto da taverna.

Ele se remexeu, dizendo que realmente havia visto os ferimentos não só de Ben, mas também os do misterioso ruivo, afirmando que se pareciam muito com os causados por um lobo, mas que poderiam perfeitamente ter vindo de outro animal.

Jameson se contentou com tais palavras para exclamar que todos deveriam se organizar em uma caçada em busca do lobo.

Havia uma caverna não muito longe da vila, onde as paredes eram úmidas e a luz do sol não alcançava os túneis. Era ali onde supostamente os lobos moravam. Era ali que Jameson queria levar todos os homens e acabar de uma vez por todas com a fera que provavelmente voltaria em busca de mais sangue.

Ao mesmo tempo que muitos concordaram com o plano, indignados com o ataque sofrido na noite passada, outros acharam uma decisão precipitada, afinal, Otto tinha razão; eles não tinham prova de que fora um lobo, sem contar que uma caçada em um local afastado como aquela caverna era muito arriscado, ainda mais no começo do inverno, onde a neve começava a cobrir florestas e montanhas.

Peter e sua tia ficaram sentados apenas ouvindo a discussão, escutando as terríveis, porém com um fundo de verdade, palavras de J. J. Jameson; claro que havia o risco do lobo (ou fosse lá qual criatura) atacar novamente.

Quando a reunião finalmente chegou ao fim, o sol estava prestes a se pôr e dar lugar à lua cheia.

“Just a minute, my dear” - May murmurou, deixando o garoto perto do poço enquanto ia conversar com uma mulher de cabelos negros.

Peter tinha fracas lembranças dela, mas, pelo que sabia, ela se chamava Frances e vivia sozinha, não sendo uma pessoa exatamente popular no vilarejo. Muitos diziam que ela viera da cidade grande depois de largar a vida como prostituta, mas o castanho não confiava muito em tais palavras, afinal, eram apenas fofocas.

O garoto suspirou, olhando ao redor enquanto esperava sua tia. Foi então que seus olhos se encontraram com os de Eddie Brock.

O rapaz estava vindo em sua direção. Peter arrumou a postura e não desviou o olhar, apesar do estranho desconforto que estava sentindo.

“Hey” - ele começou, ganhando um cumprimento por parte do castanho - “I’m sorry for what happened yesterday...” - era visível como Eddie queria dizer as coisas certas, de repente parecendo sem graça na frente de Peter.

O castanho sentiu o coração se aquecer um pouco ao perceber o esforço do loiro. Por um instante foi como se eles nunca tivessem se afastado.

“...Thank you” - o garoto respondeu, procurando por alguma coisa que pudesse ser dita para prolongar a conversa; ele não queria que o Brock se afastasse tão rápido. Suas preces silenciosas foram ouvidas quando Eddie começou a dizer que Deus agora guardava a alma de Ben, fazendo um sincero e religioso discurso, no entanto, o que chamou sua atenção fora o enorme corte no braço do outro. Era uma longa linha vermelha parcialmente encoberta pela blusa que ele usava.

Peter arregalou os olhos, segurando o pulso de Eddie e o puxando de leve em sua direção.

“What happened to you?” - fora possível então perceber que mais cortes acompanhavam aquele, como se algo ou alguém tivesse arranhado o loiro.

Eddie puxou o braço para longe de Peter com violência, assustando o Parker.

“Nothing. Forget it” - e com a expressão mais sombria que o castanho já o havia visto fazer, Brock se afastou, pisando duro no chão.

Peter quis gritar para ele esperar, mas então alguém tocou em seu ombro, lhe puxando de leve para trás. Era sua tia, avisando que já poderiam ir.

Com os olhos grudados nas costas de Eddie, Peter o viu desaparecer ao virar à esquerda em um beco.

“--She’s a very strong woman” - May dizia, não percebendo que seu sobrinho não estava prestando atenção até então - “Taking care of that poor man... Can you imagine that she didn’t want any help?” - ela caminhava pela neve, fazendo seu vestido negro esvoaçar.

Peter virou a cabeça a tempo de ver Frances entrando na mesma casa onde aquele ruivo estava. Ligar os fatos não foi difícil: ela estava tomando conta dele.

Os Parker passaram pelo cemitério para prestar mais condolências à alma de Ben. May insistiu que ficaria mais tempo, parada na frente da humilde lápide.

Com um aviso para ela não demorar, Peter voltou para casa, achando que aquele dia fora repleto de acontecimentos, tantos que o castanho sequer sabia qual analisar primeiro e nem se teria a coragem e energia suficientes para tal.

Ao entrar na sala, ele fechou a porta, abrindo as cortinas da janela para conseguir ter uma visão ampla da única estrada que dava acesso à fachada da casa, tornando possível saber o momento exato em May estaria chegando. A verdade era que Peter estava começando a se arrepender de tê-la deixado no cemitério, apesar dela mesma ter pedido um tempo à sós com Ben.

Com um suspiro, o castanho retirou os sapatos e a capa, rumando para a cozinha e começando a preparar o jantar, cortando e lavando os legumes, temperando a carne e esquentando as panelas.

Aquela noite seria muito gelada, se as nuvens e a neve caindo podiam ser consideradas como pistas.

De tempos em tempos Peter olhava pela janela, não vendo sinal de sua tia ou ninguém se aproximando. Talvez ele realmente devesse ir atrás de May, e se algo tivesse acontecido? E se--

As batidas na porta o fizeram sair de seus próprios pensamentos e virar a cabeça rapidamente, chegando a quase ficar zonzo.

Como podia ter alguém ali? Tinha checado o caminho a menos de cinco minutos e seria impossível para alguém normal atravessar aquela estrada em tão pouco tempo.

Com  a faca na mão e a desconfiança escapando por cada poro de seu ser, Peter se posicionou atrás da porta, segurando a maçaneta devagar, respirando fundo enquanto traçava um plano.

Mais batidas foram ouvidas e, num rápido movimento, o Parker abriu a porta e segurou sua arma improvisada com força, pronto para atacar.

“Harry?” - ele soltou o nome ao reconhecer a face do ruivo, arregalando os olhos e escondendo a faca atrás das costas - “Why-- What are you doing here?” - como você chegou aqui sem que eu te visse?

“Can I come in?” - ele perguntou, percebendo ter assustado Peter.

Quando o castanho se afastou, o Osborn entrou e fechou a porta, limpando as botas no tapete e as retirando.

“I wanted to see you” - ele disse, vendo a expressão de meia surpresa de seu amigo.

“Oh... I” - ele engoliu em seco, dando um passo em direção à cozinha - “I’m fine, don’t need to worry”

“Pete” - Harold lhe encarou - “I know you. Don’t need to hide anything from me”

E era verdade; Peter inclusive se sentiu mal por estar tentando despistar e negar a ajuda do maior.

“I’m sorry, I just, you know...” - o castanho voltou para a cozinha e colocou a faca no balcão, não se virando para checar a reação do Osborn ao ver que estava armado - “It’s hard... I--“

“Yeah, I know” - o Parker ouviu a voz do outro perto de seu ouvido - “I lost someone who I loved too” - Peter se lembrava da mãe de Harry, uma senhora muito alegre, vítima de uma doença horrível - “You’re scared, it’s normal... Everyone in the village is”

O Parker se virou na direção de seu amigo, o encarando com os olhos brilhantes pelas lágrimas que ele se recusava a deixar cair. Harry, ao encarar seu rosto, engoliu saliva com dificuldade, respirando com um pouco mais de força.

“Look...” - ele então estendeu os dedos gélidos até conseguir segurar ambas as mãos de Peter - “I can protect you. You and your aunt”

“What?” - foi a única coisa que Peter conseguiu pensar em falar, quer dizer, não que Harry fosse fraco ou não tivesse habilidades de combate, ele só era extremamente covarde e egoísta.

Desde que se conheciam, o ruivo morria de medo de histórias inocentes de terror; Peter só podia imaginar o pânico que ele sentia agora, depois dos ataques e a clara ameaça que a vila estava passando. E eram raros os momentos que o Osborn pensava nas outras pessoas; ele costumava colocar as suas e as vontades de seu pai primeiro.

Pensando bem, essa não era a primeira vez que Harold tentava lhe proteger; ele vinha fazendo isso a anos.

O ruivo apertou as delicadas mãos entre seus dedos, demonstrando o nervosismo que sentia. Ele se remexeu um pouco, escolhendo as palavras certas e, de uma só vez, começou a falar:

“So, my father has a house in the city and we’re planning to stay there in the next few months, it’s very save and nobody could hurt you or your aunt--“

“Harr” - Peter disse de maneira suave, interrompendo o adolescente - “Thank you, really, but I can’t... And I’m sure aunt May wouldn’t want too”

“Why not?” - o ruivo parecia genuinamente confuso - “Pete, you can’t stay here, there’s some freak monster that--“

“And what about the others? Mary Jane? Gwen Stacy? Eddie? Everyone?” - a mandíbula do Osborn se fechou com força e os olhos esverdeados perderam certo brilho, mas isso não intimidou o castanho.

“...You know how I feel about it” - e o Parker realmente sabia; Harry não se importava com os outros.

Peter abaixou os olhos e acariciou as costas das mãos de seu melhor amigo.

“I understand you... I don’t want aunt May in danger, but I also can’t leave this place knowing that I’m running away”

“It’s not like that!” - Harry exclamou, por alguns instantes soando bravo, mas logo relaxando, encarando o chão entre os pés de Peter, ainda segurando as mãos do garoto. Suspirou - “...I can see your point” - ele então sorriu um pouco, como se estivesse se lembrando de algo - “Always worrying about everyone...” - Harry então levou uma das mãos até a bochecha rosada do Parker, acariciando a pele macia e quente - “You’re my best friend Pete, I can’t leave you behind” - e o castanho sabia que ele estava sendo extremamente sincero. Com mais um suspiro e uma mordida no lábio inferior, o ruivo pareceu ter uma ótima ideia - “I’ll talk to my father again, okay?”

Peter sorriu, inclinando o rosto na direção da mão do maior de maneira quase que inconsciente.

“I don’t think your father will take the whole village to his house”

“For a genius you’re very silly” - o ruivo brincou, acariciando uma mecha de cabelo que estava entre seus dedos e a bochecha de Peter - “It’s other kind of plan, one more... Offensive”- ele então se inclinou, colando os lábios na testa do castanho em um carinhoso beijo - “Hey, weren’t you cooking something?”

“Oh no!” - o Parker rapidamente se afastou, indo checar as panelas no fogo, abrindo as tampas para ver se algum alimento havia queimado. Por sorte nenhum havia passado do ponto.

Harry deu um pequeno assovio, se aproximando devagar do castanho e olhando por cima do ombro do mesmo - “Almost” - ele disse, vendo a fumaça saindo dos alimentos.

“Hey, weren’t you supposed to help me?”

“Am I? I can’t remember saying it” - e ali estava aquele sorriso de canto, o que conseguia irritar e encantar Peter ao mesmo tempo.

“Tsk, just wash those to me” - o castanho indicou algumas folhas de repolho no canto do balcão, não conseguindo evitar o sorriso em seus lábios.

Depois de alguns minutos May chegou, encontrando os dois na cozinha, trabalhando em conjunto para preparar o jantar.

Devido à presença de Harry, foi mais fácil se esquecer da falta que Ben fazia. Ao menos, Peter só foi pensar no assunto quando estava devidamente coberto em sua cama, tentando dormir.

complete, lover100, peter/venom

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