Cá está a minha parte da barganha :} Rachel, muitas felicidades pra você. Espero que goste dessa fanfic~ <3 É pequena, mas foi feita de coração e tá cheia de amor pra dar. O Blue é um dos meus personagens favoritos, então foi um gosto escrever isso aqui :3 I hope you have fun~
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Bedtime story
Personagens: Agent Blue, Agent Purple.
Disclaimer: Nenhum dos personagens citados aqui me pertencem, mas gosto de brincar com eles de vez em quando.
Pra Chel.
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Robin não lembra quando foi a primeira vez que se viram. Sério. Ele lhe disse que já sentaram uma ou duas vezes ao lado um do outro no ônibus, no Ensino Fundamental. E depois, no primeiro ano do Ensino Médio, disse que Robin lhe emprestou um guardanapo quando o único dele caiu no chão do refeitório. Ele disse isso, mas Robin nunca conseguiu lembrar-se de nenhum desses momentos. E olha que ele tentou bastante. E ainda tenta, anos depois que ficou sabendo disso, mas realmente não acha que sua memória está ficando melhor com o passar do tempo.
Então, não. Essa não é uma história sobre como os dois se conheceram. É mais uma história de como Robin o conheceu.
Começou quando ele decidiu que ia pular do último andar do prédio da escola.
Ah, disso ele se lembra.
Robin se lembra de como o vento estava frio. Frio mesmo, de fazer os dentes baterem e a nuca se arrepiar. Ele lembra de ter se arrependido de não ter colocado um cachecol antes de sair de casa, mas também lembra de ter pensado que não ia mais precisar de um, de qualquer forma.
Ele lembra que já estava escuro, e que não tinha lua nenhuma no céu. Lembra de ter pensado que devia ter escolhido um dia melhor; que nos mangás, a lua sempre está cheia, enorme e alta lá no céu quando algum acontecimento misterioso ou marcante está prestes a acontecer.
Mas daí ele lembrou que não fazia diferença pra ninguém se ele estava lá em cima, e de repente fez muito sentido não ter lua nenhuma.
Robin lembra que era uma sexta-feira. Que James tinha ido para uma festa do outro lado da cidade, que o mordomo tinha ido visitar a mãe doente e que não sabia onde os pais tinham ido já que os dois nunca estavam em casa para que ele soubesse por onde andavam, em primeiro lugar. Lembra de ter passado pela vizinha quanto estava saindo e que sorriu pra ela antes de descer a rua em direção ao colégio.
Ele se lembra de ter tentado escrever algo legal e profundo. Fez cinco cartas de despedida diferentes e amassou todas elas porque tudo ficava meio ruim. No final, só fez um desenho todo tremido de uns unicórnios e umas estrelinhas e escreveu, lá no canto da página, “Robin”. Perguntou-se se no lugar a que ele iria teriam unicórnios e estrelas e enfiou o desenho dentro do bolso de traz da calça.
Ele também se lembra de quando finalmente se levantou e ficou de pé bem na beirada da cobertura, e quando se arrepiou todo, estava convencido de que era o frio. Ele se lembra do coração batendo forte dentro do peito, da leve vertigem que se seguiu, dos cabelos caindo nos olhos, e de finalmente ter olhado pra baixo.
E foi nessa parte da história que Robin o conheceu. Ele lembra direitinho disso.
De como olhou pra baixo e viu o menino olhando pra cima, direto pra ele, cabelos azuis, um livro na mão e um cachecol em volta do pescoço. Lembra de como ficou tenso por um momento, de como pensou que o garoto ia dar uma olhada meio exasperada pra ele, que ele tentaria dizer alguma coisa; dizer que Robin não podia fazer aquilo; não com ele mesmo, mas com ele. Não perto dele. Não perto de um cidadão de bem, que não deveria ter que lidar com a pressão moral de ter que fazer alguma coisa, de impedi-lo.
E Robin também se lembra de como o menino nem disse nada. De como só ficou olhando, lá debaixo, olhar apático e boca fechada, e de como isso quase o fez querer rir, do mesmo jeito que quis fazer quando pensou que era melhor morrer sem lua nenhuma. Ele se lembra de como uma parte dele desejou que aquele garoto dissesse alguma coisa, do quanto o pensamento pareceu meio patético até para ele, e depois pensou que era como o cachecol que se esqueceu de colocar em volta do pescoço. Algo que queria e que nem iria precisar.
Ele se lembra do momento em que tomou coragem, repetiu para si mesmo que aquela era sua última chance de sentir algum orgulho de si mesmo, de não ser um chorão medroso. Ele lembra com muita clareza de quando ajeitou a mochila, com todas as coisas que queria levar consigo nas costas, e deu um passo à frente, até metade do seu pé direito não ter nada em que se apoiar a não ser vazio.
Robin se lembra de ainda estar olhando pra baixo quando deu o segundo passo.
E que naquele instante o menino largou o livro no chão e estendeu os braços, olhando para ele sem dizer nada, num gesto tão lento e automático que parecia até que ele não pensaria em fazer qualquer outra coisa.
Daí os joelhos de Robin tremeram. A vista ficou assim, meio borrada, a mente ficou em branco, e ele ficou lá, parado, pés meio no piso, meio no nada, olhando pro garoto de cabelo azul feito idiota.
Ele lembra que o menino lá embaixo não baixou os braços até vê-lo recuar, com joelhos trêmulos e nariz escorrendo.
Robin lembra que o último pensamento que teve naquela noite foi que seria muito injusto morrer sem lua cheia no céu, e começou a chorar.