(no subject)

Oct 01, 2006 17:16

"Amar também é bom: pois o amor é difícil. Ter amor, de uma pessoa por outra, talvez seja a coisa mais difícil que nos foi dada, a mais extrema, a derradeira prova e provação, o trabalho para o qual qualquer outro trabalho é apenas uma preparação. Por isso as pessoas jovens, iniciantes em tudo ainda não podem amar: precisam aprender o amor. com todo o seu ser, com todas as forças reunidas em seu coração solitário, receoso e acelerado, os jovens precisam aprender a amar. Mas o tempo de aprendizado é sempre um longo período de exclusão, de modo que o amor é por muito tempo, ao longo da vida, solidão, isolamento intenso e profundo para quem ama. A princípio o amor não é nada do que se chama ser absorvido, entregar-se e se unir com uma outra pessoa. (Pois o que seria uma união do que não é esclarecido, do inacabado, do desordenado?) O amor contitui uma importante sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo, tornar-se um mundo, tornar-se um um mundo para si mesmo por causa de uma outra pessoa; é uma grande exigência para o indivíduo, uma exigência irrestrita, algo que o destaca e o convoca para longe.(...)
É aí que os jovens erram com freqüência, gravemente: pelo fato de eles (faz parte da sua natureza não ter paciência alguma) se atirarem uns para os outros quando o amor vem, derramando-se da maneira como são, em todo o seu desgoverno, na desordem, na confusão... Mas o que deve resultar disso? O que a vida deve fazer desse acúmulo de equívocos a que eles chamam de união e gostariam de chamar de sua felicidade? E o futuro? Então cada um se perde por causa do outro e perde o outro e muitos outros que ainda desejariam surgir. (...) Nenhuma região da experiência humana é tão munida de convenções quanto essa:(...) refúgios de todos os tipos foram criados pela compreensão comum, pois ela estava inclinada a considerar a vida amorosa como um prazer, por isso tinha de torná-la fácil, barata, inofensiva e segura, como são os prazeres públicos.
(...)
Os jovens tomam atitudes a partir de um desamparo comum e, quandp querem evitar de boa vontade a convenção que se anuncia (por exemplo o casamento), caem nos braçoes de uma solução menos explícita, mas igualmente convencional e mortal. Pois tudo o que existe em torno deles é convenção, mesmo que; onde quer que se trate de uma comunhão precipitada e turva, todas as atitudes são convencionais.Toda relação resultante de tal mistura possui a sua convenção, mesmo que seja pouco usual(ou seja, imoral em sentido comum). Até a separação seria um passo convencional, uma decisão ocasional e impessoal sem força e sem frutos."

Rainer Maria Rilke, em Cartas a um Jovem Poeta
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