(no subject)

Aug 23, 2006 02:57

Diante da bacia de pedra, sobre uma base bem construída, a água parada a observava. Olhos tristes de uma sobre a outra: dela sobre a água, os olhos d'água sobre ela. Líquido mais tenso que a manhã de pássaros que escorria pelo céu parecia ser. Manhã fria de cristal.
Os músculos rijos, um pouco trêmulos e os olhos fundos na pequna pscina do chafariz inerte. Alguém que é nova demais para esquecer suas noites frustradas, sempre seguidas dessas manhãs um pouco cinzas e intocadas. Sua vida imaculada outra vez. Essas horas derradeiras de começo faziam na esperar algo. Era esperança ilusória, similar àquela que se sente ao aguardar o próximo capítulo de uma novela que se gosta mas que já não é tão boa. Que vpa melhorar. Para não entrar em desespero, ela espera.
Alguém que é já velha e sozinha demais para fazer o que sempre propôs a si mesma. Sair, dirigir sua vida inteira para fora disso e ficar ao lado do rio que leva todos, arraigada e plena. Mas ela já seguiu tanto com o rio que agora o desapego le causaria todos os tipos de sensações ruins, as quais ela prefere evitar. Na verdade não se importava mais com isso, nem tinha interesse em ser sequer.
Mãos nos bolsos da jaqueta preta. Numa das mãos tocava e sentia moedas. Algum troco de alguma coisa podre que ela havia comprado para lhe corroer toda, certamente. Retirou uma moeda qualquer do bolso com a mão direita, contemplou o círculo prateado e brilhante e depois novamente para água. Alguns pássaros fizeram seus barulhos matinais enquanto ela fechava os olhos para, num único gesto, lançar à água parada o metal. Manteve o braço estendido ainda por uns instantes, ouviu o peso chegar ao fundo, tocar a pedra. Talvez estivesse ficando descomedida, totalmente impulsiva ou louca mesmo.
Caminhava agora para casa, vagarosamente, vagarosamente, realizando seu desejo.
E seu desejo era que a espera não acabasse.

10.06.06
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