Título: Desespero sobre algo que deve ser esquecido
Fandom: Supernatural (CW)
Spoilers: Não há.
Rating: PG-13
Avisos: Casto incesto. Dean e Sam possuem respectivamente, 20 e 16 anos. Citação de um filme antigo dirigido por Fred F. Sears, e da música Stairway to Heaven da banda Led Zeppelin.
Par/Personagem(ns): Sam/Dean
Disclaimer: Apenas uma ficção que não tem a intuição de benefício capitalista ou maldizer da série e personagens, só entretenimento.
Sumário: Sam entra em desespero no dia seguinte à reprise de Terra Contra os Discos Voadores (1956).
Desespero sobre algo que deve ser esquecido
- Aconteceu alguma coisa com você?
Sam absorveu aquela pergunta com irritação. Franziu os lábios tentando refrear qualquer resposta, mas havia um furor em sua mente e estômago que o arremetiam a querer disparar o que estava entalado contra o irmão. Era um fato que ele arquitetara e repensara, que não o deixara prestar atenção em nada que havia acontecido na escola e que o fazia querer não voltar para casa. (Não casa como essas que famílias normais estavam acostumadas, mas casa num sentido de... Num sentido próprio de... Sequer Samuel sabia como poderia nomear de casa um quarto barato de hotel em que John largara seus dois filhos mais uma vez para investigar outra ridícula caçada). Sam bufou, virando o rosto para a janela do Impala que recebia trilhas e mais trilhas de gotas d’água que caiam docemente do céu, querendo mais que tudo sumir como se tratasse de fumaça.
- Posso saber o que houve?... Foi algo na escola? Algum idiota te irritou? Sam?
Sam resolveu mais uma vez não abrir a boca e tentar acalmar a quantidade de célula em polvorosa que se agitava em seus nervos. O som do toca fitas prosseguiu sem interrupção, a não ser pelo vai e vem dos pára-brisas e da roda ao escorregar com leveza pelo tapete molhado de asfalto, não havia um ruído sequer dentro daquele automóvel por severos minutos. Até Dean resolver se manifestar com a voz calma e compreensiva.
- Sam... Eu não sou vidente. Eu não posso adivinhar o porquê de você estar emburrado.
Os olhos de Sam continuaram pregados no vidro e no borrão em que se tornava a paisagem conforme Dean acelerava o Impala. A única vontade que tinha era a de gritar e esbofetear ou esfolar o irmão mais velho. O maldito ainda se fazia de sonso depois de tudo o que havia acontecido, colocava uma máscara de bom samaritano e continuava como se o mundo fraterno dos dois continuasse rodando. A circulação sanguinea de Sam aumentou consideravelmente, o fazendo alcançar um tom rosado e quente na face. Mais dois minutos e qualquer outra palavra do irmão e Sam o esganaria e se tornaria o único filho de John Winchester.
No entanto, ao invés de falar qualquer outra coisa, Dean manobrou o Impala para a esquerda e diminuiu a velocidade ao encontrar o acostamento, estacionando o carro e abaixando o volume da guitarra que ainda ecoava no antigo toca fitas. Sam ignorou o suspiro de Dean e o fato de que estavam os dois parados numa estrada em meio à chuva, numa tarde de sexta-feira.
- Vamos lá Sammy, eu tenho todo o tempo do mundo pra escutar o quê você tem, o porquê de você estar irritado, o que aconteceu, o que você sente... Só comece irmãozinho.
Sam sentiu a musculatura de seus lábios e nariz tremerem. Havia todo um ácido corrosivo sendo derramado em todo o seu corpo, e Samuel virou de súbito para aquele que era seu irmão mais velho:
- Você. É só você Dean. Você.
Dean franziu as sobrancelhas numa incompreensão e inocência, numa expressão que só causara maior irritação no Winchester mais novo. Era uma expressão que na opinião de Sam, Dean fazia questão de usá-la quando queria tirá-lo do sério; claro que essa era uma das outras inúmeras.
- O que eu fiz? - Samuel o olhou com uma inescrupulosa descrença nesta sentença, (Sam só queria entender como alguém poderia ser tão sonso quanto seu irmão mais velho). - Ou... O que eu não fiz?
Dean endureceu as linhas do rosto, linhas jovens que marcavam seus vinte anos e experiências que custava ao próprio acreditar que outros com a sua idade pudesse já ter passado. Mas, foi esse endurecimento no rosto (como se realmente Dean não entendesse sobre o assunto) que enlouquecera definitivamente Sam. Este abrira a boca e uma verborréia escapuliu de seus finos lábios:
- Você é um maldito sonso! Como pode ter a coragem de se comportar como um imbecil depois daquilo? Dean... Você... Você pensa... Você pensa que foi uma diversãozinha? Você acha que eu sou mais uma das suas diversõezinhas? - Sam gesticulava exasperado com seus braços longos e dedos, apontando a todo o momento para o rosto de Dean, se remexendo incontáveis vezes no próprio banco e engolindo impulsos para não arrancar os olhos verdes que o encaravam nulos. - Onde você arrumou capacidade de ir me buscar naquela porra de escola hoje? Eu disse que não queria te ver! Mas foi uma ignorância minha acreditar que você iria ser sensato. Pelo menos, achei que você tivesse vergonha na cara seu imbecil. Dean... Você é...
- Sammy...? - Dean pareceu inquisitivo ao chamar aquele apelido e com uma inteira falta de saber o quê se fazer com a explosão do irmão, Dean deixou escapulir a primeira coisa que lhe veio à mente. - Eu estou agindo da mesma forma que sempre agi, não vai ser a merda de um beijo que vai me fazer querer correr para a terra do nunca e ficar distante de você porque -
- A merda de um beijo? Pra você foi ‘a merda de um beijo’?... - Samuel ficou de costas para o irmão na tentativa de destravar o pino da porta do Impala. Mas como se mudasse de idéia como o passar de um segundo, Sam estava olhando novamente para o rosto tenso do irmão e com o próprio tingido pela fúria, desbravou outras palavras: - Quer saber Dean? Você está sendo um puto hipócrita.
-... Hipócrita? Qual é Sam... O que você...? O que você espera que eu diga? - Dean inclinou o corpo para o lado, olhando diretamente nos olhos de Sam, relacionando toda aquela explosão em puro temor. Ou remorso? Com a mente em certo circuito, Dean resolveu apelar para o lado sarcástico e cínico da sua personalidade: - Quer que eu faça alguma declaração sobre como são macios os lábios do meu irmão mais novo?
- Cala a boca. Cala a boca. - Sam estava entrando em colapso. A cabeça rondava em um congestionado de idéias e repulsão e fatos que o faziam ficar doente. Abaixou os olhos, passando as mãos pelos cabelos de fios médios, os repuxando. - Tinha que haver uma merda maior pra foder com a nossa vida Dean? Tinha?!
- Sammy...
Num instante, um Samuel repleto de lágrimas fervorosas era a visão de Dean. Um Sam reduzido a condição do desespero ao se deparar com um beco sem saída e de paredes escuras, ou com a vontade miserável de se reduzir nos braços de alguém que possuía o laço eterno do sangue. Foi então que o choro aumentara de grau, e Sam correu para enxugar as trilhas molhadas de seus olhos com a manga do agasalho azul na tentativa de se esconder do irmão mais velho.
Dean estava quebrado com a quebra de Sam. Talvez, ainda mais quebrado pelo fato de que esse desespero fora desencadeado por um desejo, ação inconseqüente e boba na noite anterior enquanto ambos os irmãos assistiam a reprise consecutiva de Terra Contra os Discos Voadores. Enquanto tediosamente um OVNI despencava de um céu em preto e branco e cinza, Dean parecia achar doce o sorriso inocente do irmão ou eram os lábios que lhe pareciam doces de inocência em alta escala. Dean relembrou a sensação e a textura daquele casto beijo compartilhado em frente à luz de um televisor, enquanto o pai roncava sonoramente na cama ao fundo do quarto.
- P-Porque... Is-so a-...conteceu... co-com a gen...te? - Sam fungou o nariz irritado e agora entupido devido ao choro. As lágrimas continuavam a despontar sem medida correta, só rolavam e rolavam uma após a outra, cruas e nuas, declarando todo o horror que engolia a vida do Winchester mais novo.
- Calma, calma - Dean abraçou como pode o corpo de dezesseis anos de Sam, sendo apenas capaz de querer afugentar e engolir aquelas lágrimas dos olhos do irmão. - Isso foi uma besteira. Você sabe que foi... Não vai acontecer mais Sammy... O tempo vai rolar e a gente vai esquecer o que aconteceu - Dean agarrou com mais afinco o corpo do irmão que tremulava vagarosamente conforme os soluços se interpunham na respiração que beijava a pele do pescoço. Encostando os lábios próximos ao ouvido de Sam, Dean sussurrou com meiguice, confundindo sua voz com o som da chuva que aumentava e retumbava no Impala. - Nós vamos enterrar isso... Não chora Sammy... Estou te prometendo que não vai acontecer de novo. Juro por tudo quanto for entidade, juro até por Deus Sammy. Só para de chorar, por favor.
Enquanto Dean acalentava e acariciava o rosto e cabelos do desesperado e jovem Samuel, um momento impreciso dançou ao lado da música que ainda bailava quase inaudível no toca fitas. Era a vibração suave dos pingos da chuva e de Stairway to Heaven - uma canção que descrevia a subida pela escada do paraíso com um doce dedilhar de guitarra e acordes certos.