Título: Cumplicidade Fraterna
Fandom: Supernatural (CW)
Spoilers: Revelações que abrangem todas as temporadas até o capítulo atual da quinta.
Rating: PG-17
Avisos: Intuição a relação homossexual e incestuosa, drama.
Par/Personagem(ns): Sam/Dean
Disclaimer: Apenas uma ficção que não tem a intuição de benefício capitalista ou maldizer da série e personagens, só entretenimento.
Sumário: Dean divaga entre pensamentos e sobre o quê estava fazendo com o irmão mais novo, enquanto um mundo dorme.
Cumplicidade Fraterna
Dean estava cansado quando suas costas deslizaram uma centésima vez pelo linho vagabundo da cama do hotel de beira de estrada.
Cansado da vida que levava, das atribuições de vidas alheias sobre seus ombros e de um destino que fora simplesmente largado em suas mãos sem qualquer questionamento. Tinha todas as feições da insatisfação e do temor por ter que viver como um soldado, uma mera peça de um complicado jogo que não tinha a idéia de por que estar participando e - simplesmente era indispensável em seu movimento. Indispensável movimento para o mundo, nações e malditos micróbios que existiriam dali em diante por decisão sua. Dean carregava em suas mãos uma massa de concreto pesadíssima enquanto seus ombros curvavam devido o fardo que esmagava cada tendão de músculo e causavam sufoco e apreensão. Quem agüentaria mais do quê este poderia nessa realidade diferente em que vivia? Iria se tornar uma camisinha para o arcanjo trepar com o diabo se vacilasse e caísse da ínfima corda ao realizar um contrato às cegas. Um contrato que só requeria seu corpo e um glorioso sim. E deveria ser um sim igual ao que dissera para seu irmão mais novo, minutos atrás. Um sim pesaroso e definitivo que não abria linhas para o verbo desistir.
Dean realmente não se lembrava quando negara algo do fundo do seu coração para Sam. Tentava agora, no meio de um calor indescritível, recordar de um momento em que dissera ‘não’ ao irmão, poderia até mesmo recordar de uma e outra cena de birras fraternais, mas nada, não havia nada que Dean não cedesse pelo irmão. Mesmo nesse instante, quando Dean recorria em ter entre suas mãos a carne quente e dura dos ombros do irmão na tentativa de fazê-lo escorregar com calma e maior precisão sobre seu corpo, Dean não havia sido capaz de simplesmente manter Sam afastado ou gritar algo que sugerisse negatividade.
Afinal, após a briga naquele quarto em que Dean encontrara Sam com Ruby (e havia ainda as palavras duras e secas do irmão rodeando sua mente), a separação dolorosa que Dean mais uma vez experimentava ao ver Sam lhe dando as costas e se entregando por livre arbítrio a um maldito demônio, o desespero por tentar um contato com seu irmão quando fora preso por uma corja de anjos e o ressurgimento de Lúcifer; tudo que Dean almejava era ter a certeza que Sam não lhe escaparia novamente dos seus braços como se fosse água. E se a única coisa que precisava fazer era ceder a simples caprichos do mais novo, Dean não hesitaria.
Dean virou o pescoço, encontrando um eco entre os cabelos do irmão e o quarto abraçado em uma penumbra sólida. Sentia Sam salientar cada vez mais o roce que castigava seu ventre e o arrematava pela sombra da parcial loucura, mas entre períodos curtos, fugazes como podem ser no raciocínio, Dean parecia vagar distante. Distante do pecado que acometia com o irmão, distante das paredes cobertas por um papel granulado e azulado. Voltando para anos passados, Dean poderia ver seu irmão ainda pequeno sobre seus braços, uma criança pintada de rosa com uma chupeta verde na boca enquanto chamava a primeira e a última letra do seu nome de uma única vez. Era uma viagem ao tempo que o fazia perguntar a si mesmo se alguma vez enquanto garoto, tinha a idéia de que faria o que fazia agora. Se estaria sem uma roupa sequer no corpo sendo pressionado inconseqüentes vezes sobre um colchão duro por pernas e peito e quadril de Sam.
Era difícil explicar a qualquer pessoa consciente e sã sobre o que vivia. Dean sabia disso mais do que ninguém poderia saber. Sabia que o quê era anormal, estranho, pecaminoso, diferente, absurdo, inexistente, nojento, doente e louco estava presente em sua vida de uma forma que jamais estivera na vida de mais nenhum. E talvez, movido por tal certeza como esta que Dean elevou as pernas e enlaçou a cintura firme do irmão, prendendo-a ao cruzar ambos os tornozelos. Uma atitude definitiva de entrega e aceitação, até mesmo um sinal de submissão e derrota. Dean já havia falhado tantas vezes diante de Sam que não enxergou claramente uma razão para não falhar também com uma mera falta de domínio como essa. E assim, ainda mais difuso e incorporado ao irmão mais novo, imitando por assim dizer aqueles errados e certos ritmos, sentiu o coração falhar aos poucos ao ouvir o de Sam desregulado e pressionado internamente com o seu. Era a ligação fraterna que só a partilha de genes e sangue é capaz de realizar.
Quando Dean desceu ao inferno, o único pensamento que carcomia o cérebro era Sam, Sammy, Samuel. E a culpa de não saber como seu irmão mais novo se virou sozinho no mundo. No entanto, parecia que era verdadeiramente erro seu Sam ter seguido por onde seguiu e ter encontrado satisfação em Ruby, poderes psíquicos e perseguir Lilith. Se, talvez pudesse ter encontrado o irmão um pouco mais cedo naquela vila abandonada onde Sam fora apunhalado (evitando que aquela faca encontrasse a pele de Sam), talvez não havendo pacto e um ano apenas de vida não teria o primeiro selo do Apocalipse quebrado e Sam não faria o que tinha feito. Porque Dean estaria completamente vivo (e não insuficientemente vivo como hoje) para cuidar de seu irmãozinho. E quem sabe, só por coincidência destes ‘e se’, eles dois, Dean e Samuel Winchester seriam apenas mais dois caçadores neste mundo?
Dean recolheu um sussurro ínfimo dos lábios de Sam, sugando com toda a delicadeza e calma o sabor e a textura de uma boca tão conhecida e preenchida por um mesmo código genético. Era um mudo sinalizador para que tudo que haviam começado - os ritmos, os toques, a aceleração, o vagar, a sonoridade - estava encontrando um rumo final. Dean estava consciente do peso e dos olhos verde palha do irmão que se tornavam maiores e intensos com cada passar de minuto que era sonoramente avisado pelo relógio digital decorando a mesinha entre as duas camas de solteiro. A luz vermelha daquele objeto era a única claridade perceptível no cômodo e Dean, ao sentir que juntamente com o irmão encontrava certo eixo no mundo e uma pressão correta em um tempo exato, desviou a face afogueada para o visor do relógio. E ali vagou pelas entranhas dos números marcados e que designavam uma madrugada assim como a lua fazia.
Havia tanto sacrifício na família Winchester tanto quanto dor e lágrimas afugentadas e massacradas, reprimidas. Dean tinha perdido a mãe ainda quando criança e o pai, John se fora no exato momento em que o cheiro da pele queimada de Mary inundara a casa. Por mais que a dor da morte dos pais havia ruído Dean, quando Sam caiu sem vida em seus braços, Dean pensou que a beira do precipício estava lhe dando boas vindas. E na forma como o corpo de Sam caiu sobre o seu agora, mole, desfeito e pegajoso, enfiou na goela de Dean toda a dor que sentira ao ter Sam morto em seus braços.
Por mais que Dean não quisesse, o cansaço o perseguia cotidianamente. Foi numa mistura de dor física e abalo emocional que Dean deixou que fileiras de lágrimas deslizassem pela face. Eram gotas cálidas que quando atingiam seus lábios ganhavam o tão conhecido sabor salgado. Dean não fez esforço para refreá-las, era tal como uma tormenta no mar em plena ação. Ele só deixou que os olhos lavassem a si mesmo e a alma - a alma tentasse se aliviar do peso de alguma forma.
Dean ouviu Sam chamando. Sentiu Sam percorrer a trilha molhada com a ponta do dedo e descobrir que levava até seus olhos. Dean não ouviu mais nada, apenas sentiu. Sentiu seu irmão mais novo abraçá-lo da maneira que só Sam poderia fazer (de uma forma desajustada para braços e mãos longos). Então a escuridão o embalou em conjunto com a carícia muda de Sam e o apitar de minuto em minuto no relógio, Dean foi tragado dificultosamente pelas teias silenciosas do sono ao esquecer temporariamente de um mundo lá fora.