Será que o meu abraço chega aí?

Jul 08, 2008 10:33


O relógio já não bate como antigamente. Hoje os minutos correm ao sabor do vento e as horas derretem-se ao sol. Vejo umas fotografias, sorrio tristemente para o teu rosto, pisco-te o olho. Depois, viro costas e continuo com a minha vida mas já não da mesma maneira. Um pouco de mim ficou para trás ou para sempre mas não ficou certamente, aqui, fisicamente.
Gostavamos de fazer refeições juntos. Começava com política nacional entre aperitivos e acabava umas horas depois com um whisky, um café e a vida toda para falar. Para nós uma refeição era um preâmbulo para uma bela discussão sobre qualquer coisa. Normalmente culminava em provocações mútuas para ver quem se irritava primeiro. Era nesse momento que a minha mãe intervinha. Éramos parecidos, toda a gente o dizia. Parecidos fisicamente, parecidos, principalmente, emocionalmente. Ambos teimosos, ambos temperamentais. Demorámos anos a entendermo-nos mas quando o fizemos, ligámo-nos verdadeiramente como aço e titânio cosidos delicadamente ao nosso peito.
Morreste-me longe e pergunto-me frequentemente: será que o meu abraço chega aí?

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