May 01, 2007 18:32
Conseguem ver a luz?
Saio de casa. Tomo uma qualquer direcção. Ando sem destino. Vagueio. Deambulo. E então, começo a sonhar. Talvez não um sonho, mas sim um pesadelo. Não sei. Penso, imagino, sonho, reflicto. O que é o mundo?
Nas traseiras do meu prédio, olho para o chão, vejo um passarinho morto. Penso, coitadinho, se calhar foi pisado por algum rapaz nas suas correrias de criança. Volto a olhar, com mais atenção. Não o vejo lá. Desapareceu. Evaporou-se. Ilusão de óptica? Talvez. O nosso cérebro engana-nos muitas vezes.
Passo ao lado do Hospital do Barreiro. Vários idosos encontram-se numa dolorosa espera pelo autocarro. Será que estão a sofrer assim tanto? Não se diz que a dor é psicológica? E se a dor for apenas mais uma das mentiras do nosso cérebro? Ele não é estúpido, apesar de fingir que o é. O nosso cérebro é possivelmente a arma mais perigosa e mortífera alguma vez inventada. Mas, inventada por quem? Alguém teve que o criar.
Então recuo, na minha mente, não no meu percurso. O nosso cérebro engana-nos muitas vezes. Muitas vezes? Quem garante que não nos engana constantemente? Quem me confirmou que tudo o que vejo, cheiro, sinto e oiço é real? Além disso, o que é a realidade? Questiono-me. Interrogo-me. Respostas, ninguém mas dá. Portanto, procuro-as, absorvido no meu mundo, na minha cabeça.
Chego aos Casquilhos. Vejo um antigo amigo meu. Ele vê-me. Trocamos olhares. Não lhe falo. Estou demasiado absorvido por tudo o que me vai na cabeça. Ele também não me fala, talvez não me tenha reconhecido. Oiço vozes dentro de mim. Não sei de onde vêm. E continuo - E a morte? O que é a morte? Com todas estas perguntas em mente, tento tecer um raciocínio que responda a, pelo menos, algumas delas.
Diz-se que na morte a alma liberta-se do corpo. Será? Não acredito que seja tudo como o catolicismo e outras religiões o dizem, mas se sou racional, posso tentar fazer a minha própria teoria.
Há uma luz ao fundo do túnel, há uma saída para tudo. A morte pode ser essa saída, na minha opinião.
O nosso cérebro foi criado, de certeza, por alguém mentalmente mais desenvolvido. Criou-o à semelhança do seu próprio, possivelmente. Como tal, não querendo ser derrotado pela sua própria criação, retirou-lhe várias capacidades. Sabe-se que um humano normal, que conhecemos, consegue apenas utilizar aproximadamente 10% das capacidades do seu cérebro. Então, quais serão as capacidades dos restantes 90%? Talvez possuamos 10 sentidos, ao invés dos 5 reconhecidos mundialmente. Talvez sejamos capazes de fazer coisas com que fantasiamos desde os nossos primórdios, como voar, utilizar os tão conhecidos poderes telepáticos, entre outros. As possibilidades são infinitas. Existirá alguma hipótese de usarmos o nosso cérebro a 100%? Eu acredito que sim. Acredito que tudo o que conheço não exista. Acredito que os 10% do meu cérebro que trabalham sejam apenas a parte da criatividade, do sonho. Sim, acredito que estou a viver um sonho, que as pessoas que conheço não existem na realidade, mas sim que são apenas imagens criadas por mim. Acredito que vivo num mundo criado por mim, mas sem controlo do que se passa nele.
Passo os Casquilhos. Caminho pela ciclovia até à Quinta da Lomba. Olho a linda paisagem do Parque da Cidade. Crianças a brincar. Idosos a descansar. Jovens a namorar. Parecem todos bastante felizes. E continuo o meu pensamento. Camões, famoso poeta português, dizia "E aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando, / Cantando espalharei por toda a parte, / Se a tanto me ajudar o engenho e arte." (v.5-8, est.2 de Os Lusíadas). Será possível libertar-nos da lei da Morte física? E psíquica? O físico é algo que apenas interessa neste mundo, nesta "realidade" que todos conhecemos, logo, descarto-o. Acredito, no entanto, que a seja possível libertar-me da lei da Morte psíquica.
Pessoas à beira da morte física e psíquica afirmam terem estado num corredor escuro, com uma luz ao fundo. Acredito que essa é a saída do nosso estado de vegetais, desta "realidade", para um estado mais puro, espiritual, noutro mundo onde o físico não existe. É aí que pretendo chegar.
No entanto, não acredito que não existam pessoas nesta "realidade" que não saibam de tudo isto. Falo dos "donos do mundo", as grandes potências mundiais. Existem muitas substâncias proibidas em todo o mundo. Denominam-se, de forma comum, drogas. Eu chamo-lhes libertadores da alma. Ao consumir estas substâncias, entra-se num estado fora do normal, para um simples humano. Na minha opinião, estas substâncias ajudam o ser humano a chegar mais alto, ajudam a alma a libertar-se do corpo. Muitos, após terem consumido tornam-se dependentes. Querem saber mais sobre a realidade, não aguentam o mundo de mentiras em que vivem. Muitos chegam a ser denominados de "malucos" por afirmarem ver coisas que os outros não são capazes de ver. Eles vêm-nas porque são capazes de chegar a um estado mais próximo do espiritual, afastando-se do físico. Chegam mesmo a libertar-se de alguns sentidos, como o tacto, chegam a deixar de sentir dor física, chegam a deixar de ter gosto.
A morte, para mim, é a libertação de tudo. É o sair da prisão do meu corpo. No entanto, admito que gosto da "vida" que tenho neste mundo e que por enquanto não a quero trocar por nada. Penso em suicídio em alturas menos boas, mas os meus amigos apoiam-me e ajudam-me a pôr de lado essas ideias idiotas. Vou aproveitar o melhor desta vida e só depois partirei para a outra, para aproveitar também o melhor dela.
Olho melhor para o parque. Vejo o local onde supostamente gravei um filme no meu 9º ano. Será verdadeira, esta memória? Não sei. Penso. Reflicto. Mas não encontro respostas para isto. Talvez um dia...
Continuo a deambular. Chego à Quinta da Lomba. Passo em frente de onde tenho explicação de Ciências Físico-Químicas. Afinal não estava a vaguear sem destino. Liberto a minha mente destes meus pensamentos e entro no mundo da ciência. Não sei quando voltarei a estas reflexões.
Já conseguem ver a luz?
Psíquico,
Reflexões,
morte,
Diário,
filosofia